quarta-feira, 17 de junho de 2020

Venda de ativos da Oi gera pressão por adiamento do leilão do 5G

O plano da Oi para vender uma série de ativos ao longo dos próximos meses provoca, como efeito colateral, pressão para que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) adie o leilão do 5G. Nos bastidores, agentes do setor dizem que o bolso das empresas é um só, portanto não haveria dinheiro suficiente para bancar dois investimentos tão volumosos ao mesmo tempo. Ao manter o leilão, simultaneamente às vendas da operadora em recuperação judicial, seria colocado em risco a adesão das empresas ao leilão de 5G.

Liquidação. A revisão no plano de recuperação judicial da Oi – anunciado hoje e que ainda será submetido à aprovação dos credores – prevê a venda de um total de R$ 22,8 bilhões em ativos: redes móveis (R$ 15 bilhões), torres de transmissão (R$ 1 bilhão) e data centers (R$ 325 milhões), além de uma fatia do segmento de fibra ótica (R$ 6,5 bilhões). As transações ocorrerão por meio de leilões judiciais a serem realizados entre o quarto trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2021, de acordo com cronograma da Oi. As rivais TIM e Vivo, por exemplo, estão perto de fazer uma oferta pelas redes móveis.
Com a palavra. O presidente da Anatel, Leonardo de Morais, negou à Coluna quaisquer intenção de condicionar o leilão do 5G ao cronograma da Oi. “Não podemos condicionar a perspectiva do leilão, uma oportunidade singular para fazer valer políticas públicas e para promover investimentos, à qualquer movimento relacionado à fusões e aquisições”, disse. “Espectro é oxigênio. As empresas irão para o leilão mesmo no contexto desse engajamento (aos ativos da Oi). Além disso, estamos formatando um leilão menos lastreado numa perspectiva arrecadatória e mais com viés de compromissos de investimentos”.
Mais pressão. A Anatel ainda não data definida para o leilão de 5G. A agência já concluiu a etapa de audiências públicas sobre a nova tecnologia, mas ainda precisa resolver pendências sobre interferências de outros sinais. Além disso, há uma disputa diplomática em andamento, com o governo dos Estados Unidos trabalhando para bloquear a participação da chinesa Huawei como fornecedora de equipamentos para redes de 5G no Brasil. Com tudo isso em jogo, o leilão da nova tecnologia deve ocorrer só em meados de 2021.

Circe Bonatelli, O Estado de São Paulo