O discurso do medo estava previsto na cartilha de Dilma Rousseff, mas seria usado mais adiante. A dificuldade para combater o crescimento das intenções de voto de Marina Silva fez com que a petista antecipasse a estratégia.
Ontem, os comerciais dilmistas inundaram a TV comparando Marina a Jânio Quadros e a Fernando Collor, dois políticos que chegaram ao Planalto, ficaram sem apoio no Congresso e tiveram de acabar seus mandatos antes da hora.
Mas a questão é: Marina é Collor? Outra dúvida: quantos eleitores sabem dizer quem foi Jânio Quadros? Ou seja, trata-se de estratégia arriscada. Não quer dizer que seja ineficaz. Em várias eleições recentes usou-se essa tentativa de motivar o eleitor a votar a favor não do que ele deseja, e sim contra o que ele não quer.
Em 1989, muitos escolheram Collor por medo de ter Lula na Presidência. Em 1998, mesmo com problemas na economia, os brasileiros preferiram manter FHC por temerem instalar o PT no Planalto. Em 2002 não teve jeito. O marqueteiro Duda Mendonça criou uma frase --"a esperança vai vencer o medo"--, Lula a adotou e venceu a disputa.
Em 2006, o PT espalhou na TV que o PSDB iria vender a Petrobras e outras estatais na bacia das almas. Deu Lula de novo. Há muitos exemplos também em eleições locais e estaduais, no Brasil e no exterior.
Em resumo, usar o discurso do medo às vezes funciona. Às vezes, não. O sucesso depende de inúmeros fatores, sobretudo do estado de espírito do eleitor. Por enquanto, o cenário parece ser a favor de um tipo de voto mais destemido.
No Estado de São Paulo, o Ibope informou ontem (2) que Marina Silva continua a subir.
Agora, ela tem 39% contra 23% de Dilma. O tucano Aécio Neves está com 17%. A depender do humor dos paulistas, a propaganda dilmista terá de exacerbar muito mais para disseminar o medo da mudança nesse conjunto do eleitorado.