Ramona Ordoñez - O Globo
Hoje, setor privado não pode participar com mais de 50% em projetos. Estudo prevê construção de até 23 usinas até 2030
Acabar com o monopólio na construção e operação de usinas nucleares e construir de oito a 23 novas centrais até 2040. Estas são as principais demandas de um estudo elaborado pela Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan) e que está sendo entregue aos principais candidatos à presidência da República. Segundo o presidente da Abdan, Antônio Muller, as térmicas nucleares são a melhor opção para operarem de forma complementar às hidrelétricas na base do sistema, uma vez que as outras opções poluem mais, como as térmicas a carvão, ou não têm suprimento da matéria-prima garantido no longo prazo, como é o caso das térmicas a gás natural.
— O fim do monopólio na construção e operação das usinas (nucleares) permitiria a iniciativa privada participar dos projetos com mais de 50%. Ninguém entra de sócio com o governo se não tiver mais de 50%, porque senão a empresa será regida pela regras das estatais — disse Muller, destacando que o parceiro dos projetos seria a Eletronuclear, a estatal responsável pela construção e operação de centrais nucleares no país.
Mas para isso será preciso apresentar ao Congresso uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), uma vez que atualmente cabe à União a construção e operação de usinas necessárias no país. Segundo o executivo, não se pretende mudar o ciclo do combustível que continuara em poder da União.
Na defesa das usinas nucleares, Muller argumenta que o Brasil tem elevadas reservas de urânio (mais de 309 mil toneladas) e detém o ciclo da fabricação do combustível. Além disso, ressalta que o fator de capacidade, ou seja, o tempo que a usina funciona a plena carga é da ordem de 92%. O presidente disse ainda que as plantas são muito seguras, não emitem CO2 (gás carbônico), e que terão um custo competitivo.
O custo médio estimado para uma usina nuclear de mil MW seria da ordem de US$ 5 bilhões, e uma tarifa da ordem de R$ 159 o megawatt/hora. Mas Antônio Muller destacou que com a construção de um número maior de nucleares todos esses custos acabariam sendo reduzidos ao longo do tempo.
ATÉ 23 USINAS EM 16 ANOS
Segundo o estudo “Definição do Programa Nuclear Brasileiro”, em um cenário mais moderado, no qual o crescimento econômico seria de 4% até 2017 e de 3% nos anos seguintes, seria necessária a construção de oito novas usinas nucleares de mil megawatts (MW) cada, uma a cada dois anos, até 2040.
Em um cenário considerado mais realista o estudo considera um crescimento econômico baixo no curto prazo, da ordem de 2,5%, e depois cresceria a 4% ao ano, seriam necessárias a construção de 18 usinas nucleares até 2040, uma a cada ano.
Já no terceiro e mais otimista cenário, a economia cresce em um primeiro momento a 4% e, em seguida, a 5% ao ano, se projetando a construção de 23 usinas nucleares até 2030, três a cada dois anos. No cenário mais conservador as oito centrais contribuiriam com 8% na matriz energética, enquanto que no cenário intermediário a contribuição seria de 12%, e, no mais otimista, de 15%.
O Brasil tem as usinas de Angra 1 e Angra 2 e está construindo Angra 3, depois de ter ficado com suas obras paradas durante 23 anos.
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