quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

"Obrigado, Rio", por Eduardo Paes

O Globo

São muitos os desafios para combater a desigualdade, tornar a cidade mais inclusiva e menos violenta


A virada do ano é o período de fazer balanços, agradecer o que se conquistou nos últimos 365 dias, planejar o futuro. No meu caso, o fim de 2016 representa o encerramento de um ciclo muito maior, a conclusão dos oito anos mais desafiadores e felizes da minha vida. Em 1o de janeiro de 2009, tive a honra de assumir a função com a qual sempre sonhei e da qual tenho enorme orgulho: ser prefeito do Rio e dos cariocas.

Tem gente que passa a vida toda em busca da sua vocação e, mesmo quando a descobre, nem sempre tem a oportunidade de trabalhar com o que gosta. Tive a sorte de, nos últimos quase três mil dias, fazer o que mais me dá prazer: cuidar da minha cidade. Uma tarefa complexa, mas apaixonante. Não teve um dia sequer que não tenha acordado estimulado para governar o Rio.

De 2009 a 2016, trabalhamos muito com um time dedicado de servidores para fazer o Rio avançar. Acertamos, erramos, buscamos aprender com os erros. Os cariocas redescobriram o Centro, com a revitalização da Região Portuária. As zonas Norte e Oeste ganharam novas áreas de lazer, obras de saneamento e urbanização. A cidade tornou-se mais integrada com um novo sistema de transportes que inclui BRTs, VLT e nova linha de metrô. As redes de saúde e educação foram ampliadas. O Rio liderou o grupo das principais cidades do mundo no combate às mudanças climáticas e recebeu em casa os maiores eventos do planeta.

Ainda assim, falta tanto a fazer. São muitos os desafios para combater a desigualdade, tornar a cidade mais inclusiva e menos violenta. Mas a lição que ficou da Olimpíada é que, mesmo em tempos difíceis, os cariocas são capazes de superar seus limites e fazer bonito. 

Com planejamento, o Rio foi capaz de organizar o mais complexo dos eventos e surpreender o mundo. E a chave para a cidade seguir se desenvolvendo está justamente na criatividade e na capacidade de trabalho do seu povo, que é único.

A maior riqueza do Rio é mesmo sua gente. São os cariocas que dão brilho às curvas e cores da Cidade Maravilhosa que exerce tanto fascínio. Percorri todos os cantos, da Zona Norte à Zona Sul, da Zona Oeste às comunidades, e testemunhei o povo mais generoso, acolhedor e tolerante. Gente que respeita e valoriza as diferenças, que festeja como ninguém, que faz qualquer um se sentir em casa, que teve paciência com as obras intermináveis e que foi capaz de me ensinar tanto. A cada carioca, meu muito obrigado.

Como prefeito, colecionei lembranças felizes e emocionantes, que já deixam saudade. Em menos de dois meses, já é carnaval, e não serei mais eu a entregar a chave da cidade ao Rei Momo para dar início aos dias de folia que tanto me alegram. Na verdade, esse é um dos muitos momentos especiais que o meu sucessor vai ter a oportunidade de vivenciar daqui para frente. A ele, meus sinceros desejos de sorte e sucesso. A mim, resta torcer e continuar trabalhando pelo Rio, desta vez não como prefeito, mas como mais um carioca apaixonado, que será para sempre grato a esta cidade.