quarta-feira, 16 de maio de 2018

Coreia do Sul e EUA podem alterar exercício militar para atender Norte


Jato da Força Aérea sul-coreana decola de base militar em meio as operações militares conjuntas 'Max Thunder' entre EUA e Coreia do Sul - Park Chul-hong / AP


Com O Globo e agências internacionais



SEUL - Após críticas da Coreia do Norte contra os exercícios militares conjuntos entre EUA e Coreia do Sul que colocaram em risco a cúpula entre Donald Trump e Kim Jong-un em 12 de junho, o governo sul-coreano pode adaptar as operações anuais para satisfazer a vontade do Norte e manter a via de diálogo aberta. De acordo com fontes ouvidas pela agência sul-coreana Yonhap, os exercícios conjuntos excluíriam os estratégicos bombardeiros B-52, que foram alvo de reclamações do regime norte-coreano, que os classificaram como "provocações".

A operação Max Thunder começou na última sexta-feira, contando com 100 aeronaves militares, oito jatos F-22 invisíveis aos radares, além de caças modelo F-15K e F-16, mais os bombardeiros. Com duas semanas de duração, os exercícios são executados pelo Comando de Operações da Força Aérea da Coreia do Sul junto à 7ª Força Aérea dos EUA. 

Apesar da ameaça norte-coreana, a Casa Branca disse nesta quarta-feira que ainda tem esperanças de que o encontro entre o presidente Donald Trump e Kim Jong-un possa acontecer em 12 de junho em Cingapura, ao mesmo tempo em que se prepara para "negociações duras".

Para a Coreia do Norte, as manobras são consideradas uma invasão de seu espaço aéreo e uma provocação contra sua soberania. O país já demonstrou sua aversão ao uso do B-52, que integra o chamado "guarda-chuva nuclear dos EUA" sobre a Península Coreana, o arsenal nuclear ao qual os americanos poderiam recorrer em caso de necessidade na região.

— No treinamento, os caças americanos F-22 já participaram, enquanto os B-52 ainda não — disse a fonte, sob condição de anonimato. — Parece que os B-52 podem não comparecer aos exercícios, que vão até 25 de maio.

A ameaça de romper com a cúpula com os EUA veio logo após a Coreia do Norte cancelar repentinamente um encontro de alto nível entre Norte-Sul.

No mês passado, Kim Jong-un se reuniu com o presidente sul-coreano Moon Jae-in. Foi a primeira cúpula intercoreana em 11 anos e marcou a primeira visita de um dirigente norte-coreano ao Sul desde a divisão da península, no pós-Segunda Guerra Mundial. A declaração então emitida não faz referência à retirada das forças dos Estados Unidos da Coreia do Sul, onde Washington mantém bases militares desde a Guerra da Coreia, que terminou em 1953.

"Este exercício, direcionado a nós, que está sendo realizado em toda a Coreia do Sul, é um desafio flagrante à Declaração de Panmunjom e uma provocação militar intencional que vai contra o desenvolvimento político positivo na Península Coreana", afirmou a KCNA, em referência ao documento aprovado na cúpula intercoreana. "Os Estados Unidos também terão que empreender deliberações cuidadosas sobre o destino da planejada cúpula Coreia do Norte-EUA, à luz deste tumulto militar provocativo conduzido em conjunto com as autoridades sul-coreanas", advertiu a KCNA.

MODELO LÍBIO

Um outro fator de tensão tem sido as declarações do conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, que defende uma "completa e irreversível desnuclearização da Coreia do Norte", semelhante ao acordo feito com a Líbia em 2004, antes de qualquer contrapartida americana. Bolton era subsecretário de Estado de George W. Bush quando Muamar Kadafi concordou em abrir mão de seu programar nuclear em troca da suspensão das sanções. Mais tarde, durante a Primavera Árabe, uma intervenção armada para proteger civis autorizada pela ONU acabou se transformando em uma operação de mudança de regime, com a queda e morte de Kadafi.

— Isto não é uma manifestação de quem deseja abordar a questão por meio do diálogo. É essencialmente uma medida ameaçadora para imppor ao nosso Estado o destido da Líbia ou do Iraque, que entraram em colapso devido à submissão às grandes potências — advertiu Kim Gye Gwan, vice-chanceler norte-coreano.

Nesta quarta-feira, o governo chinês, principal aliado político e econômico da Coreia do Norte, pediu publicamente a Kim Jong-un que mantenha a cúpula com Trump em meio às ameaças do regime norte-coreano. O ministro do Exterior chinês, Lu Kang, disse que os dois lados deveriam garantir que o encontro vai acontecer como planejado com "resultados substanciais".

De acordo com o que foi anunciado, Kim e Trump devem se reunir em Cingapura em 12 de junho. Lu afirmou que a cúpula é crucial para reduzir as tensões na Península Coreana e manter a paz e a estabilidade regional.