sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Rádio Gaúcha perde anunciantes após 'jornalistas' ironizarem assalto por terroristas

 Comentaristas exaltaram ação dos bandidos que promoveram “noite do terror” em Criciúma (SC)

criciúma

Na madrugada de terça-feira, bandidos fortemente armados saquearam uma agência do Banco do Brasil na cidade | Foto: Lucas Colombo/Estadão Conteúdo

Quatro anunciantes da Rádio Gaúcha (a maior emissora do Rio Grande do Sul) informaram nesta sexta-feira, 4, o fim da parceria com o veículo de comunicação. Santa Clara, ZeZé Biscoitos, Unicred e a Vinícola Salton alegaram que o motivo é a repercussão negativa da edição de 1° de dezembro do programa Time Lime, uma das atrações da rádio. Isso porque os jornalistas David Coimbra e Kelly Matos teceram comentários polêmicos sobre o assalto em Criciúma, cidade no interior do RS.

Conforme noticiou Oeste, na madrugada de terça-feira, bandidos fortemente armados saquearam uma agência do Banco do Brasil, fizeram reféns e levaram uma quantia vultuosa ainda não calculada pelas autoridades. Um policial militar, que trocou tiros com os assaltantes, ficou ferido e está no hospital em estado grave. Até o momento, seis pessoas suspeitas de participação no caso foram presas. A seguir, os principais trechos dos comentários dos jornalistas sobre o episódio:

1) Coimbra: “Vamos supor que todos os assaltantes fossem assim: organizados. Eles têm método. E, mais que isso, eles têm respeito pelo cidadão […] Chamaram um funcionário do banco e perguntaram: ‘Quanto você ganha?’. O cara respondeu. E o bandido: ‘Está vendo? Não estamos tirando dinheiro de ninguém. Estamos tirando dinheiro do banco’. Ou seja, existe uma filosofia no assalto deles […] Existe uma moral […] Não é algo contra o cidadão, tanto que eles deram dinheiro às pessoas. […] Estou falando para você, que é bandido: Tome consciência. Seja como os caras de Criciúma, que respeitam a população. A ação tem de ser para outros alvos e não o pobre trabalhador. Existe ética para tudo”;

2) Matos: “Esse episódio lembrou a série da Netflix La Casa de Papel. A série fala um pouco sobre criminosos com essa filosofia: não estão roubando do povo […] No assalto ao Banco Central, filme que narra uma ideia parecida, ele diz assim: ‘Crime não é roubar um banco. É fundar um banco'”.

Repercussão

Ao cancelar o patrocínio com a Rádio Gaúcha, a Unicred argumentou que “respeita a liberdade de imprensa e o trabalho realizado pelos jornalistas e pela RBS, no entanto, não compactua com os comentários realizados a respeito de bancos e assaltantes”. A Irmãos Ruivo, que controla a ZeZé Biscoitos, repudiou o episódio e informou, em nota, que tem compromisso com a preservação do Estado Democrático de Direito.

A cooperativa Santa Clara reafirmou que defende a segurança pública e a integridade física dos cidadãos. Também a Vinícola Salton anunciou que está retirando patrocínio o da rádio. O posicionamento das quatro empresas representa um “Sleeping Giants” às avessas, uma vez que, agora, não foi preciso uma milícia digital pressionar anunciantes de modo a intimidar veículos de comunicação. As próprias companhias decidiram se manifestar.

Assista ao vídeo

O colunista do jornal Brasil Sem Medo, Leandro Ruschel, divulgou nas redes o vídeo com o comentário dos jornalistas. Assista:

Posicionamento da Rádio Gaúcha

“A respeito de manifestação feita pelo comunicador David Coimbra, no programa Timeline da última quarta-feira (2), sobre o assalto em Criciúma (SC), o Grupo RBS informa que não houve intenção de minimizar a gravidade da ação criminosa e de ofender as empresas, os cidadãos e os policiais que foram feridos. O comunicador se retratou no ar nessa quinta-feira (3). A RBS pede desculpas pelo ocorrido e afirma seu respeito às instituições financeiras e às forças policiais, assim como a todas as pessoas atingidas pelo lamentável episódio. A linha editorial da RBS nos assuntos de segurança busca auxiliar cidadãos e empresas a se protegerem e valoriza as forças policiais na defesa da lei e da sociedade. A empresa tem como princípio estar aberta às críticas e aos questionamentos de todos, para ouvir suas percepções sobre todo e qualquer tema e estabelecer uma relação constante de diálogo e respeito. Essa atitude será reforçada nos próximos dias com diversos setores da sociedade com o propósito de aperfeiçoar o seu jornalismo responsável e independente.”

, Revista Oeste