O presidente dos EUA, Joe Biden| Foto: Olivier DOULIERY/AFP
"É a fórmula implícita de Biden", afirma a publicação Axios. "Fale como um bipartidário otimista; aja como um partidário implacável".
Isto, de fato, é verdade. E a essa máxima podemos acrescentar algumas outras. Fale como um moderado; aja como um radical. Fale sobre normalidade; aja como um revolucionário. E, em todas as fases, esconda o jogo agressivamente. Os especialistas progressistas começaram a dizer que Biden representa um problema para os conservadores porque ele é muito "chato". Essa é uma maneira de ver as coisas, certamente. Outra, é que ele é uma fraude. O homem que concorreu para levar o país de volta à normalidade – e cujo partido evitou um governo republicano com poder total em Washington por apenas 90.000 votos – agora diz que quer ser Franklin D. Roosevelt. Que os céus ajudem a todos nós.
Se alguém realmente pensa que Biden é "chato", é porque, tendo ficado atordoado com o Trump Show dos últimos quatro anos, está levando em conta apenas o estilo do novo presidente. Se passaram cem dias desde a posse de Biden e dificilmente há uma única parte da vida americana que o homem não esteja tentando mudar. Ele quer gastar 6 trilhões de dólares; elevar os impostos ao nível mais alto em três décadas; aumentar o salário mínimo para US$ 15 nacionalmente; transformar o Senado em Câmara e a Suprema Corte em Senado; supervisionar uma tomada de controle federal sobre as eleições e a polícia; forçar o maior número possível de trabalhadores a se sindicalizar, ao mesmo tempo em que quer banir leis estaduais que protegem os empregados de serem forçados a pagar taxas aos sindicatos; proibir o rifle mais comum nos Estados Unidos; e muito mais além disso. Biden defende algumas dessas coisas abertamente. Outras, ainda não.
Aquele projeto de “alívio Covid” de US$ 2 trilhões de que você ouviu falar? Não era realmente sobre auxílio para a pandemia. O projeto de lei da “infraestrutura”? Não se trata realmente de infraestrutura. A proposta das “Famílias”? Você já consegue ter uma ideia. Nem os conteúdos são descritos com precisão. Duzentos bilhões de dólares em novos gastos com Obamacare: para Biden, isso é um "corte de impostos", aparentemente. “Sem aumento” no imposto de propriedade? Bem, a menos que você desconsidere a proposta de Biden para aumentar impostos sobre ganhos de capital. É como se, tendo finalmente sido eleito presidente após 50 anos na política, Joe Biden tivesse decidido promover todas as prioridades que seu partido jamais conseguiu cumprir.
A arrogância é impressionante e alarmante em igual medida. Joe Biden ganhou a Casa Branca por cerca de 40.000 votos. O Senado está empatado, com 50 republicanos e 50 democratas. Os democratas perderam várias cadeiras na Câmara e não fizeram nenhum progresso nos estados. Quem em sã consciência acredita que o eleitorado estava enviando a Washington, D.C., um sinal para destruir o cenário político?
Graças aos senadores democratas Joe Manchin e Kyrsten Sinema, grande parte da ambição de Biden pode permanecer irrealizada. Teremos, porém, grandes quantidades de gastos, cujas consequências a longo prazo são quase impossíveis de exagerar. No nível que estamos, sair do buraco será um desafio. Depois que o mandato de Biden terminar, o procedimento amarrará as mãos dos legisladores por décadas ainda. No dia em que Biden fez seu juramento presidencial, o governo federal estava prevendo gastar US$ 1,8 trilhão a mais do que arrecadou, os custos com saúde e aposentadoria continuavam em sua trajetória ascendente e a dívida nacional havia ultrapassado o PIB anual pela primeira vez desde Segunda Guerra Mundial. Entre os cortes de impostos de 2017 que diminuíram as receitas, nossa relutância bipartidária em tocar em direitos de forma significativa e o desastre caro que foi a Covid-19, o Tesouro americano foi levado ao ponto de ruptura. A resposta moderada a isso, no início do ano, teria sido nada fazer – exceto, talvez, esperar para descobrir quais problemas específicos e potencialmente imprevistos a pandemia havia deixado em seu rastro. Em vez disso, Biden canalizou seu Ramsés II interior.
A candidatura de Biden sempre existiu em tela dividida, com o próprio homem insistindo que era um moderado e os especialistas que o apoiaram fazendo vista grossa. Mas não adianta fingirmos que ele não se vendeu como uma trégua da implacável ambição da esquerda. “Eu sou o Partido Democrata agora”, disse Biden a Donald Trump, depois que Trump sugeriu que ele era um radical. “A plataforma do Partido Democrata é o que eu, de fato, aprovei, o que aprovei”. Para enfatizar, Biden acrescentou: “O fato é que venci Bernie Sanders”. Isto é verdade. Mas se ele não tivesse, o que, com exceção da viabilidade dos democratas na última eleição, teria mudado? O próprio Sanders deixou de dizer a Biden que ele deve fazer mais para agradar os progressistas e passou a elogiá-lo. E por que não iria? O mandato de Biden, relata o New York Times, rendeu "um rápido avanço nas prioridades progressistas, mas também um realinhamento das forças econômicas, políticas e sociais" – uma surpresa, dado que Biden "fez campanha como uma força moderadora".
Uma surpresa, de fato. Mas não uma reviravolta que lhe renderá dividendos políticos por muito mais tempo. O falso Biden foi exposto.
* Charles C. W. Cooke é redator sênior da National Review.
Gazeta do Povo