domingo, 27 de maio de 2018

Preços dos combustíveis batem recorde na França e Reino Unido

Andrei Netto, O Estado de S. Paulo

PARIS - Os bloqueios de refinarias e as paralisações de caminhões-tanque ainda não estão entre as estratégias para conter o preço dos combustíveis na Europa. Mas os consumidores já sentem os recentes recordes batidos pelo litro do diesel e da gasolina em todo o continente, resultado do aumento recente do preço do barril de petróleo e da política de não intervenção no mercado. Em alta constante há mais de dois anos, os combustíveis chegaram neste mês alcançando recordes em países como França e Reino Unido.
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Mercado é aberto às grandes petrolíferas Foto: Stephane Mahe/REUTERS
Os preços nos postos correspondem ao aumento do preço do petróleo no mercado internacional. Com a barreira dos US$ 80 por barril do tipo Brent prestes a ser ultrapassada, a variação desde fevereiro já supera os 30% em euros.
A consequência direta dessa política é a explosão do preço nos postos para o consumidor final. Nas últimas dez semanas, os aumentos têm sido constantes, o que levou o diesel a bater todos os recordes em solo francês e britânico. No mercado europeu, a prática é a liberdade de variação no preço ao consumidor, correspondendo às variações do valor do barril de petróleo.
Outros fatores que influenciam no preço em curto prazo são a taxa de câmbio, a política fiscal nacional, as exigências regulatórias, além de fatores sazonais e de eventuais períodos de redução de estoques.
Flutuação. Segundo o site especializado GlobalPetroPrices.com, que faz acompanhamento e análise permanente do mercado europeu, a cada 10% de altas ou baixas no preço do barril de petróleo, a repercussão é, em média, de 3% na Europa. Para efeitos de comparação, nos Estados Unidos, onde a carga fiscal é mais baixa, o mesmo impacto é de 7%.
Isso acontece porque, por princípio, quanto mais altas forem as taxas que incidem sobre os preços, menor é a variação da cotação do petróleo ao consumidor final. A expectativa de especialistas é de que, em média, o litro de gasolina feche o ano de 2018 em € 1,29 no conjunto de 36 países europeus, um balanço que inclui todos os maiores mercados do continente, como Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Espanha e Rússia.
Já a situação do diesel é ainda mais alarmante. O caso da França ilustra bem o avanço do preço do combustível nos últimos 12 meses. Em alta há nove semanas, o litro do combustível chegou aos consumidores nos últimos dias a € 1,46 – superando o recorde registrado em agosto de 2012, de € 1,459 por litro. A título de comparação, em julho de 2017 o preço do litro do diesel estava em € 0,97. No melhor momento dos últimos cinco anos, que aconteceu em dezembro de 2015, o preço chegou a € 0,83 por litro.
Sem intervenção. Apesar da alta nos combustíveis, na França não se fala em intervenção na política de preços. Quando acontecem, as intervenções são realizadas de forma pontual, em caso de crise aguda, penúria ou anomalia do mercado, e são autorizadas por lei por, no máximo, seis meses.
Passado esse período, os valores devem ser corrigidos. Para controlar flutuações excessivas, governos europeus costumam usar duas estratégias principais: renegociar os preços com as distribuidoras e jogar com o total de impostos.
Esses mecanismos de amortecimento das variações, entretanto, são pouco usados, a tal ponto que o país também já sofreu bloqueios em momentos de crise nesta década. A última turbulência maior do mercado francês aconteceu em 2012, quando se optou pela queda dos impostos. Em 2010, o governo de Nicolas Sarkozy não usou a estratégia, preferindo enfrentar uma greve de caminhoneiros que deixou mais de 1,5 mil postos de combustíveis do país a seco, de um total de 12 mil.
Concorrência. A exemplo do Brasil, as greves podem provocar efeitos importantes na economia, mas a capacidade de paralisação dos caminhoneiros é menor. Isso ocorre porque o custo de transporte e distribuição é limitado, e corresponde a cerca de 7% a 8% do preço final do produto.
Isso acontece porque a concorrência é elevada – o mercado é aberto a todas as grandes petrolíferas europeias, como Total, BP ou Shell, entre outras – e porque o principal meio de suprimento são os oleodutos, que respondem por 50% do total transportado entre as refinarias e os depósitos. Não bastasse isso, o transporte aos postos é mais variado, e se dá por transporte fluvial e por trem, além de rodovias.