quarta-feira, 17 de junho de 2020

“Filhos da luz” versus “filhos das trevas”: Como a carta do Arcebispo Viganò a Trump vale também para Bolsonaro, por Carlos Adriano Ferraz


Recentemente (07/06) o Arcebispo Carlo Maria Viganò divulgou uma carta impressionante e reveladora, a qual ele encaminhou ao Presidente estadunidense Donald Trump.
No entanto, embora ele a tenha endereçada a Trump, tenho a impressão de que ela também deveria ser lida com atenção pelo nosso Presidente, Jair Bolsonaro, e por seus aliados (e aqui incluo, como sua aliada, a população brasileira “de boa vontade”).
Por que tal carta é essencial para que possamos compreender nosso contexto?
Primeiramente, ela expõe algo que mesmo supostos religiosos ou negam ou simulam não existir, a saber, a “batalha espiritual eterna entre as forças do bem e do mal”, uma batalha cuja natureza é, como assevera o Arcebispo Viganò, bíblica.
Em sua carta ele prossegue, afirmando que “de um lado estão aqueles que, embora tendo milhares de defeitos e fraquezas, são motivados pelo desejo de fazer o bem, de ser honesto, de criar uma família, de atuar no trabalho, de trazer prosperidade à sua pátria, de ajudar os necessitados, e, em obediência à Lei de Deus, de merecer o Reino dos Céus”.
Ou seja, de um lado temos os “filhos da luz”, os quais, ainda que longe da perfeição, buscam por tudo aquilo que nos possa assegurar a prosperidade humana universal. E aqui não falo apenas de bonança material, mas sobretudo de prosperidade “espiritual”, moral (plena realização humana – beatitude, “florescimento humano”).
No entanto, “do outro lado estão aqueles que servem a si próprios, que não possuem quaisquer princípios morais, que desejam destruir a família e a nação, explorar os trabalhadores para se tornarem injustamente ricos, fomentar divisões internas e guerras, e acumular poder e dinheiro: para eles a ilusão falaciosa do bem-estar temporal irá algum dia, se não se arrependerem, lucrar-lhes o terrível destino que os aguarda, distante de Deus, na danação eterna”.
Aqui temos, então, os “filhos das trevas”, ou seja, aqueles que intentam aguerridamente destruir os pilares civilizacionais e, consequentemente, a humanidade mesma. Parece-me que, desde o final do século XIX, acompanhamos uma bem planejada e resoluta guerra dos “filhos das trevas” contra todas as instituições e valores que floresceram desde a tradição judaico-cristã, como dignidade da pessoa humana, liberdade, fomento às virtudes (sejam elas ‘cardeais’ – justiça, fortaleza, temperança e prudência – ou, mesmo, ‘teologais’ – fé, esperança e caridade), etc.
Tendo isso em mente, passamos, então, a compreender qual a razão de todas as investidas perversas perpetradas pelos “filhos das trevas” para fazer colapsar nossas instituições de ensino, políticas, judiciais e, mesmo, religiosas.
Os mesmos “filhos das trevas” que corrompem a educação e a justiça têm corrompido, inclusive, a fé. Aliás, eu gostaria de acrescentar aqui um relato que talvez venha ao encontro da carta do Arcebispo Viganò, a saber, o da visão diabólica que arrebatou o Papa Leão XIII (1810-1903) entre 1884 e 1886, a qual o inspirou a escrever a famosa oração de São Miguel Arcanjo, a qual foi incluída, em 1886, no término de todas as Missas (tendo posteriormente desaparecido gradualmente, conforme a “fumaça de Satanás” – “deep church” - poluía a Igreja).
Sobre sua visão, no livro “Pope Leo XIII and the prayer to St. Michael”, de Kevin Symonds, é relatado que, segundo testemunhos documentados, o Papa Leão XIII teve, durante a celebração de uma Missa, uma visão perturbadora que causou uma expressão de horror em seu rosto.
Segundo o relato de um Cardeal que conhecia o secretário pessoal do Papa Leão XIII, ele teria tido, sim, uma visão de espíritos diabólicos. Assim, conforme relatos daqueles que eram próximos a ele, ele testemunhou um diálogo entre Jesus e Satanás, de acordo com o qual, diante da afirmação do próprio Satanás de que ele poderia destruir a Igreja, Jesus teria, então, o autorizado a tentar destruí-la, dando a ele em torno de um século para corromper a Igreja e aqueles que a ela (e seus valores) se entregam.
O curioso desse evento é a data aproximada de sua ocorrência: ele teria se dado em torno da criação da Sociedade Fabiana, a qual foi fundada em 1884 e pretendia causar, gradual e lentamente, uma transformação social, fazendo com que a civilização tal como a conhecemos (cultura Ocidental, a qual é inerentemente fundada na tradição judaico-cristã) simplesmente colapsasse. Por essa razão, desde o início a Sociedade Fabiana foi, tal como o socialismo em todas as suas formas, hostil ao Cristianismo e ao ser humano como centro da criação (criado à semelhança de Deus).
A ideia do fabianismo sempre foi “reconstruir” a sociedade mundial e, mesmo, o ser humano (daí seu apreço pela eugenia), estabelecendo outros princípios, os quais são antípodas dos valores referidos acima (dignidade da pessoa humana, liberdade e virtudes, por exemplo). Por essa razão algumas ideias lesivas à cultura Ocidental (cuja “alma”, por assim dizer, é, conforme a erudita obra do historiador Christopher Dawson, o Cristianismo) foram concebidas e levadas adiante pelo fabianismo a partir de sua influência cada vez maior sobre nossas instituições, inclusive religiosas.
Em sua formação, em 1884, estavam presentes diversos intelectuais influentes, como George Bernard Shaw, H.G. Wells, Bertrand Russell, Virginia Woolf, Eleanor Marx (filha de Karl Marx), Cecil Rhodes (conhecido magnata e colonizador, foi um defensor da supremacia branca e responsável por um dos maiores genocídios de negros africanos – estima-se que 60 milhões de mortes podem ser atribuídas a ele) e John Maynard Keynes (economista intervencionista – antiliberal, pois - cuja influência sobre a economia mundial é incontestável). Talvez não tão conhecida atualmente estava também a escritora ocultista Annie Wood Besant.
Posteriormente H.G. Wells (1866-1946) inclusive escreveu obras intituladas “Nova Ordem Mundial” (1939) e “Conspiração Aberta” (1928), em que ele aborda a ideia de uma ordem global, muito semelhante a ideias hoje em voga e advogadas pela elite econômica mundial (‘deep state’), a qual tem avançado, no âmbito dos costumes, uma agenda que envolve eugenia, prática trivial do aborto, destruição da família ‘tradicional’ (homem, mulher e filhos oriundos dessa relação), estimulo à promiscuidade (o que inclui fomentar a sexualidade mesmo nas crianças), incitação ao uso “recreativo” de drogas, etc.
No âmbito político pretendem um cada vez mais rigoroso cerceamento da liberdade em todas as suas expressões, exceto, é claro, quando a “liberdade” de expressão está em acordo com essa mesma elite (‘deep state’) e sua agenda perniciosa, ou quando a liberdade se torna licenciosidade, como no caso da liberação da pornografia, por exemplo, em que essa suposta “liberdade” (na verdade, licenciosidade) é causa de diversos flagelos sociais. Ou alguém realmente acredita que se trata de mera “coincidência” a censura, em redes sociais (como YouTube e Facebook), especialmente contra cristãos e demais conservadores? Observem o seguinte: as redes sociais (a mídia em geral) são dominadas pelo ‘deep state’.
Além disso, no plano judicial visam à liberação de criminosos mediante sua “vitimização”. No plano educacional, por seu turno, estimulam a estultice ao invés da sabedoria, negando, por exemplo, a verdade e defendendo ideias torpes como o relativismo e o multiculturalismo, inclusive relativizando a beleza, o justo, o certo, etc.
Mas, para compreendermos essa apologia à degenerescência, precisamos atentar para algumas das ideias que subjazem a esse projeto, as quais podem ser esclarecidas se conhecermos um pouco mais sobre seus mentores.
A referida Annie Wood Besant, uma das fundadoras da sociedade Fabiana, era simpática às práticas ocultas. Na volumosa (mais de mil páginas) biografia de Aleister Crowley, “Perdurabo: The Life of Aleister Crowley” (2002), escrita por Richard Kaczynski, descobrimos que ela e Crowley (considerado o mais importante satanista dos tempos modernos, o qual se autointitulava “a besta 666”) estiveram muito próximos em práticas satanistas.
Além dela há também a sacerdotisa da ‘Ordem Hermética da Aurora Dourada’ (Golden Dawn), a ativista feminista Beatrice Farr, que por alguns anos foi amante de George Bernard Shaw, um dos fundadores da sociedade Fabiana. Farr foi amiga de Crowley, sendo que ambos frequentaram a Golden Dawn.
Abordei essas aproximações (entre socialismo e luciferianismo) nesses textos:
Mas, embora o mal acompanhe nossa história, uma vez que desde a origem fazemos más escolhas, ou seja, somos dotados de “milhares de defeitos e fraquezas”, o mal parece ter se consolidado em instituições coordenadas pelos “filhos das trevas”, os quais são incansáveis em seu propósito.
Ocupando posições relevantes na política, no judiciário, na economia, na mídia e, sobretudo, nas universidades, tais “filhos das trevas” têm levado resolutamente a efeito suas ideias terríveis.
Acima eu falava na violação da dignidade da pessoa humana. Quanto a isso em particular, vejamos algumas de suas ideias, fortemente ligadas à eugenia e ao aborto. Em uma entrevista de novembro/1991 (‘The UNESCO Courier) o notório oceanógrafo Jacques Cousteau disse que “a população mundial deve ser estabilizada, e para fazermos isso precisamos eliminar 350 mil pessoas por dia”.
A famosa fundadora da agência de abortos ‘Planned Parenthood’, responsável por pelo menos metade dos abortos nos USA, não apenas era conhecida como defensora da eugenia, oferecendo palestras para as “senhoras da Klu Klux Klan”, razão pela qual as agências da ‘Planned Parenthood’, desde a origem, se situam nos arrabaldes de bairros cuja população é majoritariamente negra e/ou pobre, mas também disse (no livro “Woman and the New Race”, 1920), que “a coisa mais misericordiosa que uma grande família pode fazer por um de seus membros infantis é matá-lo”.
Esses são somente alguns exemplos, uma vez que a lista daqueles que desejam eliminar a maior parte da população, antes ou depois do nascimento, é imensa. Uma vez que o Arcebispo Viganò mencionou o ‘deep state’, ou seja, aquelas pessoas e organizações que comandam o mundo sub-repticiamente, vejamos apenas o exemplo do “Clube de Roma”, do qual os principais defensores da ‘nova ordem mundial’ fazem parte.
Comecemos pelo conhecido fundador da CNN (uma das maiores emissoras de notícias do mundo), que agora está no Brasil, Ted Turner. Segundo ele, “um total de população mundial de 250-300 milhões de pessoas, um declínio de 95% do nível atual, seria o ideal”.
Sua afirmação está em pleno acordo com alguns documentos do “Clube de Roma”. Cito apenas dois: “Mankind at the turning point”, de 1974: “A Terra tem um câncer e o câncer é o homem”. “Goals for Mankind”, de 1976: “O resultado populacional ideal sustentável é pouco mais de 500 milhões, mas menos de um bilhão”.
Também membro do “Clube de Roma”, o biólogo Paul R. Ehrlich afirma, no livro “The Population Bomb” (1968) que “um câncer é uma multiplicação descontrolada de células; a explosão populacional é uma multiplicação descontrolada de pessoas ... devemos voltar nossos esforços do tratamento dos sintomas para o corte do câncer. A operação demandará decisões aparentemente brutais e cruéis”.
Henry Kissinger, o qual foi assessor de segurança nacional, assim como secretário de estado dos presidentes Richard Nixon e Gerald Ford, bem como aconselhou diversos outros presidentes em assuntos de política internacional, afirmou que “a população mundial deve ser diminuída em 50%”.
Detalhe: ele recebeu o prêmio Nobel da paz em 1973.
Tal como muitos outros membros do “Clube de Roma”, Kissinger faz parte de outras associações globalistas, como “Bilderberg Group”, “Bohemian Club”, “Council on Foreign Relations”, “Trilateral Commission”, para nomear apenas algumas. Outros membros ilustres do “Clube de Roma” também insistem nessa necessidade de diminuirmos a população mundial radicalmente.
Mikhail Gorbachev, por exemplo, afirmou que “devemos falar mais claramente sobre sexualidade, contracepção, aborto e valores que controlem a população, pois a crise ecológica, em resumo, é a crise da população. Corte a população em aproximadamente 90% e não haverá muitas pessoas para causar grande dano ecológico”. Detalhe: Gorbachev também foi agraciado com o Nobel da paz.
Outro membro ilustre do “Clube de Roma”, o Príncipe Philip, Duque de Edinburgh (marido da Rainha da Inglaterra, Elizabeth II), disse que “se eu reencarnasse, eu gostaria de retornar à Terra como um vírus assassino para diminuir os níveis da população mundial”.
O grande investidor em vacinas para serem aplicadas sobretudo em populações de países pobres, Bill Gates, tem insistido, em diversas entrevistas, na necessidade de um “controle populacional”. A lista é imensa, mas parece que a elite econômica mundial tem esse ponto em comum: a defesa da diminuição populacional radical.
Não apenas isso, em acordo com a “filosofia” do luciferianismo, a qual pretende “melhorar” o ser humano mediante intervenção científica (eugenia), ela insiste em práticas como eutanásia, aborto e, mesmo, infanticídio, especialmente contra os mais vulneráveis (chamados, pelo nazismo, de “comedores inúteis”).
Afinal, uma população menor é mais facilmente controlável. A questão não é preocupação ecológica, mas manutenção do poder e seleção daqueles que são “dignos de viver”, algo muito semelhante ao que ocorria no nazismo, outra expressão do luciferianismo.
Agora, cabe perguntar: que é revelado do caráter de alguém que defende um “corte da população”, ou, que “a coisa mais misericordiosa que uma grande família pode fazer por um de seus membros infantis é matá-lo”? Essas afirmações nos dizem muito sobre aqueles que sustentam tal leviandade perversa.
E essa é a “moralidade” do ‘deep state’, daqueles que fomentam a eugenia, o aborto, a eutanásia e todas as formas de violação da dignidade da pessoa humana e, mesmo, da liberdade. Nesse momento está escancarada a “batalha espiritual eterna entre as forças do bem e do mal”. Se até pouco tempo essa batalha era oculta, isso se dava porque o mal estava avançando sem resistência.
Agora, contudo, a resistência dos “filhos da luz” trouxe os “filhos das trevas” às claras. Como disse o Arcebispo Viganò, os “filhos das trevas” “decidiram mostrar suas cartas”. Nesse sentido, o caos mundial em que estamos imersos nesse momento resulta de uma espécie de “espasmo” das forças do mal.
Desabituadas a enfrentar oposição elas eclodiram em ações ditatoriais e violentas ao redor do mundo.
No caso do Brasil, está evidenciado que o mal, instalado confortavelmente em nossas universidades, judiciário, política, mídia, meio artístico e, mesmo, Igreja (a “deep church”), está manifesto em “choro e ranger de dentes”, evidenciando a conhecida passagem bíblica segundo a qual “não os temais, porque nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se”.
O momento da revelação está diante de nós.
É o momento de nos assumirmos ou como “filhos da luz” ou como “filhos das trevas”.
Carlos Adriano Ferraz - (Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio doutoral na State University of New York (SUNY). Foi Professor Visitante na Universidade Harvard (2010). Atualmente é professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Filosofia, no qual orienta dissertações e teses com foco em ética, filosofia política e filosofia do direito. Também é membro do movimento Docentes pela Liberdade (DPL), sendo atualmente Diretor do DPL/RS)

Jornal da Cidade