quarta-feira, 2 de maio de 2018

Míriam Leitão: siderúrgicas vão aceitar cota dos EUA com redutor para o aço brasileiro

O Globo


Os Estados Unidos interromperam o processo de negociação para o estabelecimento de cotas de exportação de aço brasileiro e informaram os volumes que aceitam comprar. Ou seja, impuseram as quantidades. A decisão surpreendeu os empresários brasileiros. Hoje eles devem anunciar uma posição, mas me anteciparam que vão aceitar, apesar de considerarem a situação prejudicial ao Brasil e injusta.
As cotas serão uma média das exportações que ocorreram nos últimos três anos. Nos semiacabados, o valor ficou apenas 7% abaixo do que foi vendido no ano passado. Porém, nos aços acabados, que têm maior valor agregado, o governo americano impôs também um redutor de 30%.
A indústria de aço brasileira se reuniu nas últimas horas diante desses números e decidiu aceitar, porque não há outra saída. Eram as cotas ou a sobretaxa de 25% que inviabiliza a venda.
A Organização Mundial do Comércio considera ilegal esse tipo de barreira comercial, como as cotas, mas os Estados Unidos alegaram que estavam tomando a medida por razão de segurança nacional.
Eu conversei com exportadores e a história dessa negociação é complicada.
No ano passado, para cumprir a promessa de campanha, o presidente Donald Trump iniciou uma investigação no comércio de produtos siderúrgicos, alegando dano à indústria americana.
O problema geral é que há um excesso de 600 milhões de toneladas de aço no mundo, em termos de capacidade de produção.
O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os Estados Unidos, atrás só do Canadá.
Desde que esse assunto começou já foram três missões brasileiras a Washington para mostrar alguns dados. Contaram que 80% do que o Brasil vende é de produtos semiacabados, ou seja, é matéria-prima para a indústria siderúrgica de lá. O carvão metalúrgico usado pelas usinas brasileiras é importado dos Estados Unidos. O Brasil é o maior importador de carvão americano, compra algo como US$ 1 bilhão por ano.
Os Estados Unidos têm déficit comercial com vários países, mas não com o Brasil. Nos últimos dez anos, eles acumularam um superávit de US$ 250 bilhões.
O momento mais tenso desse processo foi quando colocaram o Brasil numa lista de 11 países punidos com uma tarifa ainda maior por estarem fazendo triangulação, comprando da China para vender. O Brasil teve que provar que a suspeita era falsa e conseguiu sair dessa lista. E ficou em outra, de países como Argentina, Austrália, e os da União Europeia, com os quais eles negociariam. A negociação estava andando, mas na sexta-feira eles suspenderam a conversa. E agora informaram que estavam impondo estas cotas. Ao Brasil só restou aceitar esse ato de protecionismo. Segundo participantes da conversa, a conclusão final do “acordo” deve ser em dez dias.