Gay, africano, mulheres, filho de cubano e descendente de indiano ganham protagonismo na gestão de Donald Trump
No decorrer de 2024, parte da imprensa de dentro e de fora dos Estados Unidos tentou emplacar a versão de que o mundo inteiro correria perigo caso Donald Trump voltasse ao comando da Casa Branca. Afinal, de acordo com os críticos (só para ficar em termos usados pelo norte-americano The New York Times e pelo francês Le Monde) Trump seria o representante máximo de problemas como machismo, homofobia, xenofobia e racismo. Em novembro de 2024, o republicano venceu de lavada a democrata Kamala Harris e a sua assumida pauta woke. Ao reassumir a Presidência dos EUA, ele formou o primeiro escalão de seu governo com destaque a representantes do que a esquerda dita “progressista” insiste em rotular como minorias. Desde 20 de janeiro, Washington D.C. passou a contar com um gay, um africano, mulheres, um filho de cubanos e um descendente de indianos em posições de comando.
O gay
Uma música marcou a campanha de Trump no ano passado: Y. M. C. A., do grupo Village People. Tornou-se comum o então candidato arriscar passos de dança ao som da canção, vista como símbolo da comunidade homossexual. Quinze dias depois de vencer a eleição, o republicano demonstrou que a relação com a comunidade LGBT iria além das festividades e anunciou: um gay passaria a comandar o Departamento de Tesouro, órgão equivalente em atribuições ao Ministério da Fazenda no Brasil. Assim, Scott Bessent assumiu a responsabilidade no governo norte-americano.
Scott Bessent é casado com outro homem há 14 anos e comanda o Departamento do Tesouro dos EUA | Foto: Divulgação/Treasury.gov
Bessent, de 62 anos, foi a escolha de Trump diante de seu histórico profissional — e não pelo fato de ser casado há 14 anos com o advogado John Freeman, com quem tem dois filhos adotivos. O mais novo secretário do Tesouro dos EUA — e primeiro homossexual assumido na função — é formado em ciências políticas pela Universidade Yale e trabalha desde a década de 1980 no mercado financeiro. Foi diretor do fundo controlado por George Soros, e visitou mais de 60 países a trabalho. Em 2015 criou a sua própria empresa de gestão de investimentos, a Key Square Capital Management. Antes de se tornar aliado de Trump, colaborou com o Partido Democrata e ajudou a arrecadar dinheiro para campanhas presidenciais de Al Gore, Barack Obama e Hillary Clinton.
O africano
Crítico do Estado inchado e com gastos desnecessários, Trump criou, neste início de seu segundo mandato, o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE). Para o comando do órgão, o escolhido foi Elon Musk, que, apesar de contar com nacionalidades norte-americana e canadense, nasceu em Pretória, na África do Sul.
Africano, Musk é empresário de sucesso nos mais diversificados setores da economia. Seu trabalho vai da indústria de carros elétricos (Tesla) à produção de satélites que fornecem acesso à internet (Starlink). Passa pela fabricação do foguete que dá ré (SpaceX) e pela compra de rede social para amplificar o direito à liberdade de expressão mundo afora (X). São projetos criativos que o colocam no topo da lista de homens mais ricos do mundo, com fortuna avaliada em US$ 400 bilhões – o equivalente a pouco mais de R$ 2,3 trilhões.
Elon Musk e Donald Trump, no Salão Oval da Casa Branca, em Washington, D.C., EUA (11/2/2025) | Foto: Reuters/Kevin Lamarque
Musk dá valor ao dinheiro. Tanto que, em um mês de trabalho à frente do DOGE, identificou que o governo do democrata Joe Biden destinou US$ 200 bilhões para o que classificou como “gastos inúteis” durante a pandemia e empenhou quase US$ 5 trilhões sem transparência. Além disso, o empresário ajudou a abrir a caixa-preta da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Revelou, por exemplo, que a USAID financiou faculdade para terrorista da Al-Qaeda e manteve organizações não governamentais com atuação no Brasil em sua folha de pagamento.
O descendente de indianos
Inicialmente, uma dupla estaria à frente do conselho do DOGE. Para trabalhar ao lado de Musk, Trump havia escolhido o empresário do setor de tecnologia Vivek Ramaswamy, filho de indianos. Ele chegou a ajudar na criação do órgão, mas desistiu de ter ocupação formal na estrutura da Casa Branca. Elogiado publicamente por Trump, Ramaswamy deve ser o candidato do Partido Republicano na disputa pelo governo de Ohio.
Vivek Ramaswamy, filho de indianos, é elogiado publicamente por Trump | Foto: Reprodução/Instagram/@vivekgramaswamy
“Vivek Ramaswamy vai concorrer ao cargo de governador do grande Estado de Ohio”, avisou Trump, em postagem na rede social Truth Social. “Ele tem algo especial. É jovem, forte e inteligente! Vivek também é uma pessoa muito boa, que realmente ama o nosso país. Ele será um grande governador.”
O filho de cubanos
Outro que serve como desmentido de que Trump seria contra estrangeiros é Marco Rubio. Filho de imigrantes cubanos que deixaram a ilha caribenha na década de 1950 (antes da implantação da ditadura comunista), Rubio assumiu como secretário de Estado. A 28/02/2025, 12:57 O governo das 'minorias' - Revista Oeste https://revistaoeste.com/revista/edicao-258/o-governo-das-minorias/ 5/12 função tem responsabilidade diplomática. São os olhos dos EUA, maior potência econômica e militar do planeta, para além das fronteiras.
Marco Rubio é filho de imigrantes cubanos e secretário de Estado dos EUA | Foto: Divulgação/State.gov
O republicano de origem latina tem histórico na política norteamericana. Durante oito anos, de 2000 a 2008, foi deputado estadual na Flórida, chegando a presidir a Câmara dos Representantes local. Antes de assumir o cargo de secretário de Estado, serviu como senador pela Flórida de 2011 a 2025. Na mais nova função, Rubio já marcou posição contra o terrorismo e regimes totalitários. Chamou a Coreia do Norte de país “delinquente” e firmou apoio aos opositores do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro. Avisou também que trabalhará para eliminar o grupo terrorista Hamas.
A mulher que faz história
A democracia norte-americana tem mais de 230 anos de história. Mesmo assim, nunca teve uma mulher como chefe de gabinete da Casa Branca. Situação que só mudou graças a Trump. Foi ele quem definiu Susie Wiles, coordenadora de sua vitoriosa campanha contra Kamala, como responsável pela função. Por cuidar da agenda presidencial e definir no dia a dia quem se encontra com o presidente da República, é reconhecida por ser a segunda mais importante de Washington D.C.
Donald Trump ao lado da primeira mulher da história a comandar o gabinete da Casa Branca, Susie Wiles | Foto: Reprodução/X/@susie57
Consultora política, Susie, de 67 anos, tem longa história de parceria com o Partido Republicano. Em 1980, integrou a equipe da campanha presidencial de Ronald Reagan, que venceu o então detentor do cargo, o democrata Jimmy Carter, de forma humilhante: 489 a 49 no Colégio Eleitoral. Ela também colaborou com lideranças republicanas espalhadas pelos Estados norte-americanos.
“É uma honra bem merecida ter Susie como a primeira mulher chefe de gabinete na história dos Estados Unidos.” (Donald Trump)
Susie, ao ser nomeada para o cargo, recebeu elogios do presidente. “É durona, inteligente, inovadora e é universalmente admirada e respeitada”, disse Trump. “Continuará trabalhando incansavelmente para tornar a América grande novamente. É uma honra bem merecida ter Susie como a primeira mulher chefe de gabinete na história dos Estados Unidos. Não tenho dúvidas de que ela deixará nosso país orgulhoso.” A jovem mãe
Susie não é a única mulher a ganhar protagonismo no atual governo dos EUA. Desde a posse de Trump, a secretária de imprensa da Casa Branca é Karoline Leavitt. Aos 27 anos, ela é casada com o empresário Nicholas Riccio, com quem teve o filho Nicholas Robert, hoje com 7 meses de vida.
Karoline Leavitt: mãe de um sorridente bebê e mulher mais jovem da história a chefiar a comunicação da Casa Branca | Foto: Reprodução/Instagram/@karolineleavitt
Formada em comunicação e ciência política, Karoline, que é a pessoa mais jovem da história a trabalhar como porta-voz da Casa Branca, foi estagiária do canal de TV Fox News. Durante o primeiro mandato de Trump, ela fez estágio como assessora de imprensa do governo e, posteriormente, trabalhou como redatora presidencial e secretáriaassistente de imprensa. Em 2022, candidatou-se ao cargo de deputada pelo primeiro distrito de New Hampshire, seu Estado natal. Não conseguiu se eleger, mas promoveu uma campanha que atraiu a atenção de Trump — que passou a ser o seu chefe direto em 20 de janeiro deste ano.
Trump supera Lula
Tachado de “machista” por boa parte da imprensa, do Partido Democrata norte-americano e pela esquerda mundial, Trump tem, em termos proporcionais, mais mulheres em seu primeiro escalão de governo do que a equipe do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. A contar secretarias, departamentos e agências, são 24 pessoas que respondem diretamente ao presidente dos EUA. Dessas, dez são mulheres.
Além de Susie e Karoline, o governo Trump conta com os trabalhos de Amy Gleason (administradora interina do DOGE e que atua em parceria com Musk), Brooke Rollins (Agricultura), Pam Bondi (procuradora-geral do Departamento de Justiça), Lori ChavezDeRemer (Trabalho), Linda McMahon (Educação), Kristi Noem (Segurança Interna), Tulsi Gabbard (Inteligência Nacional) e Elise Stefanik (representante dos EUA nas Nações Unidas).
Governo Trump tem mais mulheres em postos de comando do que o primeiro escalão do governo Lula | Foto: Reprodução/Instagram/@realdonaldtrump
Dos 39 ministérios do Brasil, nove têm uma mulher no comando — ou
seja, 23%, ante mais de 40% do governo dos EUA. A diferença vai além
de indicadores proporcionais. Enquanto Trump faz questão de elogiar
as mulheres com quem trabalha — Susie Wiles que o diga —, Lula as
demite e as troca por homens. Desde o início de seu atual mandato, o
petista demitiu Daniela do Waguinho (Turismo), Ana Moser (Esportes)
e Nísia Trindade (Saúde). Elas foram substituídas por Celso Sabino,
André Fufuca e Alexandre Padilha, respectivamente. A julgar pelos
fatos, não é Trump quem deveria ser chamado de machista.
Revista Oeste