sábado, 29 de junho de 2019

Bolsonaro adota discurso de G-20 e sai com UE-Mercosul em estreia

Se a cúpula de líderes do G-20 no Japão começou com o pé esquerdo para o Brasil por causa da prisão do sargento detido com 39 quilos de cocaína - uma "falta de sorte", segundo o general Augusto Heleno -, o evento se encerrou em alta para o presidente Jair Bolsonaro. De volta ao País, ele poderá dizer que foi uma conversa com o presidente francês, Emmanuel Macron, que destravou o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE) negociado há duas décadas e que se reuniu de forma mais próxima com o presidente americano Donald Trump.
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Os presidentes Joko Widodo (Indonésia), Emmanuel Macron (França)
e Jair Bolsonaro, a chanceler alemã Angela Merkel e a primeira-ministra 
da índia, Narendra Modi, em evento durante o G20 
Foto: Dominique JACOVIDES / POOL / AFP

Bolsonaro chegou na quinta-feira mal humorado e cansado, se irritou com jornalistas, disparou contra a chanceler alemã, Angela Merkel, fez caminhada à pé por Osaka e comeu numa churrascaria brasileira. A tentativa de fugir da culinária local deu certo, mas nem por isso ele saiu do restaurante satisfeito. “Quem come carne brasileira não se contenta com a australiana”, comentou. Mas em menos de 48 horas o cenário mudou – e Bolsonaro também.
A rispidez com a imprensa nos dois minutos de conversa ao desembarcar no Japão foi substituída por uma coletiva bem humorada no sábado. Em 34 minutos, o presidente fez piada, elogiou o trabalho da mídia, ficou mais tempo respondendo as perguntas do que o previsto e deixou sua assessoria tensa com possíveis atrasos na agenda. Bolsonaro desembarcou bombardeado pela pressão do caso do militar flagrado com droga na Espanha e críticas de líderes europeus à sua política ambiental, mas, menos de dois dias depois, teve uma boa notícia para anunciar.
O ponto alto do evento para o País aconteceu longe do Japão: em Bruxelas, o acordo comercial entre UE e o Mercosul foi concretizado. Assinado na Europa, o sucesso foi faturado por Bolsonaro em Osaka, especialmente depois que Macron deixou claro em coletiva ao final do G-20 que foi o compromisso feito pelo brasileiro sobre o clima que garantiu o consenso. Toda a delegação passou a madrugada de sexta-feira para sábado comemorando o acordo por meio de trocas de mensagens de whatsapp com outras autoridades em Brasília e em Bruxelas. O presidente brasileiro correu às redes sociais para tuitar em japonês a frase “Grande dia!”, seguido do tradicional emoji com polegar em riste.

Para ter as boas notícias, Bolsonaro precisou moderar o seu discurso, fazer acenos aos europeus e se comprometer com o acordo climático. O presidente brasileiro adotou a defesa do multilateralismo, no lugar de enaltecer o nacionalismo. O tom diferente no outro lado do mundo veio em linha com o que os membros do G-20 queriam ouvir.

Célia Froufe e Beatriz Bulla, enviadas especiais a Osaka, O Estado de São Paulo