Blog Reinaldo Azevedo - Veja
A arrogância do PT o impede de ver o que está em curso em São Paulo e, em certa medida, no Brasil. Cá comigo, acho muito bom. As virtudes futuras da democracia brasileira são inversamente proporcionais ao crescimento do partido. Vamos ver. O partido não se conforma que o candidato do PMDB ao governo do Estado, Paulo Skaf, queira guardar prudente distância da candidatura à reeleição de Dilma Rousseff. Mais amplamente, ele não quer que seu nome se contamine com o petismo. Neste domingo, informa Natuza Nery, na Folha, chefões petistas resolveram criticar abertamente Skaf, o que vinham fazendo apenas nos bastidores.
O deputado estadual Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma, classificou o peemedebista de “ingênuo ou mal orientado”. O prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, coordenador da campanha da presidente em São Paulo, também se manifestou. Referindo-se à posição de Skaf, afirmou: “Acho que é um grande erro. Um erro de análise. Ele vai arcar com as consequências do erro”.
Com o petista Alexandre Padilha congelado nos 4%, Edinho teme um desastre das forças governistas no Estado: “Como a eleição em São Paulo é muito nacionalizada, quem ficar de fora da polarização terá a votação desidratada. Isso, para nós, é ruim, pois o esvaziamento dele pode inviabilizar o segundo turno”. No mais recente Datafolha, o tucano Geraldo Alckmin seria reeleito com 54% dos votos.
Skaf, no entanto, segue indiferente aos apelos. E, tudo indica, do seu ponto de vista, a posição faz sentido. Segundo o mesmo Datafolha, 47% dos entrevistados consideram que o prefeito Fernando Haddad faz uma gestão ruim ou péssima. Esse também é o percentual de rejeição a Dilma no Estado de São Paulo. Num eventual segundo turno, a presidente perde para Aécio no Estado por 50% a 31%. Colar-se ao PT, em São Paulo, pode significar aumento da rejeição.
De resto, não é preciso ser muito sagaz para perceber que Skaf mobiliza um eleitorado, vamos dizer, conservador. Em termos de distribuição espacial da ideologia, a sua pregação fica à direita da do próprio Geraldo Alckmin. E não é uma estratégia burra, não! Eu diria até que é a estratégia possível. Por que ele se ligaria ao PT num momento em que o partido enfrenta a maior rejeição no Estado e na cidade, desde a sua ascensão ao poder federal, em 2003? Goste-se ou não de Skaf, idiota, ele não é.
Há mais uma questão relevante. Esta não é a última eleição que Skaf vai disputar, não é mesmo? Ainda que seja derrotado agora, vem a guerra pela Prefeitura da Capital em 2016. O grande eleitor do próximo pleito, tudo indica, será mesmo Fernando Haddad! Quem quer que encarne o antipetismo com mais credibilidade tenderá a se eleger. Dilma vai fazer campanha para Padilha, ao lado de Lula. Por que o peemedebista criaria facilidades para a petista, o que o transformaria numa espécie de mero esbirro dos companheiros, inviabilizando suas ambições futuras? Não faz sentido.
Por enquanto, entre os aliados de Skaf, o único que mostra disposição de se engajar na reeleição de Dilma é mesmo o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), candidato a senador na chapa. Ele já exibiu para a imprensa adesivos de seu material da campanha, com o nome da presidente em destaque, junto com o de Skaf. Será que isso ajuda a diminuir a rejeição à petista em São Paulo? Tendo a acreditar que não.