quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Carros elétricos atrapalham o trânsito em Oslo

DA AFP, EM OSLO (NORUEGA)


Ministros da Noruega, país rico e grande produtor de petróleo, sofrem pressão pública crescente para reduzir os incentivos fiscais e outros para as vendas de carros elétricos.

"Está se tornando um problema", comentou Erik Haugstad, motorista de ônibus na região de Oslo que reclama dos muitos carros elétricos que engarrafam as pistas de ônibus, que eles têm direito de usar no país.

Os carros elétricos também são isentos do pagamento de pedágios urbanos ou das vagas em estacionamentos públicos, onde podem recarregar suas baterias de graça. Sobretudo, porém, são isentos dos altíssimos impostos sobre as vendas e do VAT (imposto sobre o valor adicionado).

A Noruega adotou os incentivos generosos para reduzir as emissões de gases estufa dos carros, responsável por 10% das emissões totais no país nórdico. A política fez tanto sucesso que hoje há 32 mil carros elétricos em circulação. É de longe o maior índice mundial de carros elétricos per capital, num país com 5,1 milhões de habitantes.

"Sou motorista de ônibus e quero transportar meus passageiros no menor tempo possível", disse Haugstad. "Por isso eu gostaria que os carros elétricos saíssem da pista de ônibus, onde me atrapalham. Esses atrasos têm um custo para a sociedade. O tempo perdido no trânsito por milhares de nossos passageiros é muito mais que o tempo ganho por algumas dezenas de condutores de carros elétricos."

Haugstad opinou que os carros podem criar um círculo vicioso: cansados de ficar parados no trânsito, os usuários de ônibus podem ceder à tentação de comprar um carro elétrico, eles mesmos, com isso agravando o problema dos congestionamentos.

Pierre Henry Deshayes/AFP
Veículos elétricos congestionam a faixa de ônibus durante o horário do rush matutino, em Oslo, capital da Noruega
Veículos elétricos congestionam a faixa de ônibus durante o horário do rush, em Oslo, capital da Noruega


13% DAS VENDAS

Um estudo feito pela Administração de Vias Públicas da Noruega num trecho movimentado de estrada na saída de Oslo revelou que os carros elétricos já representam 85% do trânsito nas pistas de ônibus nos horários de rush.
"É um assunto que comentamos muito com colegas na hora do almoço. Muitos deles são muito mais agressivos e não medem as palavras, como eu", disse Haugstad.

Ainda não foi tomada nenhuma decisão, mas parece cada vez mais provável que as autoridades tomem medidas para liberar o trânsito nas áreas congestionadas, especialmente nos horários de rush.

Enquanto isso, as vendas de carros elétricos não param de crescer. Desde o popular Leaf, da Nissan, até o Tesla S, produzido nos EUA, desde o início de 2014 eles respondem por 13% das vendas de carros novos na Noruega -muito mais que no resto do mundo.

Em março o Tesla tornou-se o carro mais vendido em um único mês na história da Noruega, não obstante seu preço relativamente alto. Embora um modelo básico custe cerca de €60 mil (US$79 mil), ainda parece uma pechincha, considerando que um preço que incluísse impostos seria aproximadamente o dobro disso.

A popularidade dos carros elétricos pegou as autoridades de surpresa. Elas previam manter os incentivos até 2017 ou até serem vendidas 50 mil unidades. A continuar o ritmo atual de vendas, esse número pode ser alcançado no início de 2015, obrigando o governo a repensar sua política de alto custo.

Só o imposto que deixa de ser cobrado responde por até 4 bilhões de coroas (£500 milhões ou US$650 milhões), segundo estimativas do governo.

"Podemos fazer ajustes para baixo no futuro", disse recentemente ao jornal norueguês "VG" a primeira-ministra, Erna Solberg. "Mas posso prometer aos condutores que o uso de carro elétrico ainda terá vantagens fiscais."


ECONOMIA

Esse compromisso do governo é importante porque 48% dos donos de carros elétricos dizem que a razão principal pela qual os compraram foi para poupar dinheiro. Segundo pesquisa da Associação Norueguesa de Veículos Elétricos, apenas 27% disseram ter comprado os carros por razões ambientais e 12% para poupar tempo em seus deslocamentos.

"Ainda é cedo para eliminar os incentivos fiscais", disse Christina Bu, secretária geral da associação, "O mercado ainda não é competitivo o suficiente", comparado ao de carros movidos a combustíveis fósseis. "Se a isenção de imposto e VAT acabar, o mercado pode desabar, e então seria difícil a Noruega alcançar suas metas climáticas. Precisamos aumentar, não reduzir, o número de carros elétricos."