Em Lavagem Cerebral, menino-prodígio do conservadorismo demonstra como as principais instituições de ensino superior dos EUA tornaram-se instrumentos de propaganda ideológica marxista
Outrora a força motriz do desenvolvimento científico, as universidades brasileiras, sobretudo os cursos de Ciências Humanas e Sociais, tornaram-se antros de doutrinação ideológica marxista, empenhados tão somente na propagação de ideias que subvertem os valores construídos a duras penas, em longo processo de tentativa e erro, pela civilização ocidental. No entanto, a degradação do ambiente universitário não é privilégio dos brasileiros, conforme explica Ben Shapiro em seu livro Lavagem Cerebral: como as universidades doutrinam a juventude. As instituições de ensino superior norte-americanas, tão estimadas pelos rankings mundiais especializados, também padecem do mesmo mal.
O ataque à tradição judaico-cristã; a negação de valores morais absolutos; a demonização do capitalismo; o estímulo à libertinagem e o culto ao ambientalismo são apenas alguns dos preceitos diuturnamente disseminados por parte majoritária do corpo docente das universidades dos Estados Unidos. Consequência do proselitismo ideológico em sala de aula é a corrupção da inteligência dos calouros, que, por ostentarem a imaturidade inerente à juventude e o parco conhecimento condizente com o de um aprendiz, deixam-se seduzir por discursos que soam bem aos ouvidos, mas que não compõem um todo harmônico quando aplicados na realidade, conforme atestara o desafinado século XX.
Ao longo de 244 páginas, Lavagem Cerebral escancara o semblante farsesco de algumas das principais instituições de ensino superior do mundo, como Universidade Harvard, Universidade Pensilvânia, Universidade Yale, Universidade Princeton, Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), Dartmouth College et cetera, que, segundo Ben Shapiro, transformaram-se em centros de formação de militantes políticos que atuam como fantoches do Partido Democrata.
Para fortalecer sua tese, o jovem conservador ampara-se em pesquisas realizadas por institutos independentes; em declarações proferidas por professores e reitores; na análise das disciplinas disponibilizadas pelas universidades, bem como no exame minucioso das referências bibliográficas recomendadas aos estudantes, de maneira a entender se aos universitários são oferecidas fontes diversas de conhecimento, sem o predomínio de uma visão ideológica específica; e, não menos importante, na experiência prática, vivenciada ao longo dos anos em que esteve na UCLA e em Harvard, onde graduou-se em Direito.
O leitor encontra, em Lavagem Cerebral, a habilidade argumentativa e a contundência que consagraram o menino-prodígio do conservadorismo no debate público dos Estados Unidos. Em determinado trecho da obra, por exemplo, a professora Camille Paglia, da Universidade de Artes da Filadélfia, defende abertamente pautas seculares. “Sou a favor dos direitos ao aborto. Sou a favor da legalização das drogas. E não sou simplesmente a favor da descriminalização, mas também da legalização da prostituição”. Para rebater sua contendora, Ben Shapiro faz a seguinte provocação: “Camille Paglia quer legalizar a prostituição porque os professores recebem mal?”
Como descreve o autor mais adiante, o discurso da preletora na Universidade de Artes da Filadélfia explica o resultado da pesquisa realizada pela Luntz Research Associates: apenas um de cinco professores frequenta cultos religiosos uma vez por semana, comparados a 40% do público geral; outros 48% dos professores afirmam que raramente ou nunca frequentaram um culto religioso. O efeito de um corpo docente avesso à tradição judaico-cristã é o afastamento dos jovens da religiosidade, conforme apontam Thomas Hargrove e Guido H. Stempel III. Enquanto 77% dos alunos que acabaram de sair do ensino médio acreditam em um Deus ativo, assim que concluem a graduação essa taxa cai para 65%. Como diz Ben Shapiro, “Deus não é mais bem-vindo na universidade; a não ser, claro, que ele se disfarce de professor”.
Em outra passagem de Lavagem Cerebral, o jovem republicano ilustra como as universidades norte-americanas estão inundadas de discursos anticapitalistas. Segundo ele, durante uma aula de Geografia na UCLA, o professor Joshua Muldavin pediu aos alunos que lessem um texto acerca da maneira como “os sistemas voltados ao mercado de produção e distribuição não têm bons antecedentes quando se trata de prover alimento para o povo, ou de lidar com as bases da pobreza que condenam à fome mais de um quarto da população mundial”. Ben Shapiro, sem pestanejar, ironizou: “Surpreendente. Da última vez que dei uma olhada, sistemas ‘não voltados ao mercado’ mataram vinte milhões de fome na URSS, trinta milhões na China e milhões mais mundo afora. Devo ter perdido a parte da história nos EUA em que o sistema voltado ao mercado matou milhões de cidadãos”.
O discurso socialista não se restringe ao corpo docente — ele também ecoa na alma dos universitários, segundo pesquisa realizada pelo Daily Bruin, jornal da UCLA, com alunos do terceiro e quarto anos da faculdade. Durante as eleições presidenciais de 2000, o democrata Al Gore, ferrenho defensor de intervenção estatal na economia, recebeu 71% dos votos dos alunos, enquanto o republicano George W. Bush, avesso à criação de impostos e defensor do livre mercado, recebeu apenas 20%. Ralph Nader, candidato do Partido Verde, ficou em terceiro, com 9%. O abismo entre o representante dos democratas e o candidato republicano é de cinquenta pontos porcentuais. Em outra pesquisa, desta vez focada em conhecer a opinião dos calouros, foi constatado que 29,9% dos universitários caracterizam suas visões políticas como de “esquerda” ou “extrema-esquerda”, ao passo que 20,7% consideram-se conservadores ou de “extrema-direita”. Nesse caso, a diferença é de apenas dez pontos porcentuais.
Para combater o viés progressista nas universidades norte-americanas, Ben Shapiro propõe uma solução multifacetada: (1) retenção de verba, que consiste em mobilizar os investidores conservadores para que tirem seu dinheiro das grandes faculdades e exijam ensino mais justo e equilibrado como condição para reinvestir seu capital; (2) fundação de novas universidades, com o objetivo de desmantelar o monopólio das grandes instituições, atualmente utilizadas como instrumento de promoção de pautas marxistas; (3) financiamento de instituições que desenvolvem rankings universitários, com a intenção de inserir as universidades conservadoras no seleto grupo de entidades respeitadas, encorajando grandes empresas a contratar universitários de direita; e (4) criação de periódicos conservadores, usando como exemplo a Fox News, que rompeu com o monopólio midiático da narrativa progressista da CNN, tornando o cenário de notícias menos desequilibrado ideologicamente.
“Sim, não será fácil estabelecer universidades conservadoras financiadas sem verba pública. Sistemas legítimos de avaliação e classificação — os rankings das universidades — não aparecerão da noite para o dia. Assim, a solução de curto prazo é ter pais que cuidem dos filhos”, pondera Ben Shapiro, na conclusão da obra. “Resumindo: se o pai e a mãe souberem ensinar consistentemente o certo e o errado, como eu mesmo aprendi com os meus pais, seus filhos chegarão à idade universitária preparados para combater os golpes esquerdistas desferidos pelos professores”, conclui o escritor.
Edilson Salgueiro, Revista Oeste