Julianna Granjeia e Jailton de Carvalho - O Globo
Petistas temem um possível vazamento do depoimento à imprensa

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva só deve falar com a Polícia Federal após o término da eleição na avaliação da cúpula do PT. Desde fevereiro, Lula é convidado pela Polícia Federal (PF) para colaborar nas novas investigações instauradas sobre o esquema do mensalão.
O medo dos petistas é de que o interrogatório seja vazado à imprensa e prejudique a tentativa de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). Durante evento em Mauá, na Grande São Paulo, Lula não respondeu se vai ou não prestar depoimento à PF.
Questionado por uma repórter após comício em apoio ao candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, Lula ironizou:— Antes da eleição não — disse o diretor-presidente do Instituto Lula Paulo Okamotto
— Só se você me convidar — disse o ex-presidente a repórter.
O advogado José Gerardo Grossi, um dos responsáveis pela defesa do ex-presidente, afirmou nesta quarta-feira que, se depender da opinião dele, Lula só prestará depoimento depois das eleições.
Segundo ele, um depoimento do ex-presidente a menos de duas semanas das eleições seria explorado pelos adversários e nada acrescentaria às investigações.
Ele sustenta ainda que as acusações de Valério são mentirosas e teriam sido feitas "no vale tudo", posterior a condenação do mensalão.
— Se ele (Lula) me pedir conselho, vou dizer que é para ele prestar depoimento só depois das eleições. Se ele for agora, tudo o que ele disser ou fizer vai ser explorado (pelos adversários políticos) — disse Grossi.
ACUSAÇÕES DE MARCOS VALÉRIO
Segundo reportagem do jornal “Folha de S. Paulo”, há sete meses a Polícia Federal tenta ouvir o ex-presidente nas investigações instauradas a partir de novos depoimentos do operador do Mensalão, Marcos Valério de Souza, dados a PF em 2012.
A delegada Andréa Albuquerque fez vários convites ao ex-presidente por intermédios dos advogados, mas não obteve resposta de quando Lula poderia ser ouvido. Depois de condenado no processo do mensalão em 2012, Valério compareceu a Procuradoria-Geral da República e acusou o ex-presidente de se beneficiar se beneficiar de um repasse de R$ 100 mil do mensalão. Ele acusou Lula ainda de intermediar as negociações de uma doação de R$ 7 milhões da Portugal Telecom para o PT.
A Polícia Federal não respondeu por que tentou convidar ao invés de intimar o ex-presidente, que não tem mais prerrogativa de foro. O inquérito sobre as denúncias de Valério foram abertas pela delegada Andréa Albuquerque no início do ano passado. Parte do caso vinha sendo mantida em sigilo até dois dias atrás, quando surgiram os primeiros vazamentos sobre as tentativas da delegada de convidar o ex-presidente para depor.