Célia Froufe, O Estado de S.Paulo
LONDRES - Mais como um movimento reativo do que proativo, o presidente Michel Temer fez em dois anos de governo mais do que outros comandantes do Brasil em quatro ou oito anos.
A análise foi apresentada nesta terça-feira, 15, ao Estadão/Broadcast pelo chefe de análise de risco soberano da agência de rating Moody's para a América Latina, Mauro Leos, quando questionado sobre se ele já havia visto o polêmico slogan do governo "O Brasil voltou, 20 anos em 2".
"Não sei se foram 20 anos, 15 ou 10 anos, mas o fato é que, para um presidente que começou a governar no meio de uma administração, para um presidente que tem sua legitimidade questionada, para um presidente que foi apontado em caso de corrupção também questionável, ele fez muita coisa em um curto período de tempo", avaliou o executivo em Londres, durante uma pauta no evento "Emerging Markets Summit", promovido pela Moody's.
Além de colocar em prática reformas consideradas essenciais para o País, Temer acertou, na opinião de Leos, ao encaminhar também questões microeconômicas. Além disso, apresentou avanços em marcos regulatórios, na governança corporativa para estatais, na nova forma de atuação da Petrobrás, e na reforma trabalhista.
"Ele fez isso não apenas porque contou com bons conselheiros, mas porque é um político de operação. Se há alguém que sabe lidar com o Congresso, é Temer. Eu não acho que ele tenha feito essas coisas porque sempre tenha pensado desse jeito: 'quando eu for presidente, vou fazer as reformas'. Acho que ele fez estas coisas porque buscou um caminho para compensar essas questões negativas, mas foram mudanças importantes. Ele fez em apenas dois anos o que muitos presidentes fizeram em quatro ou oito anos, esta é a realidade", comparou.
O executivo da Moody's foi questionado, então, sobre os números do mercado de trabalho, que não mostraram melhora após as mudanças nas regras de contratação. Para Leos, o resultado pode não vir tão rapidamente e citou seu país de origem, o México, em que o impacto foi visto apenas quatro anos depois de as alterações terem sido feitas.
"Tudo o que podemos dizer é que muitos analistas acreditam que esta administração fez o que era preciso ser feito. É o caso da reforma da Previdência, que precisa ser feita. No médio prazo, se verá resultado, no curto prazo, depende do ciclo econômico, então, não muda o número, mas é um bom sinal para o sentimento do investidor", considerou.
"Temos que reconhecer que ele (o presidente) fez coisas que podem não ter dado resultado ainda, mas que são importantes e podem fazer diferença sobre como as coisas vão ocorrer no futuro", continuou.