O empresário tornou-se alvo da CPI da Covid apenas por ser admirador eloquente de Jair Bolsonaro
De depravação em depravação, num surto extremado e contínuo de agressões às normas mais elementares da atividade parlamentar, o relator e o presidente da CPI da Covid, mais o grupo de senadores que agem a seu serviço, construíram nos últimos meses um desastre — um insulto, na verdade, à população brasileira que paga seus salários e privilégios, e o mais deprimente episódio de desmoralização da história recente do Senado Federal.
Como esperar qualquer seriedade da ação política no Brasil depois da exibição pública, repetida e cada vez mais grosseira de atos de banditismo — contra as testemunhas, contra os inimigos e principalmente contra os fatos — por parte dos responsáveis pela CPI? Pior: esses acessos de delinquência serial foram praticados com o objetivo específico de atacar o governo diante da mídia. Tiveram o apoio militante da maioria dos veículos de comunicação. A CPI foi montada para agredir o presidente da República e seu governo — e se alguma coisa é “contra o Bolsonaro”, o apoio dos jornalistas é automático e absoluto, sem questionamento algum.
Pensava-se, já há tempo, que a CPI do senador do Amazonas e do senador de Alagoas, mais seus coadjuvantes, tinha chegado ao fundo do poço em matéria de sordidez explícita. Mas os fatos mostram que o fundo do poço, quando se trata desta abjeção, ainda é muito mais embaixo — e só deve ser atingido, mesmo, quando a CPI fizer sua última sessão. É como diz o velho provérbio: não há limite para o pior.
A mais recente demonstração dessa realidade foi o “depoimento”, como disseram, do empresário Luciano Hang, presidente do Grupo Havan — na verdade, uma sequência de agressões pessoais, violentas e sem cabimento algum contra ele. Sabe-se muito bem de onde vem todo esse ódio: Hang é um admirador eloquente de Jair Bolsonaro e isso, para a CPI, é o pior crime que alguém pode cometer no Brasil de hoje.
O episódio, um concentrado de baixaria, falsidade e jogo sujo que fez a ministra Damares Alves sugerir o banimento das transmissões da CPI para depois do horário apropriado ao público infantil, não relevou um átomo sequer de alguma conduta errada por parte do empresário. E nem era mesmo para apurar nada — a intenção dos gestores da CPI, do começo ao fim, foi chamar uma vítima para malhar na frente da mídia. Vai ser este, exatamente, o resultado do depoimento em termos de valor legal ou jurídico: três vezes zero. Os senadores fizeram mais um desfile de fantasias. Os jornalistas bateram palmas. Na vida real não vai acontecer nada.
Publicado originalmente na Gazeta do Povo em 30 de setembro de 2021
Revista Oeste