sexta-feira, 30 de junho de 2023

'A democracia relativa de Lula, o super-homem inimputável', por Paulo Polzonoff jr.

 

O ex-condenado Lula, o inimputável, chupando uma poncã, mexerica, morgote, bergamota ou mimosa. Sei lá!| Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil


No começo do ano, quando Reinaldo Azevedo teve a duvidosa honra de entrevistar cara a cara, tête à tête, o Lula, lembro que ele fez uma pergunta que me deixou mais intrigado do que revoltado. Ele perguntou como o Lula fazia para não se sentir imortal ou invencível ou indestrutível ou qualquer coisa assim. Principalmente depois de ter sido o primeiro ex-presidiário eleito presidente do Brasil. O primeiro de muitos, suponho.

E aqui abro um parêntesis bem rapidinho para pedir desculpas. Talvez o Reinaldo Azevedo tenha usado outro adjetivo para seu rapapé travestido de jornalismo. Mas a ideia era essa e, no mais, você não vai me obrigar a assistir àquilo tudo, né? E aqui abro outro parêntesis mais ligeiro ainda para dizer que, sempre que uso “àquilo”, me lembro da velha professora de português que ensinava: não se usa crase antes do masculino. Sabe de nada, inocente!

Fechados os parêntesis, volto a Lula e a Reinaldo Azevedo para dizer que o maior vira-casaca da história recente estava certo. Lula é mesmo invencível. Imortal, no sentido político da coisa. Indestrutível. Um super-homem. A maior prova disso são as bobagens que ele vem colecionando nos últimos meses e que, na boca de um Bolsonaro qualquer, já teriam reduzido a República a escombros. O mais recente exemplo dessa indestrutibilidade de Lula é a exaltação do processo eleitoral venezuelano, seguida pela declaração surpreendentemente honesta (!?) de que “o conceito de democracia é relativo”.

Neste momento, interrompo o texto para confessar que é muito estranho usar Lula e “honesto” na mesma frase. Tive que ler uma, duas, dez vezes para ver se fazia sentido.  Até coloquei um “surpreendentemente” ali, para dar uma disfarçada. Mas não sei se o advérbio expressa toda a minha estranheza. Até porque, ao ouvir essas palavras pronunciadas na voz cavernosa de Lula, me peguei concordando com o Montesquieu de Garanhuns.


Parem as máquinas!

Difícil não concordar. Afinal, vivemos hoje a democracia mais relativa de todos os tempos. Ou pelo menos dos tempos que eu vivi. Uma democracia tão relativa que pode querer fechar rádio crítica ao governo. Uma democracia tão relativa que pode considerar um ex-presidente inelegível por causa de uma reunião à toa. Uma democracia tão relativa que abriga reunião de ditadores. Uma democracia tão relativa que... ah, você entendeu.

Mas sou obrigado a novamente evocar o nome do ex-presidente para dizer que, por muito muito muito MUITO menos, os Reinaldos Azevedos e Mírians Leitões dos Pravdas da vida pediram impeachment, Tribunal de Haia, guilhotina e paredón para Bolsonaro. Que, vamos combinar, não era exatamente um ás das palavras. Esse rigor todo dos puritanos democratas é que nunca entendi. Se bem que faço questão de não entender gente má.  Por falar em “ás das palavras”, PAREM AS MÁQUINAS!

Porque me ocorreu agora (me lembrei de “Tempos Modernos”, de Paul Johnson) que a fala de Lula revela o quanto o ex-condenado se deixou corromper pela mentalidade progressista, para a qual a fronteira entre o certo e o errado não existe. Isso talvez explique a sem-cerimônia com que ele mente, vive uma vida mentirosa e faz política idem. Afinal, qualquer psicanalista de botequim sabe que a relativização de tudo (da verdade, do Bem, do certo) é uma forma que as pessoas encontram de justificar seus piores pecados. E de conviver “em paz” com eles. Uau.


Inimputável

De volta à vaca fria, o fato é que Lula, além de invencível, é inimputável. Não no sentido em que você está pensando; no sentido de alguém que é livre para cometer quaisquer erros, sem que haja consequência. Absolutamente nada atinge o Lula, e é por isso que me incomoda essa falsíssima esperança em torno da CPI do MST ou da CPMI do 8/1. Hoje, se Lula for pego em flagrante (numa foto by ©Ricardo Stuckert, talvez?) chutando uma criança, pode apostar: vão encontrar uma forma de botar a culpa na criança.

Ou seja, temos o chefe de um poder, o Executivo, sem qualquer tipo de freio, seja ele eleitoral, moral ou institucional. Temos um presidente que fala o que quer e faz o que lhe dá na telha. E ainda há quem diga que isso é uma democracia. Viu como é mesmo relativo o conceito? (E só porque odeio terminar texto com pergunta fica aqui mais este parêntesis).


Gazeta do Povo