quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Cameron se prepara para ingressar em coalizão contra Estado Islâmico

NICHOLAS WATT, IAN COBAIN e ROWENA MASON - DO "GUARDIAN"


Na noite de terça-feira (23), David Cameron, o premiê britânico, pareceu estar preparando o terreno para o Reino Unido ingressar na coalizão militar multinacional contra o Estado Islâmico (EI), quando disse que o mundo enfrenta uma briga da qual não tem como se desviar.

Em meio a indicações de que o Parlamento britânico pode ser reconvocado na sexta-feira para que os deputados possam aprovar o envolvimento britânico em ataques aéreos às forças jihadistas, o premiê disse que a "organização maligna" do EI precisa ser destruída.

Falando à NBC News durante visita que fez a Nova York, onde nesta quarta (24) participa de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU presidida por Barack Obama, Cameron disse: "Esta é uma briga da qual não há como fugir. Esse pessoal quer nos matar. Eles nos têm na mira deles, e precisamos formar estar coalizão, trabalhando com apoio radical... para podermos destruir esta organização maligna".

Ele deu a declaração no momento em que os três partidos principais em Westminster assinalaram estar buscando um consenso quanto à necessidade de o Reino Unido participar dos ataques aéreos multinacionais contra as forças do EI.

O líder trabalhista, Ed Miliband, aproveitou seu discurso na conferência do Partido Trabalhista em Manchester para pedir que a reunião do Conselho de Segurança em Nova York, hoje, discuta uma resolução sobre ação militar. Mas Miliband não pediu uma votação de tal resolução, acrescentando: "Este país nunca dará as costas ao mundo, e jamais daremos as costas aos princípios do internacionalismo."

O governo britânico vem pouco a pouco chegando cada vez mais perto de unir-se aos EUA e outros aliados da região para lançar ataques militares contra o Estado Islâmico. Mas Cameron vinha agindo com cautela porque sabia que o envolvimento britânico em uma nova campanha militar poderia ter beneficiado o primeiro ministro escocês, Alex Salmond, no referendo sobre a independência da Escócia.

Cameron não confia em Miliband desde que o líder trabalhista acabou com qualquer chance de envolvimento britânico em ataques aéreos propostas contra o presidente sírio, Bashar al-Assad, votando contra o governo quando o Parlamento foi reconvocado em agosto do ano passado.

O primeiro-ministro quer formar uma base política e legal forte em favor do envolvimento britânico nos ataques aéreos, usando as reuniões em Nova York nesta semana para mostrar que uma coalizão internacional ampla, incluindo muitos países da região, está envolvida na campanha.

Cameron se encontrou com o presidente iraniano, Hassan Rouhani, em Nova York; é o primeiro diálogo entre um primeiro-ministro britânico e um presidente iraniano desde a revolução iraniana de 1979. Michael Fallon, o secretário da Defesa, espera que os deputados apoiem a posição militar. Ele disse ao "Spectator": "Espero que o Parlamento agora tenha a coragem já demonstrada por nossas forças armadas, que tenha a força mental vista nos Jogos Invictus (um evento esportivo de estilo paraolímpico, em que os participantes foram militares lesionados em guerra, realizado este mês em Londres) para encarar este desafio. Vamos ver".

O secretário da Defesa sugeriu que o Reino Unido pode unir-se aos EUA nos ataques ao EI na Síria. Fallon disse ao "Spectator": "O Iraque está sendo atacado não apenas por terroristas em seu próprio território mas também por terroristas no norte da Síria. Se a Síria continuar sem disposição ou sem condições de lidar com o EI, então se coloca pelo menos a pergunta de se deveríamos auxiliar o Iraque a fazê-lo."

Deputados da Câmara dos Comuns que no ano passado votaram contra uma ação militar britânica na Síria disseram que desta vez apoiariam uma ação britânica contra o Estado Islâmico. George Howarth, ex-ministro trabalhista do Home Office (Ministério do Interior) e hoje integrante do comitê de inteligência e segurança do Parlamento, disse: "É altamente provável que o Partido Trabalhista no Parlamento apoie a participação britânica em ataques aéreos contra o EI, mas qualquer ação além disso não corresponderia à vontade do povo britânico. Um elemento positivo importante em tudo isto é o fato de que vários países do Oriente Médio já estão em coalizão com os EUA nesta questão, fato que confere maior autoridade à coalizão."

Embora se preveja que a Câmara dos Comuns vá apoiar o envolvimento britânico nos ataques aéreos, haverá vozes discordantes. Diane Abbott, antiga ministra de Miliband, disse que não se sente à vontade com ataques aéreos sobre o Iraque e que "existe o perigo de sermos sugados para dentro de um atoleiro sem estratégia para sair dele".

Ela ponderou: "Entendo que a opinião pública está mais favorável do que estava em relação à Síria. Mas não acho que devemos nos tornar o braço aéreo de um governo iraquiano disfuncional. Não existe uma solução militar britânica para os problemas políticos do Iraque." John McDonnell, o deputado representativo de Hayes e Harlington, no sudeste da Inglaterra, também deixou claro que se opõe à ideia, dizendo que não votará pelos ataques aéreos.

Tradução de Clara Allain