quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Prévia da inflação registra menor variação para dezembro em 18 anos


  - Domingos Peixoto / Agência O Globo
Andrea Freitas - O Globo

Prévia oficial da inflação, o IPCA-15 desacelerou e ficou em 0,19% em dezembro, após registrar 0,26% em novembro. A taxa, que subiu menos que o esperado por analistas, é a menor para o mês desde 1998, quando ficou em 0,13%. Em dezembro do ano passado, os preços haviam variado 1,18%. Com isso, o índice fechou o ano em 6,58% — bem abaixo dos 10,71% de 2015. Esta taxa anual, conhecida como IPCA-E, é usada para corrigir o IPTU.

O dado de dezembro veio abaixo do esperado por analistas. O Bradesco, por exemplo, estimava uma variação de 0,30% para o mês. Já o levantamento da Reuters indicava que a taxa do ano ficaria em 6,71%. O resultado foi puxado para baixo por artigos de residência (-0,52%), habitação (-0,28%) e alimentação e bebidas (-0,18%), que registraram deflação.

O resultado acumulado em 2016 pelo IPCA-15 ficou próximo do teto da meta do governo para a inflação deste ano medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é de 4,5%, com variação de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. O resultado do IPCA-15 elevam as chances de que este objetivo seja cumprido.

Os analistas consultados semanalmente pelo Banco Central (BC) previram no relatório Focus divulgado na última segunda-feira que a inflação deste ano ficará dentro da meta. De acordo com o levantamento, o IPCA deve encerrar o ano em 6,49%. No ano passado, a inflação oficial ficou muito acima do teto, em 10,67%.


1,18
0,19
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1
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Dez
Jan/16
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1,18
Dez

O grupo alimentação e bebidas (-0,18%) intensificou a queda frente a novembro (-0,06%). Entre os produtos que afetaram o resultado estão feijão-carioca (-17,24%) — que foi um dos vilões da inflação durante boa parte do ano —, batata-inglesa (-15,78%), tomate (-10,58%) e leite longa vida (-5,40%). Mas também houve alta de preços: cebola (6,50%), farinha de mandioca (3,52%), frango inteiro (1,62%) e óleo de soja (2,55%).

No ano, no entanto, o grupo dos alimentos acumulou alta de 9,15%, atrás apenas do avanço de 11,16% nos preços de saúde e cuidados pessoais.

No grupo habitação (-0,28%), a energia elétrica (-1,93%) foi o item que mais puxou o resultado para baixo, com impacto de -0,07 ponto percentual. Segundo o IBGE, isso se deve à substituição da bandeira tarifária amarela pela verde, que retirou o custo adicional de R$ 1,50 por cada 100 kilowatts-hora consumidos a partir de 1º de dezembro, e a algumas revisões tarifárias, como que ocorreu no Rio de Janeiro.

Em artigos de residência (-0,52%), TV, som e informática (-2,41%) e eletrodomésticos (-1,08%) puxaram o resultado para o terreno negativo.

Já o grupo transportes, com alta de 0,79%, foi o que registrou a variação mais elevada. O resultado foi pressionado pelo preço das passagens aéreas, que avançou 26,16% e teve o maior impacto individual sobre o IPCA-15, de 0,09 ponto percentual.

O item multa, mais uma vez, pressionou a inflação, com avanço de 24,64%. Seguro de veículo (2,94%), etanol (1,89%), automóvel usado (1,71%) e emplacamento e licença (0,81%) também registraram alta.

Cigarro (2,13%), excursão (0,94%), empregado doméstico (0,87%) e mão de obra para pequenos reparos (0,87%) ficaram mais caros frente a novembro.

SERVIÇOS DESACELERAM

A inflação de serviços, que vem sendo acompanhada de perto pelo BC para condução da política monetária, terminou dezembro com alta de 0,60%, fechando o ano com avanço acumulado de 6,61%, contra 8,28% em 2015, nas contas da consultoria Tendências.

Entre as regiões pesquisadas pelo IBGE, a taxa mais elevada ficou com Brasília (0,99%), devido aos preços das passagens aéreas (21,30%, com impacto de 0,35 ponto percentual). Já o menor índice ficou com Goiânia (-0,22%), onde a gasolina (-4,69%) e etanol (-4,18%) ficaram mais baratos, assim como a energia elétrica (-1,76%).

No Rio de Janeiro, o IPCA-15 pisou no freio com força na passagem de novembro para dezembro. A taxa desacelrou de 0,29% para -0,04%. No ano, o resultado acumulado ficou em 6,43%, um pouco abaixo do índice geral de 6,58%.

Já em São Paulo, houve aceleração no resultado, que passou de 0,29% para 0,32%, ficando bem acima da taxa média do IBGE. Em 2016, o IPCA-15 na região que tem maior peso sobre o índice ficou em 6,65%.

CORTE DE JUROS

O cenário de inflação mais baixa deve ajudar o BC a aumentar o ritmo de corte da taxa básoca de juros, que fechou o ano em 13,75%. Nas duas últimas reuniões deste ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou por cortar, em cada um dos encontros, a Selic em 0,25 ponto percentual.

De modo geral, os agentes econômicos acreditam que o BC cortará a Selic em 0,5 ponto percentual em janeiro.

— O resultado é favorável para o BC acelerar o passo, mas ainda acho que em janeiro o corte (da Selic) será de 0,50 ponto percentual porque na comunicação (do BC) não há sinalização de aumento de ritmo tão significativo — disse à Reuters a economista da consultoria Tendências Alessandra Ribeiro. — Mas esse sinal pode ser dado mais para a frente, e uma redução de 0,75 por cento pode vir na segunda reunião (o econtro de fevereiro do Copom).

O BC já defendeu que a evolução favorável da inflação, a aprovação inicial de medidas fiscais e o ritmo fraco da economia justificariam o movimento de maior corte de juros.

O IPCA-15 segue a mesma metodologia do IPCA, que é o índice usado pelo governo como a inflação oficial do país. As únicas diferenças são o período de coleta de preços e a abrangência geográfica. O indicador se refere às famílias com rendimento de um a 40 salários mínimos e abrange as regiões metropolitanas de Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba, além de Brasília e Goiânia.