Nomeado no gabinete do vereador Daniel Martins (PDT) na Câmara de Vereadores do Rio, o presidente nacional do PDT e ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, não é visto na Casa. O pedetista não frequenta o plenário, nem dá expediente no prédio anexo como auxiliar de gabinete, cargo em que está lotado. Porém, fora do Palácio Pedro Ernesto, Lupi mantém, nos dias de semana, mesmo quando há sessões, uma agenda intensa pelo país, filiando novos companheiros para o partido e acompanhando o pré-candidato da sigla à Presidência da República, Ciro Gomes, em eventos.
Para ocupar o cargo de auxiliar de gabinete, Lupi recebe um salário mensal bruto de R$ 3,5 mil, que pode superar R$ 10 mil se somados os auxílios transporte e alimentação, além de gratificações. Cabe à função de Lupi redigir ofícios, atender ao público e secretariar o vereador.
No entanto, sua rotina diária é bem diferente. No último dia 19, quando o expediente da Casa previa sessão, Lupi estava a mais de 1.700 quilômetros de distância da Câmara. Junto com Ciro Gomes, visitou, naquela data, aldeias indígenas no Mato Grosso e se encontrou com a família do ex-deputado federal e cacique Mário Juruna.
Em vídeo postado nas redes sociais, Lupi justificou sua passagem pela aldeia. Junto com Ciro, foi “pegar energia da civilização originária do Brasil, de onde nasce a nossa cultura, de onde nasce a nossa gente, de onde nasce a nossa força espiritual”, e canalizá-la para a pré-campanha do pedetista.
Um dia antes, quando também houve expediente no plenário da Câmara de Vereadores do Rio, Lupi participou, no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, em Brasília, do lançamento de um manifesto de seis partidos de esquerda em favor da democracia.
“NUNCA VI PISAR NO PLENÁRIO”
Também em abril, Lupi passou pelos estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Em Tocantins e no Mato Grosso, o pedetista filiou deputados e a senadora Kátia Abreu; no Pará, recebeu a ficha de filiação de um candidato ao Senado; e no Rio Grande do Norte, participou, ao lado do prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves (PDT), de solenidade do lançamento do Projeto de Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas.
Antes de ser nomeado por Daniel Martins no início do mês, Lupi esteve lotado por um ano no gabinete do antigo titular do mandato, Renato Moura, também do PDT. Moura foi nomeado secretário municipal de Desenvolvimento, Emprego e Inovação da prefeitura de Marcello Crivella, pasta que coube à sigla dirigida por Lupi no loteamento do primeiro escalão entre as legendas aliadas. Suplente de Moura, Daniel Martins assumiu o mandato e também empregou o chefe partidário como assessor.
A dispensa de comparecer ao local de trabalho já era a praxe com Moura e continuou com Martins. Lupi mantinha sua rotina de viagens, deixando para trás as funções de auxiliar de gabinete para atuar em tempo integral como presidente do PDT. De dezembro do ano passado a março deste ano, Lupi viajou algumas vezes para Brasília e passou, também, por Santa Catarina e Ceará, onde participou de eventos partidários em dias de semana.
O desaparecimento de Lupi da Câmara é confirmado até por funcionários do gabinete de Martins:
‘Carlos Lupi? Acho que você pode falar com ele lá no partido, não aqui no gabinete’
- ASSESSORAFuncionária do gabinete do vereador do Rio Daniel Martins
— Carlos Lupi? Acho que você pode falar com ele lá no partido, não aqui (no gabinete) — afirmou uma assessora do vereador, por telefone, ao GLOBO.
Nas duas últimas semanas, a reportagem esteve no Palácio Pedro Ernesto em busca de Lupi, mas não obteve sucesso.
— Lupi? Nunca vi ele pisar no plenário — diz um assessor de um vereador com gabinete no terceiro andar do prédio anexo, onde também trabalha Daniel Martins.
Martins assumiu a vaga de Renato Moura no início de abril. De acordo com o vereador, Lupi é uma espécie de “guru” do gabinete. Ele confirma que o ex-ministro do Trabalho não tem dado expediente, dedicando-se às atividades de presidente do PDT. Mas afirma que as funções de Lupi como auxiliar de gabinete podem ser desempenhadas fora do Palácio Pedro Ernesto. Martins não explicou qual vinculação existiria entre a agenda de Lupi nos outros estados com o trabalho legislativo da Câmara.
— Estou há duas semanas na Casa, e Lupi era do gabinete de Renato Moura. Em março ele deu entrada na aposentadoria. Lupi vem no gabinete, mas não tem um horário certo — disse Martins, ao destacar que Lupi faz “trabalhos nas bases” e ajuda externamente o gabinete.
Procurado, o pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, não comentou o caso.