quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Moro sofisma doação de Alberto Youssef para Alvaro Dias: 'Ninguém sabia quem era o doleiro'

 

Pré-candidato à Presidência pelo Podemos, Sergio Moro afirmou que 'ninguém sabia quem era o doleiro' na época das doações para campanhas eleitorais do aliado, em 1998. Foto: Denis Ferreira Neto/Estadão - 2/12/2021


O ex-juiz e pré-candidato à Presidência da República Sérgio Moro (Podemos) saiu em defesa de seu aliado, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), beneficiado por doação eleitoral do doleiro Alberto Youssef, investigado na Lava Jato. “Eu nem conhecia o senador. Ninguém sabia quem era Alberto Youssef na época (final dos anos 1990)”, disse. A declaração foi dada nesta quarta-feira, 29, durante entrevista à Rádio Capital FM, do Mato Grosso.

A doação foi divulgada pela Folha de S. Paulo. Segundo o jornal, Youssef ajudou a financiar uma das campanhas eleitorais de Dias, em 1998, na época em que o senador estava no PSDB. A doação no valor de R$ 21 mil (o equivalente a R$ 88 mil em valores atualizados) foi feita por meio de duas empresas do doleiro, um dos principais operadores identificados na Lava Jato.

O tema veio a tona em 2001 com o depoimento de ex-secretário da Fazenda de Maringá, Luiz Antônio Paolicchi, durante investigação sobre desvio de dinheiro da Prefeitura do município, episódio em que Youssef estava envolvido também. Segundo Paolicchi, a campanha do senador Alvaro ao Senado teria sido beneficiada com esse desvio.

Posteriormente, em 2015, Youssef admitiu em depoimento concedido à CPI da Petrobras que financiou parte de campanha de Dias com verba pública de Maringá. Dois anos depois, o doleiro foi condenado por envolvimento em desvios na prefeitura da cidade.

Procurado, o senador Alvaro Dias afirmou que o assunto é "velho" e que as denúncias de financiamento de campanha com dinheiro público foram arquivadas pelo Ministério Público do Paraná, em 2004, após a não confirmação dos fatos.

Operação Lava Jato

Moro afirmou à rádio que essas informações estão aparecendo porque “não se tem o que falar” sobre o seu trabalho no combate à corrupção e na liderança da Operação Lava Jato, defendendo sua atuação durante as investigações. 

Quanto à relação com o doleiro, Moro resumiu: “eu prendi ele duas vezes e, se eu não tivesse feito isso, ele nunca teria respondido pelos seus crimes”.

'Sabotagem' no governo Bolsonaro

Também em entrevista à emissora de Mato Grosso, Moro voltou a citar o tempo em que chefiou o Ministério da Justiça no governo Bolsonaro. Ao comentar sobre seu desembarque do governo, o ex-juiz afirmou que sua saída esteve ligada a uma falta de apoio do presidente a seus compromissos de combate à corrupção, e até a sabotagem de seus trabalhos.

"Logo após que eu havia entrado, eu não tive mais o apoio do presidente da República, e, a partir de determinado momento, eu passei a sofrer até sabotagem", disse. Moro também declarou que enquanto ele chefiava a Justiça, o presidente Jair Bolsonaro queria que ele fizesse "coisa errada". Ele não esclareceu qual seria a "sabotagem" sofrida ou quais seriam os pedidos do presidente.

"Quando chegou o momento que era me dada a escolha 'ou você fica como cúmplice de coisa errada [...] ou você sai', eu preferi sair", disse. O ex-juiz também voltou a dizer que o presidente deseja a proteção de seus filhos contra investigações.

"O próprio presidente reclamou esses dias dizendo que eu não protegia a família dele da Polícia Federal, da Receita Federal, o que é um absurdo. Ninguém tem que ser protegido de nada. Se alguém cometeu coisa errada, tem que ser investigado e a pessoa tem que ser responsabilizada", disse.

De olho nas eleições, Moro tenta abrir o leque dos temas que considera importantes para o ano que vem. Contudo, a corrupção continua sendo o tema em que o pré-candidato vai colocar mais fichas. Ao criticar o atual governo, o ex-ministro afirmou que houve um “desmantelamento do combate à corrupção” no Brasil, e usou essa fala como gancho para criticar também o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial de 2022.

"O presidente Lula está aí solto porque houve enfraquecimento do combate à corrupção, e essa responsabilidade é do atual presidente Bolsonaro."

O Estado de S.Paulo