terça-feira, 1 de março de 2022

A palavra de ordem é ‘inovação’, diz Alan Fernandes

 Como ampliar a presença da indústria brasileira no mercado internacional

Um estudo realizado pelo IPEA sobre as exportações brasileiras identificou que a inovação tecnológica e a eficiência de escala são os dois fatores determinantes do desempenho exportador da indústrias
Um estudo realizado pelo IPEA sobre as exportações brasileiras identificou que a inovação tecnológica e a eficiência de escala são os dois fatores determinantes do desempenho exportador da indústrias | Foto: Divulgação/Shutterstock

O primeiro trimestre de 2022 já está dando mostras de como será o cenário econômico pós-pandêmico. É ponto pacífico que a covid-19 mudou o jeito de uma pessoa interagir com a outra, de estar num ambiente de trabalho, de cuidar do corpo (e do outro) e de curtir a vida. Até agora, esse novo cenário tem sido para lá de “disruptivo”, um aportuguesamento do verbo em inglês para o ato de perturbar (to disrupt) e que virou um dos jargões mais comuns entre empreendedores. Afinal, toda startup almeja (ou deveria almejar), algum dia, mudar radicalmente a forma de ganhar dinheiro nos setores em que atua — ou mesmo criar mercados em que tem vantagens sobre os concorrentes. E, nesse contexto, a exportação se tornou um caminho para lá de interessante.

Exportar é uma alternativa estratégica de desenvolvimento que propicia maior competitividade e uma dimensão global para as empresas de diferentes portes e atividades econômicas. Há muito tempo, a exportação de produtos e serviços deixou de ser uma operação exclusiva de grandes companhias. O que se tem visto cada vez mais é a participação de micros, pequenas e médias empresas no comércio internacional, que buscam expandir os seus negócios para outras fronteiras. Ainda há um enorme espaço para o ingresso de novos empreendimentos brasileiros na atividade exportadora que pode ser aproveitado. Contudo, muitas vezes essas oportunidades não são exploradas pelas pequenas empresas por falta de conhecimento e domínio de processos, regras e participação no Comércio Internacional.

No ano passado, segundo o Ministério da Economia, quase 29 mil empresas brasileiras venderam produtos ao exterior — um recorde da série iniciada em 1997. Desse total, 5,4 mil exportaram alguma mercadoria nacional pela primeira vez, maior patamar em 15 anos e que corresponde a uma alta de 9,6% em relação ao ano anterior, de acordo com um levantamento feito pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos. O número de novas empresas exportadoras cresce ano a ano, com uma taxa média anual de 7,3% de 2015 (um dos anos da recessão antes da pandemia) a 2020. E para quem está de olho nesse mercado, mas ainda não conseguiu romper as barreiras internacionais, o ideal é levar em consideração que esse negócio tem uma série de peculiaridades a serem consideradas para que a empresa não se perca no campo das boas intenções. Existem três pontos básicos, que podemos chamar de script, para quem almeja a internacionalização.

O primeiro é ter em mente a questão da cultura da exportação. Desmistificar que para começar a exportar é necessário que a empresa alcance o mercado do bairro, depois da cidade e assim sucessivamente. É possível vender produtos para outros países independentemente do tamanho ou da capilaridade da empresa, e até mesmo criar negócios com foco exclusivo no mercado internacional.

A segunda diz respeito ao planejamento. É preciso preparar o negócio para alcançar a capacidade de levar o produto do ponto A para o ponto B, levando em conta todos os aspectos envolvidos. Não adianta achar que é possível exportar de uma hora para outra ou que o produto que faz sucesso aqui vai automaticamente fazer sucesso lá fora. Existe um processo, de médio a longo prazo a ser considerado. E buscar entender essa cadeia pode fazer toda a diferença. Por último é fundamental entender qual é a maturidade do negócio para lidar com o mercado internacional. Ter consciência do próprio produto e processos para, aí, então, ver o que precisa ser melhorado ou mesmo destacado numa campanha de promoção.

Um estudo realizado pelo IPEA sobre as exportações brasileiras identificou que a inovação tecnológica e a eficiência de escala são os dois fatores determinantes do desempenho exportador das indústrias brasileiras. Aquelas que realizam inovação tecnológica têm 16% mais chances de serem exportadoras que as que não fazem inovações. Além disso, o aumento de 20% na eficiência de escala média das corporações na indústria brasileira aumentaria em 4,2% a probabilidade de uma empresa ser exportadora.

Os resultados obtidos parecem, portanto, dar suporte à ideia de que políticas horizontais, que busquem ampliar a inserção da indústria brasileira no comércio internacional de bens nos quais o padrão de competição ocorre pela inovação tecnológica, podem ser bem-sucedidas, pois, afinal, inovação tecnológica é um dos determinantes das exportações brasileiras. Esses resultados indicam também que existe um pool de empresas que não exportam, mas que poderiam estar inseridas no comércio internacional, desde que superados problemas competitivos internos e que afetam a sua competitividade no mercado externo, como eficiência de escala e propensão a inovar.

Esse ensaio realizado pelo IPEA, intitulado “Inovação tecnológica, eficiência de escala e exportações brasileiras”, daria margem para análise em um artigo exclusivo dedicado ao assunto. Mas, por ora, o que vale a pena considerarmos é que a inovação é o que mantém um negócio em constante processo de evolução. Nessa lógica, sempre é válido lembrarmos do ensinamento de Nolan Bushnell, fundador da empresa Atari: se você contar sua ideia para 10 pessoas e 9 delas disserem que está maluco, provavelmente você está fazendo algo inovador.

Leia também: “A Ucrânia balança o mundo”, artigo publicado na Edição 101 da Revista Oeste


*Alan Fernandes é empresário, filantropo, investidor em ativos digitais, pesquisador, patrocinador cultural, exportador e curador de negócios de pequenas e médias empresas.

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