A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, descartou o desabastecimento de alimentos no país, a não ser que haja paralisação de caminhoneiros.
“O desabastecimento no Brasil só ocorrerá se nós não tivermos o transporte funcionando”, disse Tereza Cristina. A nossa preocupação hoje, o tempo todo, é trabalhar para que tenha fluxo. Eu falo sobre isso o tempo todo. Na manhã de hoje eu fazia uma conferência com produtores de arroz do sul do País. O que eles me pediram: ‘por favor, não deixe os caminhões pararem’, porque eles pegam o produto lá e levam embora, mas precisam voltar, para buscar novamente.”
O governo tem conversado diariamente com lideranças dos caminhoneiros. O entendimento até agora é de que não há nenhum movimento de paralisação geral, mas preocupação os motoristas que estão nas estradas, já que passam dias viajando sozinhos e, no caminho, podem não encontrar nenhum local de apoio funcionando, como restaurantes, hotéis, borracharias e mecânicas.
“A negociação com os caminhoneiros está andando. O ministro Tarcísio [de Freitas, da Infraestrutura] está numa briga danada, porque tem que garantir a abertura de restaurantes na beira da estrada. O caminhoneiro precisa comer, tomar banho. Ele passa três, quatro dias na estrada fora de casa, para levar a mercadoria”, disse Cristina. “Não é porque existe o coronavírus que o caminhão não vai quebrar, não vai precisar de uma mola, da troca de um pneu, de um freio. Essa é a nossa briga diária, para ter o mínimo de condições nas estradas para os caminhoneiros poderem andar.”
O Ministério da Infraestrutura tem identificado problemas pontuais de transporte, mas não enxerga nenhuma possibilidade de paralisação dos caminhoneiros.
Tereza Cristina admite que, em algumas regiões, o transporte é uma preocupação maior, mas que o governo tem atuado para negociar que as rotas não parem de prestar serviço. “Nessa hora que estamos um momento adverso, temos que trabalhar com a normalidade possível. É isso o que nós estamos fazendo. Você não pode obrigar uma pessoa a trabalhar, ele sabe de seus riscos, se a estrada tem mais assistência ou menos. Nós estamos resolvendo no dia a dia. Chega o problema novo, vamos resolvendo. Não dá pra prever tudo.”
Mercados
Questionada sobre as limitações de vendas produtos que supermercados de todo o País têm feito, como é o caso do arroz, feijão, açúcar, leite e óleo, Tereza Cristina disse que se trata apenas de um controle para que todos os consumidores possam comprar e para que não se crie um vácuo entre a entrega das mercadorias nos pontos de venda e a compra pela população. “Num primeiro momento, a população correu para o supermercado e estocou. Mas um saco de arroz de cinco quilos dá, em média, para uma família passar um mês. Os supermercados não estão segurando porque vai faltar produtos, mas para que as pessoas não comprem mais do que precisam. O medo de todo mundo é o fluxo da chegada dos produtos, não a falta de produção dele”, disse.
No Ceasa de Extrema, na Grande Belo Horizonte, não tem faltado produto, como divulgado na publicação compartilhada por Bolsonaro pelas redes sociais. Ao contrário. O que tem faltado é comprador. Com o fechamento dos comércios e hotéis, os mercadões estão vivendo apenas da compra doméstica.
“O que está acontecendo é que as vendas estão mais fracas. Por quê? Não estão funcionando os restaurantes, hotéis, bares. Está funcionando apenas a compra do cidadão, e os casos de pessoas com medo de comprar etc., para não sair de casa. Mas o fato é que os Ceasas todos estão funcionando. Nós estamos nos falando todos os dias”, comentou a ministra.
Entre os produtores, disse Cristina, está sendo priorizado aquilo que é mais emergencial, do pequeno produtor para o grande. “Não é verdade que o pequeno produtor de verduras não está produzindo. Ele está produzindo e ganhando. Precisamos só garantir que o produto dele vai chegar ao mercado.”
Com informações de André Borges, O Estado de S.Paulo