quarta-feira, 17 de setembro de 2014

"A inadimplência atinge com mais força as empresas", editorial do Estadão

As empresas estão sendo mais atingidas pela inadimplência do que as pessoas físicas que consomem os bens e serviços produzidos pelas companhias, segundo pesquisa da Serasa Experian. O quadro é generalizado. Mais da metade das empresas enfrenta o problema, que atinge com mais intensidade os pequenos e médios empreendimentos, justamente os que respondem por maior número de empregos.
A pesquisa da Serasa baseou-se no CNPJ das empresas, ou seja, no número de inscrição na Receita. Há cerca de 14 milhões de CNPJs, mas o número de empresas em atividade é estimado em 7 milhões - as demais deixaram de operar e a quase totalidade destas não deu baixa na inscrição por causa do custo financeiro ou da burocracia que dificulta o fechamento dos negócios. De 7 milhões de empresas ativas, quase 3,6 milhões têm dívidas em atraso com credores e fornecedores.
As empresas comerciais lideram a inadimplência (são 47,2% do total), seguindo-se as de serviços (42,6%) e as industriais (9,1%). No Sudeste estão 51% das inadimplentes, depois vêm o Nordeste (18%), o Sul (17%), o Centro-Oeste (8%) e o Norte (6%). Nas regiões mais desenvolvidas é mais forte a atividade de serviços, o que explica a concentração de empresas - e a gravidade dos desafios - no Sudeste.
O problema é crescente: entre julho de 2012 e julho de 2013, segundo a Serasa, o número de empresas inadimplentes aumentou em 294 mil e, entre julho de 2013 e julho de 2014, em 292 mil (+8,9%). Em dois anos, portanto, mais de 580 mil companhias tornaram-se incapazes de cumprir os compromissos financeiros, inclusive com concessionárias de serviços públicos, como empresas de energia elétrica e de telefonia. Nesta semana está sendo realizado um feirão de empresas que querem limpar o nome, a exemplo do que já ocorreu com as pessoas físicas, nos últimos anos, em eventos promovidos pela Serasa e a Boa Vista Serviços.
Os fatores que levam as empresas à inadimplência são a recessão, que inibe os negócios e a geração de caixa das companhias; a elevação das taxas de juros; e o crescimento dos custos trabalhistas em ritmo mais acentuado do que o das receitas, o que afeta a produtividade.
Algumas empresas tentam enfrentar a situação elevando o endividamento, mas, se não houver retomada econômica, o problema tende a se agravar, podendo afetar o trabalhador, pela redução do emprego.