sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Ruy Castro: "O novo chororô"

Folha de São Paulo


Divulgação/Flamengo
Jogadores do Flamengo comemoram vitória contra o Fluminense por 2 a 1
Jogadores do Flamengo comemoram vitória contra o Fluminense por 2 a 1


Durante os jogos do Campeonato Brasileiro, todos os torcedores, dirigentes, médicos, massagistas, roupeiros, reservas e comissão de arbitragem, em qualquer parte do estádio, podem ter acesso pela TV ou pelo celular às imagens que estão sendo transmitidas pelas emissoras. Em caso de lance duvidoso, ninguém leva mais de 10 segundos para saber o que aconteceu – com os requintes da imagem parada e do tira-teima. Só três pessoas entre os milhares de presentes são proibidas de saber: o juiz e os bandeirinhas.

Num recente Fla-Flu, um gol escandalosamente ilegal do Fluminense, anulado, confirmado e anulado de novo pelo árbitro, deu origem a um processo no STJD que quase resultou na anulação do jogo vencido pelo Flamengo. A alegação era a de que o juiz foi informado pelo inspetor de arbitragem sobre o que a TV mostrara – o que não é permitido. No dia seguinte, um programa esportivo reconstituiu, pela leitura labial, o que teria sido dito pelos envolvidos na confusão em campo.

Pela leitura labial, o inspetor teria confirmado para o juiz que, segundo a TV, o gol fora ilegal — e isso seria suficiente para o Flamengo perder os pontos. 

Ou seja, o mesmo recurso eletrônico proibido para dirimir uma jogada discutível é válido para dirimir uma dúvida subsequente. Onde está a coerência?

A leitura labial mostrou também os jogadores do Fluminense acossando e mentindo em massa para o árbitro ao afirmar que Henrique, autor da cabeçada para o gol, vinha de trás e não estava impedido. A simulação e a tentativa de enganar o juiz são passíveis de grave punição. Por acaso a leitura labial se voltará também contra o Fluminense?

Como disse o rubro-negro Marcelo Portinari em seu blog, antes só havia o chororô por ter sido roubado. O Fluminense inaugura agora o chororô por não poder roubar.