
As declarações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro na manhã desta segunda, reforçando a imagem do ministro Paulo Guedes no governo, contribuíram para que a Bolsa fechasse em alta. O Ibovespa (índice de referência da B3) subiu 3,86%, aos 78.238 pontos. Bolsonaro manifestou apoio público a Guedes, a quem definiu como o "homem que decide a economia" no país. O dólar comercial fechou com leve valorização de 0,01%, a R$ 5,658, novo valor recorde de fechamento.
As declarações foram bem recebidas pelo mercado, após a turbulência gerada na última sexta-feira com a saída do ex-juiz Sergio Moro do Ministério da Justiça.
— O desagravo que o presidente fez hoje cedo foi importante para o momento. Ao reforçar que a economia está sob o comando de Paulo Guedes, ele passa uma boa mensagem para o mercado. Os desafios sobre a agenda econômica aumentaram com a covid-19, então é preciso mostrar que a equipe da Economia está fortalecida — diz Maurício edrosa, gestor da Áfira Investimentos. — Diante desta sinalização, a situação tende a ser favorável para os ativos brasileiros.
Álvaro Bandeira, economista-chefe do banco Modalmais, também avalia que a declaração do presidente Bolsonaro, reforçando a presença do ministro Guedes, e a de Rodrigo Maia, pedindo cautela sobre um eventual impeachment, contribuem para os ganhos da Bolsa:
— As declarações da presidência, fortalecendo a participação da equipe econômica, contribui para uma melhora do humor no mercado local. Além disso, o presidente da Câmara pedir cautela em relação a um eventual processo de impeachment retira um pouco a tensão política no radar dos investidores.
No câmbio, o dólar operou em queda durante a maior parte da manhã, inverteu a tendência e chegou a alcançar R$ 5,725, mas fechou estável. Nesta sessão, o Banco Central (BC) injetou US$ 600 milhões no mercado por meio de leilão de dólar à vista.
— O cenário interno ainda está muito incerto e volátil. Isso faz com que haja fuga de capital do país, por isso observamos o dólar nos atuais patamares — acrescentou Bandeira.
Na agenda externa, o mercado aguarda o plano francês para reabertura gradual da economia. O anúncio será feito na terça-feira, e a expectativa é que o Palácio do Eliseu comece a flexibilizar a quarentena a partir de 11 de maio.
No Japão, o Banco Central vai triplicar seu pacote de compra de dívidas corporativas, alcançando a faixa de US$ 186 bilhões, com o objetivo de facilitar o financiamento para empresas afetadas pela pandemia.
"Dados deste final de semana apontaram para a maior desaceleração nas fatalidades em mais de um mês na Espanha, França e Itália. Os números corroboram com a sinalização destes países de que darão início à tentativa de reabertura gradual das suas economias e impulsionaram índices nas negociações por lá", escreveram os analistas da Guide Investimentos.
Destaques da Bolsa
No Ibovespa, as empresas que mais subiram nesta segunda foram as ligadas a varejo. A B2W (dona do Submarino e da Americanas.com) avança 9,48%. Via Varejo (Casas Bahia e Ponto Frio) e Lojas Americanas tiveram ganhos de, respectivamente, 18,65% e 6,44%.
O comportamento positivo do varejo vem na esteira de planos de reabertura da economia também no Brasil, especialmente no estado de São Paulo, onde o governador João Doria (PSDB) projeta que algumas atividades serão retomadas a partir de 11 de maio.
Os frigoríficos também registraram ganhos, após a ministra da Agricultura Tereza Cristina ter afirmado que as exportações brasileiras neste mês alcançarão patamares de recorde. Assim, BRF subiu 10,84%. JBS e Marfrig avançaram, respectivamente, 8,54% e 10.05%.
Já no lado das perdas, o destaque fica com a Embraer, cuja perda nesta sessão foi de 7,49%. O desempenho negativo nesta segunda foi reflexo do cancelamento da parceria que seria firmada entre a brasileira e a Boeing.
A americana justificou que a Embraer não atendeu a todas as condições exigidas e que, por isso, estava “exercendo seu direito de rescindir o contrato”.
Em Wall Street, o dia também foi de ganhos. O Dow Jones subiu 1,51%. S&P 500 e Nasdaq fecharam com alta de, respectivamente, 1,77% e 1,11%.
Ainda no exterior, a cotação do petróleo volta a operar em queda. No fechamento do mercado brasileiro, o barril do tipo Brent (negociado na Bolsa de Londres e referência global) caía 6,95%, a US$ 19,95. O WTI (referência nos EUA), perdia 24,08%, a US$ 12,86.
Gabriel Martins, O Globo