sexta-feira, 3 de abril de 2020

Enquete Bradesco BBI projeta retomada em julho e Bolsa abaixo dos 100 mil pontos em dezembro

Quando o Brasil poderá retomar a normalidade da atividade econômica? Quais setores vão se recuperar mais rapidamente? E em que patamar estará o Ibovespa no fim do ano? Ninguém tem bola de cristal, mas o Bradesco BBI consultou 100 representantes das principais gestoras de recursos do País, entre os dias 30 de março e 1º de abril, para apresentar previsões para os mercados em meio à turbulência causada pela pandemia do coronavírus.
Entre os experientes investidores há o consenso de que a Bolsa vai se valorizar até o fim do ano, mas a recuperação da economia será bem gradual. Na média, eles acreditam que o Ibovespa atinja 86 mil pontos em dezembro, o que representaria uma valorização de 20% com relação ao nível atual – nesta quinta-feira o índice fechou o dia em 72.253,46 pontos, com alta de 1,81%.
Para Ricardo França, analista da Ágora Investimentos, após o tombo de 36,9% sofrido no 1º trimestre, é natural que exista uma expectativa de alta da Bolsa até o fim do ano. Mas o especialista praticamente descarta que o Ibovespa ultrapasse a marca dos 100 mil pontos ainda em 2020.
“Vimos a Bolsa derreter em março. Dificilmente voltará para o patamar pré-coronavírus em curto prazo”, diz França. Em janeiro, o índice chegou a 119 mil pontos.
No levantamento, 56% dos gestores consultados indicam que a volta à normalidade da maioria das atividades econômicas só ocorrerá depois de julho. Apenas 16% creem que isso ocorra até o fim de maio. 
Além disso, 57% dos participantes da pesquisa acreditam que só haverá desaceleração significativa do contágio do coronavírus no mundo a partir do final de maio. Cerca de 30% disse que isso pode acontecer até o fim de abril.
Outro dado do levantamento é sobre o desemprego. Na média, os entrevistados imaginam que, ao final do ano, a taxa suba para 14,4%. No trimestre encerrado em fevereiro, a taxa estava em 11,6%, atingindo 12,3 milhões de pessoas.
Sobre as medidas tomadas pelos bancos centrais e governos de todo o mundo, cerca de 56% dos gestores diz que não acredita elas sejam suficientes para conter a atual crise.
Ricardo França concorda, mas avalia que, até agora, a maior parte dos países tem feito o possível para minimizar os impactos econômicos do coronavírus. “Ainda tem coisa por vir. Os governos e as autoridades monetárias devem continuar buscando soluções”, afirma.

Em que setores apostar?

Ainda segundo o levantamento, apenas 13,3% dos gestores apostam que todos os setores econômicos voltarão à normalidade até o fim de 2020. As companhias aéreas são as que menos geram confiança de recuperação nesse prazo: 68,4% não as vê retornando ao patamar anterior até dezembro.
Já para o varejo, serviços de bares e restaurantes, construção civil, aluguel de imóveis e bens de capital a expectativa de cerca de 70% é que estejam em bom funcionamento até lá.
A pesquisa também mostrou os principais setores com bom potencial para compra e venda de ações nos próximos meses. Aqueles com maior propensão para venda são o varejo (16%), imobiliário (14,9%) e petróleo e gás (14,9%).
Para compra de aplicações, os mais cotados são o setor elétrico e os bancos, ambos com 20,2% da preferência. De forma curiosa, o varejo aparece em 3º nesse ranking, citado por 16% dos consultados.
O analista da Ágora explica que o setor sente diferentes efeitos com a crise: “O varejo tradicional sofre por causa da paralisação, mas as vendas on-line crescem”.
França aponta dois aspectos fundamentais que sustentam a compra de aplicações neste momento: resiliência e oportunidades com ações desvalorizadas. “Serviços do setor elétrico, varejo voltado para e-commerce e bancos são alguns exemplos dos setores que os investidores devem priorizar”.


Lucas Baldez, O Estado de São Paulo