
Fonte: The Economist
A revista britânica The Economist desta semana vem com uma reportagem sobre o nosso fiasco futebolístico. Se da primeira vez que o Brasil foi sede de uma Copa do Mundo, em 1950, sofremos uma derrota para o Uruguai na final e isso foi considerado, à época, uma “catástrofe nacional” ou nossa “Hiroshima”, então desta vez a humilhante derrota para a Alemanha poderia ser vista como o nosso “Armageddon”.
Talvez pelo fato de o Brasil não ter uma Hiroshima real para temer, sendo o Brasil um país que normalmente ficou fora das desgraças das grandes guerras que assolaram o mundo nos últimos séculos, e também por não sofrer terremotos, terrorismo ou tensões étnicas, a identificação com o futebol tem fornecido uma narrativa nacional que funciona como uma espécie de “cola social”, unindo os mais diversos perfis da população.
Essa função do futebol também pode se dever ao fato de que o Brasil não deixou de ser o eterno “país do futuro”, jamais conseguindo realizar seus verdadeiros potenciais. O futebol, então, diz a revista, seria um substituto para essa falta de confiança em nós mesmos. Já que nenhuma outra instituição pode nos fornecer motivo para autoestima perante o mundo, o futebol, do qual somos os pentacampeões, agiria como uma válvula de escape. Na falta de prêmios Nobel, temos Pelé e Garrincha!
Quando o Brasil foi o escolhido como anfitrião da Copa de 2014, sete anos atrás, o clima era de euforia. Nossa economia era pujante, graças em boa parte aos ventos favoráveis de fora. Todos estavam encantados com o Brasil, e o então presidente Lula acreditava que o evento seria uma grande oportunidade para o país demonstrar seu potencial dentro e fora dos campos. O mundo todo iria ver o progresso incrível da sétima economia do planeta.
Mas, como lembra a The Economist, o evento ocorreu justamente em uma época em que o clima já havia mudado. A economia patina sem sair do lugar, enquanto a inflação continua bastante elevada. Os gastos de US$ 11 bilhões para construir os estádios ajudaram a fomentar protestos contra os péssimos serviços públicos e as prioridades equivocadas das autoridades. O improviso, nossa marca registrada, fez com que as obras tivessem de ser terminadas a toque de caixa, culminando na queda de um viaduto que matou duas pessoas em Belo Horizonte.
Somando tudo, a revista britânica conclui que o resultado contra a Alemanha acabou com qualquer pretensão que a presidente Dilma tivesse de usar a Copa do Mundo para estimular sua candidatura para as eleições de outubro. Ao mesmo tempo, a revista não acredita que o resultado em si irá ajudar a oposição. O povo terá outras questões em mente daqui a 90 dias quando for votar. Historicamente não há correlação entre o resultado da Copa e o da eleição.
Por um prisma mais profundo, porém, a revista acredita que essa humilhante derrota reforça o humor negativo do país como um todo. E isso é que pode ser perigoso para Dilma. Em um ambiente econômico em que as expectativas já estão bem reduzidas, isso pode contribuir com a deterioração das expectativas ainda mais. O PT, no poder há 12 anos, só pode tentar se segurar no passado diante da falta de esperança da população e o desejo de mudança. Mas os dados econômicos positivos já começaram a se reverter.
O desastre no Mineirão teria mostrado que o futebol brasileiro não é mais uma fonte de confiança nacional. Não adianta construir novos estádios. As autoridades envolvidas no esporte são corruptas e as ligas nacionais são mal administradas. Não dá para viver apenas das glórias passadas. Os brasileiros podem concluir, diz a revista, que precisam de novos gestores e novas ideias, tanto dentro como fora do campo.