“O fotógrafo tem a mesma missão do poeta: eternizar o momento que se passa”. (Mário Quintana)
Tenho comentado muito sobre a imprensa atual nos meus últimos artigos e crônicas, com críticas acerbas ao momento infeliz que a imprensa atravessa pelo mundo afora e especialmente no Brasil, onde a informação vem envolta no papel celofane da propaganda.
Foi o colega da velha guarda, o multifacetado jornalista Gaudêncio Torquato que me inspirou falar dos tempos em que as redações eram “risonhas e francas”… Época em que nos esforçávamos a estudar para bem concorrer.
Gaudêncio atua com qualidade no campo da política, como analista, na pesquisa e no marketing, além de articulista e tuiteiro. Numa mensagem que tuitou, disse literalmente que: “Tenho responsabilidades como analista político. Posso discordar das atitudes do presidente – e discordo – mas não posso lhe desejar o mal. Tenho procurado me guiar pela luz dos bons caminhos”.
É como se faz no bom jornalismo. Nem agressões, nem bajulações; ater-se ao fato, informando e analisando. Hoje, poucos jornalistas fazem assim. A mudança flagrante do comportamento da imprensa está numa memória ocorrida a 136 anos com o “The New York Times”.
Numa de suas edições no ano de 1884, o jornal trouxe o seguinte texto: “A decadência da Espanha começou quando os espanhóis adotaram o cigarro, e se essa praga perniciosa se espalhar entre os americanos adultos, a ruina da nossa República estará próxima”. O N.Y. Times nos dias atuais defende a descriminalização da maconha.
Sem comentários. Passo às recordações dos meus tempos de jornal, como repórter, editor e secretário de redação. A lembrança me leva ao coleguismo sempre presente, com o tratamento respeitoso nas divergências de opinião, e ocorriam discussões acirradas todo tempo.
Naquele tempo, entretanto, já existiam os bezerros de presépio, sem ideia própria, aceitando levar ao leitor a opinião do eventual diretor do jornal ou da revista, este obedecendo aos interesses comerciais ou dos acionistas da empresa para manter o cargo…
Haviam também, como hoje é voz geral, os que consideravam os jornalistas uns privilegiados, por ter preferência nas antessalas dos ministérios, achegar-se aos chefes de executivos, tomar cafezinho com parlamentares e receber ingressos para cinemas teatros e shows.
A regra geral era de um comportamento profissional ético e o produto do trabalho informativo isento de favoritismo. Para isto se cultivava o relacionamento com os porteiros, as secretárias e até os informantes da Polícia, tratando-os com cordialidade e respeito. “Fazendo” amizade.
Há segredos no exercício da profissão de jornalista. Recordo um deles: a ajuda indispensável dos fotógrafos em qualquer ocasião. Agradeço a um deles um importante prêmio que recebi por uma reportagem que foi altamente valorizada pela composição fotográfica. O repórter-fotográfico cumpre o milenar princípio de que uma imagem vale por mil palavras…
Hoje, nem o repórter e o fotógrafo escapam das pressões políticas, como Thomas Sowell deixa claro: – “Muitos na imprensa parecem não entender a diferença entre reportar notícias e criar propaganda.”
Numa matéria manchetada em quatro importantes órgãos da imprensa neste mês, encontramos: “O Brasil demorou a combater o covid-19” – omitindo que Espanha, EUA, Itália, Irã e outros também o fizeram. Trata-se evidentemente que em vez de colaborar internamente no combate ao vírus, a mídia fica “do contra”.
Felizmente essa falta de ética, sentenciando à morte milhares de brasileiros, não nos faz perder o respeito pelo jornalismo, que apesar dos pesares renascerá como uma fênix das cinzas.