domingo, 13 de julho de 2014

A politização completa do Ipea

Blog Rodrigo Constantino - Veja


Marcelo Neri. Fonte: Valor
 
 
Outrora uma entidade respeitada, hoje o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) não passa de um braço governamental a serviço de um partido. O melhor exemplo para ilustrar isso é a abertura de uma única filial fora do Brasil, na Venezuela! E com qual objetivo? Enaltecer o governo daquele país, apesar de toda a tragédia nos campos da economia e da democracia.
 
A mistura que o PT faz entre estado, governo e partido ganha mais um capítulo quando se trata do Ipea. Notícia da Folha de hoje mostra que o instituto vem sendo usado para uma pesquisa ad hoc tentando corroborar com o discurso oficial de redução da desigualdade no país nos últimos anos:
 
Em uma sala “de sigilo” no Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), de acesso restrito a poucos funcionários, dados do IR estão sendo analisados para compor um retrato da elite brasileira e sua fortuna.
 
A discussão sobre desigualdade no mundo, sustentada por um modelo econômico em que os ricos engordam os bolsos a um ritmo maior do que o avanço da atividade econômica, ganhou força neste ano com a publicação do livro “O Capital no Século 21″, de Piketty, fenômeno global de vendas.
Na obra, o economista argumenta que a taxa de retorno do capital excede a taxa de crescimento da economia, beneficiando herdeiros de fortunas. Uma solução seria a adoção de um imposto mundial sobre a riqueza.
 
O Brasil ficou de fora da pesquisa de Piketty, que criticou a falta de transparência do país em relação aos dados do IR. Mesmo assim, o Planalto tem usado a repercussão do livro para defender que o Brasil é exceção no mundo.
 
Agora, o governo procura reunir os dados que faltaram ao francês na tentativa de provar que o discurso oficial está certo. A pesquisa deve ficar pronta antes das eleições, segundo a Folha apurou.
 
Desnecessário dizer que um instituto de pesquisa sério faria o caminho contrário, qual seja, analisar friamente todos os dados disponíveis para ver qual é a conclusão. Pelo que fica claro acima, o governo definiu a conclusão – houve melhoria na questão da desigualdade – e o Ipea entrou em campo na sala do “sigilo” para tentar comprovar, antes das eleições, aquilo que o governo deseja.
 
Ora, sabemos que os números podem ser torturados até que confessem quase qualquer coisa. O próprio Piketty teve alguns dados questionados pelo Financial Times, que mostrou equívocos em sua análise. Mas quando a ideologia entra em confronto com os dados, pior para os dados!
 
Também sabemos, com Roberto Campos, que as estatísticas são como os biquínis: revelam muita coisa, mas escondem o essencial. Partir de um objetivo declarado de encontrar certo resultado para depois iniciar as pesquisas não é algo que nos remeta a uma forma séria de se fazer ciência.
 
Acompanhando o histórico recente do Ipea e do ministro Marcelo Neri, verdadeiro garoto-propaganda da presidente Dilma, lembrando que o Ipea se meteu até em pesquisas “sociais” sobre estupro, cujo resultado foi um fiasco monumental, cabe perguntar: alguém confiará nos resultados dessa pesquisa?
 
É uma pena que o Ipea não goze mais de credibilidade alguma. Mais uma instituição decente de estado que o PT consegue assassinar por seus interesses partidários…