Essa frase, que sugere um desvio de caráter como marca da sociedade brasileira, não poderia ser mais errada... assim como a chamada “lei de Gerson” que sugere que o importante é levar Vantagem, doa a quem doer, pois mais importante que ser ético e honesto é ser esperto.
Vivemos sob esse tipo de estigma por décadas e parece que essa “doença”, uma espécie de vírus que debilita o sistema imunológico da ética e da decência, contaminou parte da sociedade e, nestes tempos sobretudo, boa parte da mídia e do jornalismo brasileiro.
É obvio que estamos falando de algo que não tem o menor sentido uma vez que, se um canal representa um bem inalienável da sociedade e esta sociedade tem valores e aspirações legítimas, “usar a notícia em benefício próprio e não como um bem social, além de antiético, é imoral e um crime que se comete contra a sociedade como um todo. O errado não pode ser o certo...”
Princípios são atemporais e não podem, ou não deveriam, ser flexibilizados com base em interesses políticos, ideológicos, econômicos ou de qualquer outra natureza que não fosse a essência do Jornalismo sério e comprometido com a verdade e o bem comum.
No intenso embate político que vivemos, vimos canais e profissionais “mudando de lado”, ao sabor de conveniências nada republicanas: e para onde foram os princípios do Jornalismo e a ética que um profissional desse vital setor deve ter? Mas o público não é idiota...
Você pode comprar um canal ou um profissional com dinheiro, mas não pode comprar a credibilidade do canal e nem do profissional junto à população.
Estamos vendo investimentos estranhos em alguns canais tradicionais, mas até onde um canal pode se sustentar sem a legitimidade do público? Como disse não mesmo uma questão de $$$...
Cabe lembrar que promover e propagar notícias falsas ou torcer os fatos para que uma notícia verdadeira seja deturpada com a visível intenção de prejudicar um em benefício de outros “é crime e não posicionamento”.
Muitos dos canais e dos profissionais, amplamente conhecidos que “mudam de lado ou narrativa” sugerem interesses inconfessáveis, como manipular a notícia para produzir ganhos próprios ou de grupos a eles relacionados.
Isso mais parece o urso que esconde a cabeça no tronco da arvore e pensa que não estaria sendo visto.
A questão é que isso não se sustenta no tempo, essa prática que não passa de um crime comum, vai afetando a imagem desses canais que dependem sim: de credibilidade, competência jornalística e, sobretudo, do conceito que lhes é atribuído pela população, que são os seus patrões, na verdade.
Vocês sabem a diferença entre credibilidade, competência e conceito?
• Credibilidade é um traço do seu caráter que diz respeito ao que você é, os valores que você possui e que não mudam com o tempo, ou seja, credibilidade é algo que se você não tem ou se tinha e perdeu, não dá para adqurir com dinheiro;
• Competência é a qualidade com que você entrega o que faz para o seu público. Esse, em outras palavras, é o princípio que te mantem no jogo como um player importante o que garante seu espaço.
• Já Conceito é o que te promove e te faz alçar voos mais altos. Isso porque envolve valores muitas vezes subjetivos que estão na cabeça do teu público e é ele, ao fim das contas, que vai te alçar ou te derrubar.
O que temos visto na deturpação dos valores da Imprensa e da mídia representa uma perda considerável de credibilidade.
Já a competência em gerar produtos posicionados e alinhados com os objetivos do próprio canal, pode levar à uma percepção de valor que tem a ver com um determinado nicho e te afastar de outros, não se deve acender velas para dois santos ao mesmo tempo.
Quando isso ocorre, afeta-se de forma devastadora o CONCEITO que os deveria alçar, e não apenas manter em nichos relevantes e alinhados com princípios de valor.
Ao que parece boa parte da Mídia Tradicional não se deu conta do risco que incorre ao destruir os preceitos que a legitimam e agregam o valor que delas se espera por parte da sociedade como um todo.
Assim, não apenas surgem canais concorrentes para preencher essas lacunas, o que em tempos de DIGITALIZAÇÃO SOCIAL, promove perdas significativas e aceleradas do seu patrimônio de imagem, muitas vezes construída ao longo de décadas.
Ao que parece alguns canais já começam a se dar conta desse perigo e reveem seu posicionamento...enquanto outros, com pesados investimentos, dobram a aposta na adoção de ativismo político e defesa de interesses particulares.
Mas, mesmo agora, a Esquerda descobre que promover leis contra fake News só pode ser devastador para quem mais comete esse tipo de crimes: que são eles mesmos.
A VIDA É FEITA DE BONS EXEMPLOS
Para ilustrar, transcrevo o texto, na íntegra, publicado há sete anos, mas que se refere a uma política escrita por Silvio Santos, 25 anos antes, ou seja, há 32 anos atrás.
Vale dar uma olhada pois é inspirador:
“Neste último domingo, 3 de março, o SBT divulgou no ‘Jornal Propaganda e Marketing’ uma carta escrita há 25 anos pelo dono da emissora, Silvio Santos ao Departamento de Jornalismo, dirigido na época por Marcos Wilson.
O anúncio institucional, que preencheu as páginas 10 e 11 do periódico, foi publicado com o slogan “#SBT – Jornalismo que evolui, princípios que não mudam”.
Os 14 princípios apresentados, deveriam ser seguidos por todas as empresas jornalísticas, mas infelizmente muitos deles são negligenciados aqui e ali, nesse e naquele jornal. De qualquer forma servem para uma boa reflexão sobre o bom jornalismo.
Leia abaixo o comunicado na íntegra:
A Todos os funcionários
A fim de que não pairem dúvidas quanto à linha a ser seguida pelo Departamento de Jornalismo, tanto o Diretor Marcos Wilson, como o SBT, naquilo que lhe couber, comprometem-se a observar, rigorosamente, os seguintes PRINCÍPIOS EDITORIAIS:
CREDIBILIDADE – cada informação deve ser confirmada. Nenhum boato ou rumor pode ser divulgado.
RESPEITABILIDADE – devemos conquistar o respeito de nosso público e das nossas fontes. Seremos incorruptíveis e honestos.
SERIEDADE – seriedade não é sinônimo de velhice. O único compromisso de quem tem um telejornal sério é com a informação precisa, correta.
ISENÇÃO – ouvir sempre os dois lados, frente e verso de uma informação. Nenhuma pessoa será culpada antes que a Justiça assim o diga.
APARTIDARISMO – nosso compromisso é com a informação correta e com o público: ele quer fatos documentos e não proselitismo; quer informação e não ideologização da notícia.
IMAGEM DIFERENCIADA/PERSONALIDADE – nossa marca, nossa cara são próprios, construídas ao longo do tempo. Não devemos ter a cara dos concorrentes.
PRODUTO INDISPENSÁVEIS – nosso telejornalismo deve ser para o público tão indispensável como o alimento do dia a dia.
PRODUTO POPULAR – ser popular não significa ser populista ou popularesco. O público não é uniforme em todos os sentidos. Uma notícia deve ser entendida pela patroa e pela empregada.
PRODUTO MODERNO – a TV já é um veículo ágil e seu jornalismo deve ser moderno, dinâmico e, até certo ponto, audaz.
EMPRESARIAL – o jornalismo está dentro de uma empresa maior e não deve fugir das regras de administração empresarial, como avaliação e treinamento.
METAS E OBJETIVOS – devemos estabelecer as metas e objetivos, que serão entendidos e assimilados por toda a equipe e, principalmente, cumpridos.
PRODUTO DIDÁTICO – não podemos complicar a vida do público, mas dar todos os instrumentos para facilitá-la. A informação deve ser simples, transparente, clara e didática.
PESSIMISMO DISPENSÁVEL – o tom do jornalismo deve ser otimista, procurando mostrar que, mesmo nas situações mais trágicas, é possível dar a volta por cima.
PRINCÍPIOS DO PÚBLICO – não vamos agredir nosso público em seus costumes e suas crenças; o respeito ao telespectador é fundamental.
Todos os redatores, repórteres e jornalistas da casa, no exercício de suas tarefas, devem obedecer a tais princípios, que refletem a filosofia que desejamos imprimir ao Jornalismo do SBT, para que possamos cumprir a missão de informar bem para melhor formar nosso povo e nossa gente.
3 de março de 1988
A publicação é concluída com a afirmação de que desde que a mensagem foi escrita, há 32 anos, “muita coisa mudou na vida das pessoas. O que não mudou foi a nossa fidelidade a estes princípios”. Por Emílio Portugal Coutinho (em Casa dos Focas)”
Espero que o presente texto possa inspirar aqueles canais que, por estratégia ou desvio sob qualquer pretexto, estejam atuando fora dos preceitos e valores que regem o bom jornalismo e as melhores práticas de comunicação. Tais valores, são bens sociais e não estão abertos a jogos de interesses que não sejam os da sociedade democrática, no caso do Brasil, que devem nortear esse imprescindível setor.
JMC Sanchez
Articulista, palestrante, fotografo e empresário.
Jornal da Cidade

