segunda-feira, 20 de abril de 2020

Netanyahu e Gantz assinam acordo para formar governo de emergência em Israel durante pandemia

Premier interino de Israel, Benjamin Netanyahu (E), em montagem ao lado do líder da oposição, Benny Gantz Foto: AFP

Premier interino de Israel, Benjamin Netanyahu (E), em montagem ao lado do líder da oposição, Benny Gantz Foto: AFP



JERUSALÉM — O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e seu ex-rival, o centrista Benny Gantz, anunciaram nesta segunda-feira a formação de um governo de emergência, para encerrar a maior crise política da história do país em meio à pandemia de Covid-19.
Em uma declaração divulgada em conjunto, o Likud, de Netanyahu, e o Partido Azul e Branco, de Gantz, afirmam que assinaram um acordo para a formação de um governo de união, depois de três eleições em menos de um ano nas quais nem o bloco da direita, do primeiro-ministro, nem o bloco de centro, do opositor, obtiveram maioria no Parlamento para governar sozinhos. Os dois vão se revezar na chefia do governo, sendo o atual premier quem assumirá o cargo primeiro.
Pouco depois da confirmação do acerto, Gantz foi ao Twitter dizer que esse era um ato pela "manutenção da democracia":
"Evitamos uma quarta eleição. Lutando contra o coronavírus e cuidando de todos os cidadãos israelenses. Temos um governo nacional de emergência."
Na mesma linha, Netanyahu disse que "fará tudo" pelos israelenses.
"Prometi ao Estado de Israel um governo nacional de emergência que trabalharia para salvar vidas e manter os meios de subsistência dos cidadãos. Continuarei a fazer tudo por vocês, cidadãos de Israel."
Em seguida, citou o caso de duas organizações políticas atuantes durante Gueto de Varsóvia (1940-1943) que não conseguiram chegar a um acordo na época.
"Os desafios à frente exigem ampla unidade entre o povo e o país. Esta também é uma lição fundamental do Holocausto. Durante a revolta do Gueto de Varsóvia, em 1943, a luta contra os nazistas foi liderada por duas organizações de resistência: uma liderada por Mordechai Anilewicz, membro de Hashomer Hatzair. O segundo liderado por Pavel Frankel, membro da Betar."
O premier completou dizendo que "a rivalidade ideológica era mais forte do que a capacidade de permanecerem juntos diante do agressor. Depois de 77 anos, devemos agir de maneira diferente, devemos agir com união".

Rotação no cargo

A união põe fim a meses de um impasse político em Israel e evita a necessidade de uma quarta eleição por ora. O presidente de Israel, Reuven Rivlinhavia pedido ao Parlamento para que um terceiro nome fosse indicado para assumir o cargo de premier, caso Netanyahu e Gantz não conseguissem formar um governo.
Pelos termos do acordo, os dois concordaram que Netanyahu permaneceria primeiro-ministro até Gantz assumir o poder em outubro de 2021. Enquanto isso, o ex-chefe das Forças Armadas atuará como ministro da Defesa e vários de seus aliados políticos, incluindo dois membros do Partido Trabalhista de Israel, também serão indicados como ministros. Se Netanyahu deixar o cargo antes do prazo, Gantz assumirá o governo.
Os dois grupos políticos terão o mesmo número de cadeiras no Gabinete: serão 36 ministros e 16 vice-ministros. Um outro ponto que deve causar polêmica é o que diz respeito às moradias deles: Netanyahu e Gantz terão direito a uma residência oficial, financiada pelo governo.
Sobre a relação com os palestinos, o texto prevê que o novo governo "trabalhará pela paz e establidade regional", mas abre porta para extender a soberania israelense sobre assentamentos judaicos em terras ocupadas na Cisjordânia. Na prática, a medida oficializa a anexação desses territórios por Israel.
Para o premier palestino, Mohammed Shtayyeh, o novo governo "é o fim da solução de dois estados e o desmantelamento dos direitos do povo palestino", mostrando o descontentamento dos árabes com a manutençao de Netanyahu no poder.
— Isso é extremamente perigoso não apenas para a Palestina, mas para Israel, a região e todo o mundo — afirmou Hanan Ashrawi, integrante do alto escalão da Organização para a Libertação da Palestina.
No último domingo, Netanyahu foi alvo de protestos em Tel Aviv. De máscaras e mantendo uma distância segura, os manifestantes se reuniram na Praça Rabin e acusaram o premier de estar agindo contra a democracia de Israel. Bibi tem sido criticado, desde março, por implementar medidas consideradas antidemocráticas de combate ao vírus, incluindo a aprovação do rastreamento de civis pelos telefones celulares.

Netanyahu, que governa Israel há dez anos, sem contar o período entre 1996 e 1999, é o primeiro premier israelense em atividade a enfrentar acusações criminais: ele é alvo de três processos por supostas corrupção, fraude e violação de confiança. Seu julgamento estava marcado para começar no dia 17 de março, porém foi postergado devido à Covid-19 — Netanyahu decretou o fechamento do Judiciário.
Muitos oposicionistas, incluindo integrantes do Azul e Branco, recusavam-se a integrar um governo com alguém que pode eventualmente acabar atrás das grades e que poderia usar o novo mandato para escapar da Justiça.
Os manifestantes no domingo acusaram Netanyahu de enfraquer o sistema de freios e contrapesos da democracia israelense. Isto acirrou-se com a emergência sanitária, que levou à aprovação de medidas de exceção, que, segundo os opositores, ameaçam direitos individuais e de privacidade.
O Globo e agências internacionais