quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Simulação do segundo turno dita os preços no mercado financeiro

 

Fábio Alves - O Estado de São Paulo
             

Daqui para a frente, o resultado da simulação do segundo turno passa a ter peso cada vez maior nos preços dos ativos

Dilma e Marina: disputa acirrada desafia apostas no mercado (Fotos: divulgação e Reuters)
Dilma e Marina: disputa acirrada desafia apostas no mercado (Fotos: divulgação e Reuters)

A reação da Bovespa, do dólar e dos juros futuros nos últimos dias, mostra que o investidor está focando sua atenção quase que totalmente no resultado da simulação do segundo turno das pesquisas de intenção de voto para presidente da República, uma vez que a maioria do mercado ainda mantém a vitória de Marina Silva como cenário base.

E é isso que explica não somente o que aconteceu com os preços dos ativos antes e após a divulgação da pesquisa CNT/MDA e Ibope ontem, dia 23, como também ajuda a entender algumas das projeções contidas na pesquisa semanal Focus, publicada ontem pelo Banco Central.

Para os analistas ouvidos na Focus, o dólar encerrará este ano cotado a R$ 2,34. Na pesquisa da semana anterior, essa estimativa para o câmbio era de R$ 2,30. Para 2015, os analistas preveem uma cotação de R$ 2,45 ao final do ano.

Desde que a candidata do PSB começou a perder terreno e Dilma Rousseff (PT) voltou a subir nas últimas pesquisas de intenção de voto, em razão dos ataques feitos por Dilma e também por Aécio Neves (PSDB), os preços dos ativos registraram forte correção, refletindo uma menor euforia e certeza de vitória de Marina.

Até então, a euforia chegou ao ponto em que se especulou até na possibilidade de os investidores começarem a precificar a eleição de Marina ainda no primeiro turno. Foi nesse entorno que a Bovespa atingiu a máxima de 62.350 pontos ao longo do pregão de 29 de agosto e o dólar bateu a mínima de R$ 2,2270 no dia 3 de setembro, mas acabou encerrando aquele dia a R$ 2,2350.

A forte volatilidade recente tem sido deflagrada pelo “tracking” – ou pesquisas rápidas de intenção de voto feitas por telefones e encomendadas por partidos e até grandes investidores e instituições financeiras.

Na segunda-feira, por exemplo, circulava pelo mercado que o “tracking” apontava uma subida mais forte de Dilma e o seu distanciamento de Marina na simulação do segundo turno, retomando uma vantagem de 5 pontos porcentuais. O dólar subiu 0,71%, fechando a R$ 2,3950, e a Bovespa caiu 1.68% naquele pregão, a 56.818,11 pontos, puxadas pelas ações de empresas estatais que sofreram com a mão pesada do governo Dilma: Banco do Brasil ON (-4,74%), Eletrobras PNB (-4,81%) e Petrobras ON (-2,27%).

Hoje, antes da divulgação da pesquisa CNT/MDA, às 10 horas da terça-feira o dólar chegou bater a R$ 2,4060. Com o resultado conhecido, a moeda americana voltou a cair frente ao real e a Bovespa recuperou as perdas e passou a subir.

Conforme a pesquisa, a presidente Dilma Rousseff oscilou de 38,1% para 36% das intenções de voto, enquanto Marina caiu de 33,5% para 27,4%. Aécio subiu de 14,7% para 17,6%. No principal cenário de disputa para segundo turno, Dilma tem 42% contra 41% de Marina, empatadas tecnicamente, mas no levantamento anterior, a candidata do PSB tinha 45,5% contra 42,7% da petista.

Já na pesquisa Ibope/Estadão/TV Globo, divulgada ontem à noite, mostrou que Dilma oscilou de 36% para 38%, enquanto Marina passou de 30% para 29%. Aécio Neves se manteve com 19%. E mais importante para a bolsa e o dólar: num eventual segundo turno, Marina e Dilma estão empatadas com 41%.

Ou seja, o cenário mais negativo para a visão do mercado – a disparada de Dilma na simulação de segundo turno – não aconteceu.

Daqui em diante, o resultado da simulação do segundo turno terá peso cada vez maior nos preços dos ativos. Na visão dos investidores, novas quedas de intenção de voto de Marina na simulação de primeiro turno – embora mantendo sua perspectiva de ida ao segundo turno – não afetariam tanto o humor do mercado, uma vez que já está no preço um cenário em que a candidata do PSB sofrerá com os ataques dos seus rivais e também porque tem bem menos tempo de propaganda eleitora gratuita na TV e no rádio do que Dilma e Aécio.

Para um eventual segundo turno, os investidores acreditam que as chances de Marina melhoram não somente porque o tempo de TV entre ela e Dilma – supondo ser esse o cenário de disputa – será igual, mas também porque o mercado aposta que a candidata do PSB receberá o apoio do PSDB, ou seja, a sua coalizão de oposição será mais robusta.

Daí, uma disparada de Dilma no resultado de simulação de segundo turno das pesquisas eleitorais deflagraria uma correção das posições montadas por investidores com base numa vitória de Marina.
Mas nesse cenário, a correção também será observada nas projeções dos analistas ouvidos pela Focus, os quais provavelmente elevariam a estimativa da cotação do dólar para o final deste ano para R$ 2,50 ou R$ 2,60 e não permaneceriam nos atuais R$ 2,34.