quarta-feira, 16 de maio de 2018

Moro vê prêmio como ‘reconhecimento privado’ anti-corrupção


O juiz Sergio Moro recebeu o prêmio de personalidade do ano da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos - Andre Penner / AP

Henrique Gomes Batista, O Globo



NOVA YORK - Na primeira vez que um juiz recebe o prêmio de “personalidade do ano” da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, o juiz Sergio Moro, responsável pela Lava-Jato na 13ª. Vara federal de Curitiba, afirmou que a operação é uma prova do vigor da democracia. Em um discurso de 19 minutos no Museu da História Natural de Nova York, Moro afirmou que sua premiação legitima a luta contra a corrupção no Brasil:

— Este prêmio também significa que o setor privado no Brasil e nos Estados Unidos apoia o movimento anticorrupção brasileiro e isso faz grande diferença — disse Moro, que foi ovacionado várias vezes e, quando subia ao palco, ouviu de ao menos um entre os mil presentes no jantar de Gala o grito de “Moro presidente!”.

Moro disse ainda que aceitou a premiação por ser um reconhecimento de todos que trabalham contra a corrupção no Brasil, como outros juízes, promotores e policiais. Ele disse que, ao contrário do que parece, saber e enfrentar todos estes casos não significa um motivo de vergonha, mas de força da democracia brasileira.

— A democracia não está em risco no Brasil. Há riscos de retrocesso mas não acredito que eles ocorrerão. Os Estados Unidos podem apostar no Brasil como nós apostamos — disse.

A 48ª Premiacao da Câmara de Comércio também homenageou o empresário e ex-prefeito nova-iorquino Michael Bloomberg, que recebeu seu prêmio mais cedo e não ficou para ouvir o juiz. Moro disse que com este combate à corrupção mais investimentos podem ir ao Brasil e disse que o país está no “caminho correto”.

No fim de sua fala, desta vez em português, Moro enviou uma “mensagens aos companheiros brasileiros”, dizendo que o país vive 30 anos de democracia e liberdade, com dois impeachment e um ex-presidente preso, mas sem “risco de ruptura”. Ele disse que o país já conquistou muito, como o fim da hiperinflação e criou políticas sociais que diminuíram a pobreza e a desigualdade:

— Há muito a ser feito: continuar as reformas, consolidar a democracia, retomar o desenvolvimento, melhorar a qualidade dos servido públicos de segurança, educação e saúde e enfrentar a pobreza e a desigualdade. Tudo isso só é possível sem a impunidade da grande corrupção - disse ele.

Moro foi apresentado na premiação pelo vencedor do ano anterior: João Doria, ex-prefeito e pré-candidato tucano ao governo de São Paulo. O político apresentou Moro como um “herói nacional”, pediu “salvas de palmas de todos em pé” e disse que este é o “Brasil dos homens de bem”, criticando os que protestaram contra Moro no lado de fora do museu.

O público presente, formado por empresários, advogados, autoridades (o ministro Carlos Marun, da secretaria de governo de Michael Temer, por exemplo) e alguns acadêmicos dos dois países - cada um pagando ao menos US$ 1.200 por uma cadeira ou receberam esta possibilidade dos patrocinadores do evento - reagiu com euforia à premiação de Moro: 


além das palmas, muitos gravaram todo o discurso do juiz. O próprio evento estava diferente, segundo pessoas que participam da cerimônia há anos: a cerimônia começou pela primeira vez com a execução dos hinos dos dois países e o presidente da Câmara, Alexandre Bettamio, chegou a dizer em seu discurso frases típicas de Trump, ao defender que todos trabalhem para colocar “o Brasil em primeiro lugar”.

Nesta quinta-feira, Moro participa também em Nova York de um evento do Lide - empresa de Doria - sobre investimentos no Brasil. Ele falará sobre a segurança jurídica no país e será sucedido em uma palestra por Marun.