Blog do Noblat - O Globo
Para quem ainda tinha dúvidas sobre a importância da Internet nestas eleições, o uso do Twitter para pressionar por mudanças no programa de governo do PSB mostrou como as redes virtuais podem ser plataformas de lançamento de ataques altamente visíveis e rapidamente compartilháveis. Essa é a primeira lição que podemos tirar desse episódio.
Como havíamos mencionado na coluna da semana passada, muitos candidatos preferem não se fazer presentes nas redes sociais virtuais porque temem ser o próximo alvo de críticas como as sofridas pela campanha de Marina Silva.
No entanto, não existem candidatos invisíveis nem à prova de ataques, e portanto não adianta enterrar a cabeça na areia. Essa é a segunda lição.
A terceira lição é que os candidatos têm que deixar de ver as redes sociais virtuais apenas como espaços para pedir votos e divulgar suas agendas. São arenas de articulação de ideias e de mobilização de grupos e eleitores que buscam influenciar o debate e as campanhas.
É claro que nem todas as tentativas de influência terão o mesmo efeito. No caso em pauta, a candidata presidencial era especialmente sensível ao conteúdo das críticas feitas sobre o tema dos direitos LGBT e à origem dessas críticas. No Twitter, assim como na televisão ou no jornalismo impresso, continua sendo fundamental compreender o peso político de quem fala e do que se fala.
Por outro lado, a grande promessa da Internet é justamente a de criar novos espaços que ajudem a nivelar o terreno da competição política. Espaços que todos possam ocupar, independentemente de pertencerem aos maiores partidos ou àqueles com menos recursos financeiros e com menos tempo no horário eleitoral gratuito.
Nesse sentido, chama muito a atenção nestas eleições o fato de que, entre os candidatos mais ausentes da Internet, estejam justamente aqueles que competem pelos menores partidos. Isso é especialmente verdade no caso de candidatos a deputados federais, estaduais e vereadores.
Em termos gerais, entre esses candidatos, aqueles que têm as melhores estratégias digitais são os que já possuem mandato, e que usam a Internet há anos para divulgar o seu trabalho e interagir com os eleitores. Por si só, isso não é um problema.
No entanto, a ausência dos demais transforma a Internet em arena de reprodução do status quo, onde os mais poderosos continuam a ser as vozes mais escutadas.
Marisa von Bülow é doutora em ciência política e professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. Estuda as relações entre Internet e ativismo político e movimentos sociais nas Américas. Escreve aqui sempre às quartas-feiras