Truman Capote, autor de "A Sangue Frio", era grande amigo de Mick Jagger. Os dois praticavam juntos o violento esporte nasal no Studio 54, discoteca de Nova York, em fins dos anos 70. O que não impediu Truman de escrever: "Se as letras dos Rolling Stones significassem alguma coisa seriam péssimas". Mick concordou, rindo.
"(I Can't Get No) Satisfaction", o maior sucesso dos Rolling Stones, fez 50 anos outro dia. A ideia de que um marco do rock foi gravado no tempo em que ainda se amarrava cachorro com linguiça é chocante – mas, quando se vê as atuais carantonhas da maioria dos roqueiros daquele tempo, hoje bisavós, entende-se. Ninguém mais velho do que um roqueiro velho.
Rola na internet um clipe dos Stones cantando "Satisfaction", com legendas em português. É uma maldade. Lendo aquilo, seus fãs brasileiros acabarão concordando com Truman Capote. Pelo que entendi, a letra fala de um sujeito que, ao ligar o rádio do carro, só escuta informações inúteis; ao assistir à TV, vê um comercial de sabão em pó e de um cigarro que não é o que ele fuma; e, ao cantar uma garota, ela o manda passear porque não está a fim. Por isso, ele não consegue "se satisfazer".
Eu também não. Habituado às letras de Stephen Sondheim, Cole Porter, Johnny Mercer, Lorenz Hart, Oscar Hammerstein, ou de Noel Rosa, Haroldo Barbosa, Vinicius de Moraes, Dolores Duran, Aldir Blanc, ou de Alfredo Le Pera, Enrique Discépolo, Jacques Prévert, Georges Brassens, Noël Coward e de tantos outros letristas criativos e articulados, passei a exigir mais.
Mick disse aos 31 anos que não se via cantando "Satisfaction" depois dos 45. Está perto dos 72 e continua. Mas ele não tem mais idade, pode cantar o que quiser. Já os ouvintes de "Satisfaction" terão sempre 13 anos mentais. Mesmo que, como Mick, também sejam bisavós.