terça-feira, 16 de setembro de 2014

Dono da Labogen diz à Justiça que 90% de movimentação da empresa era para Youssef, doleiro da quadrilha Lula-Dilma

Eduardo Bresciani - O Globo

Leonardo Meirelles afirma que empresa parceira do Ministério da Saúde enviou para o exterior cerca de US$ 120 milhões


O dono da Labogen, Leonardo Meirelles, afirmou em depoimento à Justiça Federal do Paraná que 90% da movimentação de sua empresa era a simulação de contratos de câmbios para o doleiro Alberto Youssef. Ele afirma que enviou para o exterior cerca de US$ 120 milhões entre 2011 e 2014 a pedido do doleiro. A Labogen assinou em dezembro de 2013 uma parceria com o Ministério da Saúde no valor de R$ 130 milhões. O deputado André Vargas (sem partido-PR) foi quem fez o contato com o ministério, segundo o próprio Meirelles.

Meirelles afirma que empresas do esquema de Youssef faziam depósitos para a Labogen que remetia dinheiro ao exterior para offshores de sua propriedade como se fosse para pagamento de futuras importações. Na sequência repassava os recursos para outras contas no exterior indicadas por Youssef. Ao final, ficava com uma parte do valor da transferência, entre 1% e 1,5%. 

Questionado sobre o montante repassado, revelou que quase a totalidade da movimentação de sua empresa ocorria para esse esquema do doleiro.O depoimento à Justiça foi realizado em 12 de agosto do mês passado. Leonardo conta que assumiu a Labogen em 2008 com o objetivo de recuperar a empresa e construir uma fábrica para que a companhia voltasse a atuar com força no mercado de medicamentos. 

Contou que “entre 2009 e 2010” conheceu Youssef e começou a fazer negócios com ele, intermediado por Waldomiro de Oliveira, procurador de empresas do esquema do doleiro.

“Era 80% 90% dessa movimentação. Eu movimentei algo em torno de 120 milhões de dólares para o Alberto Youssef, aproximadamente, nesse período de 2011 a 2014”, disse.

Em perguntas feitas por sua defesa, Meirelles observou que teria como “legalizar” em cinco anos essas remessas de suas empresas caso conseguisse levar adiante contratos como os firmados com o Ministério da Saúde. Disse que, criminalmente, teria um prazo legal de cinco anos, ainda que tivesse de pagar multas à Receita ou responder a processos administrativos no Banco Central.

Meirelles não avançou em comentários sobre o contrato com o Ministério porque o juiz Sérgio Moro interrompeu o depoimento lembrando que este caso está em outro inquérito. A relação da Labogen com a pasta é alvo de inquérito no STF porque envolve o deputado André Vargas.

O parlamentar já afirmou que apenas orientou o empresário “na forma da lei” e negou que tenha feito lobby a favor da Labogen. O Ministério já ressaltou que não fez pagamentos à empresa e que o processo de parceria assinado foi suspenso após a deflagração da Operação Lava-Jato.