Edgar Silva, Folha de São Paulo
Há 30 anos, morria o músico americano Chet Baker, ícone do jazz ao lado de nomes como Miles Davis, John Coltrane e Dizzy Gillespie, entre outros.
Passadas três décadas, a morte de Baker continua um mistério –se foi suicídio ou assassinato. O certo é que o corpo do trompetista foi encontrado no dia 13 de maio de 1988 na sarjeta, embaixo da janela do quarto em que se hospedara, no terceiro andar, no Hotel Prins Hendrik, em Amsterdã.
A polícia holandesa apontou indícios de suicídio, mas amigos de Baker sustentaram a hipótese de assassinato. Já o Consulado dos EUA declarou, oficialmente, que a queda do músico teria sido acidental.
A carreira e a vida de Baker foi marcada pelos contrastes entre o gênio musical –que adorou o bebop de Gillespie e depois entendeu que o estilo não seria adequado ao que desejava– e o trompetista arrasado pelo vício em heroína.
As histórias que contou (sempre recheadas de fantasia) e realidade escondiam a verdade sobre as primeiras bandas em que tocou e a perda dos dentes –tanto na adolescência quanto adulto–, razão pela qual não sorria em fotografias.
De galã na juventude e na fase de exército, Baker tornou-se jazzista profissional em 1952, aos 22 anos (completaria 23 só no final do ano), e entre seu ingresso no “time dos grandes” e a descoberta da heroína também não há consenso.
O músico declarava que começou a usar a droga em 1957, dois anos após atingir o auge do sucesso com o álbum “Chet Baker Sings” e aceitar o convite para uma turnê de quatro meses pela Europa. Já o jornalista holandês Jeroen de Valk e o pianista americano Russ Freeman sustentam que Baker usava heroína já no início da década de 1950.
O vício tirou a feição de galã e as comparações que recebera no começo da carreira com James Dean e Marlon Brando. E também o fez definhar. A força com que consumia o levava às vezes a penhorar seus instrumentos para comprar drogas.
A heroína transformou sua vida numa sequência de eventos repetitivos. “Detenção, prisão, liberação, mudança de residência, tentativa de volta, e uma nova detenção para reiniciar o ciclo”, sintetizou o escritor e pianista Ted Gioia, no livro “West Coast Jazz”.
No Brasil
Na única vez em que se apresentou no Brasil, Baker decepcionou seus fãs –alguns esperaram por décadas a chance de vê-lo tocar. Nos shows que fez durante a primeira edição do Free Jazz Festival (no Rio e em São Paulo, em 1985), ficou sentado quase todo o tempo, olhando para o chão do palco.
Apesar disso, o crítico musical Carlos Calado o descreveu como “expoente do cool jazz (também conhecido como West Coast jazz), do qual foi um dos trompetistas mais cultuados”. Segundo ele, “Baker conquistou boa parte de seus fãs como cantor”. E complementou: “Seus vocais suaves e andróginos influenciaram músicos e intérpretes brasileiros de diversas gerações, entre eles adeptos da bossa nova e os tropicalistas Caetano Veloso e Gal Costa”.
Chesney Henry baker Jr. nasceu em 23 de dezembro de 1929, em Yale (Oklahoma), foi casado três vezes e teve quatro filhos. Além do cool jazz, deixou 130 álbuns como testemunho de seu virtuosismo e músicas imortais como “Walkin’ Shoes”, “Bernie’s Tune”, “How Deep Is the Ocean?” e “My Funny Valentine”.
O documentário “Let’s Get Lost” (1988), do diretor Bruce Weber, procurou desvendar o músico e mostrou, no que são as últimas imagens públicas de Baker, um sujeito desfigurado.
A obra do trompetista e cantor já foi motivo de homenagens por outros jazzistas, entre eles as cantoras Luciana Souza e Eliane Elias, ambas radicadas nos Estados Unidos –e também no cinema e no teatro.
Em 2015, foi lançado o filme “Chet Baker: A Lenda do Jazz”, com Ethan Hawke no papel principal. E um ano depois, por aqui, no teatro, a peça “Chet Baker – Apenas um Sopro” reverenciou o gênio e os traumas, com o músico Paulo Miklos encarnando o trompetista.
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