quinta-feira, 10 de julho de 2014

Suspeito de integrar quadrilha internacional de cambistas, diretor de empresa ligada à Fifa foge do Copacabana Palace

- O Globo

Agentes disseram que o britânico saiu pela porta dos fundos do Copacabana Palace, acompanhado por seu advogado

 
 
Raymond Whelan, de 64 anos, no momento em que deixava a 18ª DP (Praça da Bandeira) - Fernando Quevedo / Agência O Globo


Policiais civis que estiveram, na tarde desta quinta-feira, no Hotel Copacabana Palace para cumprir mandado de prisão preventiva do ex-diretor-executivo da Match Services Raymond Whelan disseram que o britânico saiu pela porta dos fundos, acompanhado pelo advogado Fernando Fernandes, que negocia agora a apresentação de seus cliente à polícia. Whelan é suspeito de fornecer ingressos da Copa do Mundo para a quadrilha chefiada pelo franco-argelino Mohamadou Lamine Fofana. Whelan e Marcelo Pavão de Carvalho, também apontado como integrante da quadrilha, já são considerados foragidos da Justiça.

A polícia já encaminhou cópia dos mandados de prisão para a Polícia Federal e para a Interpol, para evitar que os dois deixem o país por algum aeroporto.

A prisão preventiva deles e de mais nove envolvidos foi decretada pela Justiça na tarde desta quinta-feira. A Match era a única empresa autorizada a vender ingressos para a Fifa. O titular da delegacia da Praça da Bandeira, Fábio Barucke, determinou que o executivo fosse procurado em cinco locais.

A polícia pedirá as imagens das câmeras de segurança do Copacabana Palace desde o início da Copa do Mundo até esta quinta-feira. A intenção, segundo investigadores, é verificar e confirmar encontros entre Whelan e Fofana. No momento da prisão de Whelan, a polícia apreendeu, na suíte do britânico, uma minuta de contrato entre a Match Services e a Atlanta Sportif - empresa de Fofana. Na minuta, segundo a polícia, está a especificação de valores e de quantos pacotes de ingressos seriam comercializados. A polícia investiga também se existe relação entre o cambista inglês preso Roger Anthony Leigh e o ex-diretor da Match.

O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, defendeu nesta quinta-feira, no Maracanã, durante o briefing diário da Fifa com a imprensa, que a polícia civil do Rio tem o direito de investigar a empresa suíça Match, cujo ex-diretor-executivo Raymond Whelan é acusado de atuar junto a uma máfia de cambistas de ingressos da Copa do Mundo. Perguntado por um jornalista alemão como um integrante do governo se sentia a respeito do comunicado da empresa suíça, classificando a investigação de "arbitrária e ilegal", Rebelo afirmou:

- O Brasil é um país maduro, organizado, com seus poderes constituídos legalmente. A polícia está agindo dentro da lei porque vive sob controle da corregedoria da própria polícia e do ministério público. Portanto, não foi apresentado nenhum fato de que a polícia tenha agido à margem ou acima da lei. O Poder Judiciário pode corrigir qualquer irregularidade. Não sei por que razão a empresa atribui à polícia qualquer ato de ilegalidade - afirmou Aldo.

O promotor Marcos Kac, da 9ª Promotoria de Investigação Penal, disse na manhã desta quinta-feira que está analisando o inquérito que apura a ação da quadrilha para fornecer eventual denúncia dos 12 acusados. O promotor acrescentou que está lendo o inquérito, concluído na quarta-feira, pelo delegado da 18º DP (Praça da Bandeira), Fábio Barucke, e já identificou os crimes de cambismo, organização criminosa, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. Se for caracterizado no inquérito o crime de evasão de divisas, cuja a competência de atuação é do Ministério Público federal e da Polícia Federal, ele vai encaminhar cópias desse inquérito para esses órgãos.

O delegado Fábio Barucke entregou na quarta-feira ao MP o relatório do inquérito que investiga a ação de uma quadrilha internacional de cambistas que esperava lucrar mais de R$ 200 milhões neste mundial. Além do britânico Raymond Whelan, diretor executivo do escritório de acomodações da Match Services junto à Fifa no Rio, foram indiciados o franco-argelino Mohamadou Lamine Fofana, apontado como o chefe da quadrilha, e outros dez suspeitos, todos brasileiros. No relatório, o delegado pede a prisão preventiva de 11 acusados. Ficou de fora o advogado paulista José Massih, que teria indicado a participação de Whelan no esquema. O promotor Marcos Kac terá agora cinco dias para oferecer denúncia à Justiça.

Marcos Kac tem cinco dias para decidir se vai ou não denunciar 12 acusados de envolvimento no esquema internacional. Nesta quinta-feira termina o prazo da prisão temporária dos dez presos na operação Operação Jules Rimet, deflagrada no dia 1 º de julho com o cumprimento de 20 mandados de busca e apreensão. Além de Whelan, que recebeu um habeas corpus 12 horas depois de ser preso, outro acusado, Marcelo Pavão, também recebeu o benefício e foi solto mediante fiança de R$ 4 mil.

As decisões foram proferidas pela desembargadora Marília de Castro Neves Vieira. Todos os outros acusados estão presos no Complexo de Gericinó, em Bangu. Se a denúncia for aceita pela Justiça, eles responderão por crimes como cambismo, associação criminosa e lavagem de dinheiro.