Financiamento estrangeiro de antifas passou a ser cogitado após similaridade e timing de movimentos no Brasil e nos Estados Unidos. Polícia Federal já foi acionada
O Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), que conta com o apoio de órgãos como a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a Polícia Federal (PF), passou a acompanhar com afinco as manifestações antifascistas, desencadeadas durante a semana. Os protestos e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba do último domingo, 31 de maio, entraram no radar dos órgãos de inteligência. Líderes estão sendo monitorados. Há suspeita de envolvimento de movimentos sociais mais radicais e de financiamento estrangeiro das mobilizações.
O monitoramento de protestos, como os dos”antifas”, é um procedimento padrão dos órgãos de inteligência. Assim, é natural que movimentos de rua de qualquer natureza política ou social sejam acompanhados de perto. Isso aconteceu nos protestos de 2013. Igualmente, nas mobilizações da Copa do Mundo de 2014 e durante o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016. Os órgãos coletam informações de sua área de competência. Depois produzem relatórios de inteligência destinados ao assessoramento estratégico da Presidência ou para interesse dos respectivos órgãos integrantes do Sisbin.
Os “antifas”, contudo, chamaram a atenção dos órgãos de inteligência. O Sisbin não foi surpreendido pelas ocupações nas ruas, mas pela atuação coordenada dos grupos. Sobretudo porque os protestos ocorreram simultaneamente às manifestações dos Estados Unidos, onde alguns de seus integrantes vandalizaram propriedades públicas e privadas.
Movimentos similares
A similaridade e o timing dos dois movimentos foram considerados atípicos pelos órgãos de inteligência do governo. Há suspeitas de que os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, dos Estados Unidos, estejam na mira de atores da esquerda política que desejam neutralizá-los. E, justamente por isso, o sistema de inteligência já investiga a possibilidade de financiamento estrangeiro de antifas. Dos protestos ou de líderes das manifestações.
Embora os movimentos “antifascistas” no Brasil e nos Estados Unidos tenham características orgânicas, há suspeitas de que militantes de partidos de esquerda estejam, no mínimo, aproveitando-se das manifestações para criar um clima de instabilidade política. A princípio, estão sendo monitorados líderes, organizadores e coordenadores; com quem se associam e como promovem as convocações às ruas. Além disso, o Ministério da Justiça já solicitou que a Polícia Federal instaure inquérito para responsabilizar criminalmente pessoas envolvidas em atos de depredação em todo o país.
Há o receio por parte dos setores de inteligência do governo federal de que esses movimentos possam trazer desdobramentos mais drásticos. Por exemplo, rebeliões em presídios provocadas por facções criminosas ou ações que obriguem o governo a acionar as Forças Armadas para conter as manifestações.
Teme-se que a eventual edição de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) por conta dos protestos acirre ainda mais os ânimos e seja interpretada por outros poderes — Câmara, Senado e Supremo Tribunal Federal (STF) — como uma investida autoritária do Executivo.
Para evitar um cenário como esse, os grupos vêm sendo acompanhados por órgãos de inteligência do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, da PF, da Polícia Rodoviária Federal (PRF), do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e da Agência Brasileira de Inteligência. A intenção é punir os ativistas mais radicais ou os que estiverem envolvidos em atos de vandalismo.
“Terroristas”
O presidente da República deu sinais sobre o monitoramento de “antifas” pelos órgãos de inteligência. Ontem, sexta-feira 5, em Águas Lindas (GO), Bolsonaro disse que “não está previsto na nossa inteligência movimento na região de Goiás”, indicando claramente o acompanhamento dos protestos em todo o país pelo Sistema Brasileiro de Inteligência. “Não sei se estou equivocado ou não, mas, onde tiver, a gente pede que o pessoal não participe desse movimento”, destacou.
Em novas críticas, Bolsonaro voltou a classificar esses manifestantes de “terroristas”. “Geralmente são marginais, terroristas, maconheiros, desocupados que não sabem o que é economia, não sabem o que é trabalhar para ganhar seu pão de cada dia e querem quebrar o Brasil em nome de uma democracia [que] nunca souberam o que é e nunca zelaram por ela”, acusou o presidente.
Rodolfo Costa, Revista Oeste