quinta-feira, 2 de abril de 2020

Petróleo fecha com avanço diário recorde por sinais de corte na oferta

Os contratos futuros de petróleo fecharam em altas consideráveis nesta quinta-feira, diante de declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que pode haver um corte considerável na oferta. O governo da Arábia Saudita sinalizou que de fato buscará novo acordo com outros países para controlar as exportações, o que deu impulso à commodity: os dois contratos tiveram o maior avanço porcentual diário da história, segundo o Wall Street Journal.
O petróleo WTI para maio fechou em alta de 24,67%, em US$ 25,32 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para junho avançou 21,02%, a US$ 29,94 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE).
Os contratos mostravam alta acima dos 10% já de madrugada, após Trump ter dito ontem que Arábia Saudita e Rússia devem fechar um acordo em breve. O movimento chegou a perder força após o índice das condições empresariais de Nova York recuar em março a 12,9, o menor nível já registrado, e após a Fitch reduzir projeções para o preço do barril neste ano e em 2021, por causa do coronavírus e do excesso de oferta.
Trump, porém, foi ao Twitter no fim da manhã e afirmou esperar um corte na produção da Arábia Saudita e da Rússia da ordem de 10 milhões de barris por dia. Em mensagem posterior, o presidente americano ainda citou que a redução poderia ser de 15 milhões de barris por dia. “Boa (ótima!) notícia para todos”, celebrou. Após o primeiro tuíte, o WTI chegou a avançar mais de 30% no dia e o Brent, 40%, e o fato de a Arábia Saudita ter convocado reunião urgente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados, que formam o grupo Opep+, foi visto como uma confirmação da declaração do líder americano. A conta oficial da Opep no Twitter já informava nesta tarde que o Iraque apoiava a realização do encontro.
A partir de fontes sauditas, a agência Dow Jones Newswires informou que Riad poderia de fato cortar a oferta, mas isso dependeria de outros países assumirem o mesmo compromisso. Fontes ouvidas pela agência também disseram que os números citados por Trump foram exagerados. Na Rússia, um porta-voz do governo negou que o presidente Vladimir Putin tenham conversado com o príncipe saudita Mohammed bin Salman, como tinha mencionado Trump.
Em meio às notícias, o petróleo reduziu um pouco os ganhos, mas ainda teve avanço considerável. O Danske Bank afirma em relatório que os EUA pressionam Riad e Moscou, dizendo que os sinais desses dois produtores são importantes para o mercado no curto prazo. Além disso, o banco comenta que o preço da commodity se estabiliza, diante da expectativa de uma trégua entre os dois importantes produtores.
A Eurasia, por sua vez, vê como resultado mais provável um acordo nas próximas semanas por um grande corte na oferta do Opep+, complementado por uma redução na produção também dos EUA, embora a consultoria não descarte a chance de um novo impasse. Sobre o setor de petróleo nos EUA, o CIBC comenta que o preço baixo atual “é um grande risco”, dizendo que se isso prosseguir pode haver colapso do investimento e do emprego na produção do setor, o que por sua vez será “um obstáculo significativo para a economia”.

Lucas Baldez, O Estado de São Paulo