sexta-feira, 2 de maio de 2025

Sílvio Navarro mostra como funciona 'Engrenagem da corrupção' (nos governos Lula/PT - prefeituras, governos estaduais e federal)

Um escândalo bilionário de desvios na Previdência Social atinge em cheio o governo Lula, coloca o alto escalão na berlinda e prova que o PT não consegue manter distância dos cofres públicos




Articulação liderada por Gleisi Hoffmann expõe crise entre Lupi e PT e pode abrir espaço para aliados do Centrão no governo - Foto: Wilson Dias/Agência Bras

Sempre que o PT chega ao poder, um roteiro irremediável se repete no Brasil: a corrupção como método de governança. A engrenagem foi montada desde as primeiras prefeituras, nos anos 1980 e 1990, e ganhou proporções de escândalos sem precedentes com Lula da Silva e Dilma Rousseff. Em 2025, o país agora assiste a desvios bilionários no coração da Previdência Social. 

Desta vez, o novo escândalo não precisou ser batizado com algum apelido aumentativo, como Mensalão e Petrolão, porque não há sofisticação nenhuma. Pelo contrário, é muito simples de compreender, já que o roubo é direto no bolso. O governo Lula 3 nomeou corruptos no comando do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e liberou a farra de sindicatos e associações para descontar dinheiro sem autorização de aposentados e pensionistas a contagotas. 

Ou seja, na maioria dos casos, a mordida de R$ 20, R$ 30, R$ 70 por mês, intitulada “mensalidade associativa”, passou despercebida pelos idosos. O resultado foi o sumiço de R$ 6,3 bilhões, arrancados de ao menos 6 milhões de pessoas. 


Dilma Rousseff é saudada pelo então presidente do PDT, Carlos Lupi (hoje ministro da Previdência), e pelo secretário-geral da legenda, Manoel Dias, na convenção do partido, em 2016 - Foto: José Cruz/Agência Bras

Para descontar a tal mensalidade, os sindicatos precisam, por lei, da autorização expressa dos beneficiários, o que não aconteceu em 97% dos casos, segundo uma amostragem da Controladoria-Geral da União (CGU). A papelada foi falsificada e, num caso que corre na Justiça, foram usadas até fotos de redes sociais para simular biometria — como se o titular tivesse autorizado o débito por meio de uma selfie. 

Os relatórios da CGU mostram que os mais afetados foram moradores de áreas rurais, com dificuldades para acessar a internet ou percorrer  mais de 24 horas em estradas precárias para conseguir chegar a um posto da Previdência Social. Há uma lista de deficientes físicos, que não poderiam se deslocar em barcos, e analfabetos. 

O órgão faz um questionamento óbvio: como o sindicato conseguiu a assinatura de um analfabeto? Há exemplos gritantes de aposentados que pagavam para um sindicato de pescadores, mas disseram que nunca lançaram uma rede ao mar na vida ou pegaram num anzol. 

O deputado gaúcho Marcel van Hattem (Novo) levou uma aposentada à Câmara, sem dinheiro para tratar um câncer, que revelou ter pagado R$ 77 por mês para uma entidade que não tem sede em Brasília. Resta ainda a pergunta: por que aposentados precisam de um sindicato, como a Associação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (AAPB) ou a Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional (AAPEN)? Uma Previdência Social gigantesca como a brasileira não basta para atendê-los? 

O escândalo do INSS é daqueles esquemas típicos do Brasil: tem empresas de fachada, dinheiro escondido em paraíso fiscal, os corruptos ostentam carros e motos de luxo, viagens ao exterior nas redes sociais (Paris, Dubai, Lisboa) e, como é característico da esquerda, os lobistas são conhecidos por apelidos: “Chinelo”, do PDT, ou “Careca do INSS”, por exemplo — coisa de quinta categoria mesmo. O irmão mais velho de Lula, conhecido como “Frei Chico”, é dirigente de uma dessas entidades picaretas. 


José Ferreira da Silva, o “Frei Chico”, irmão de Lula, é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi) | Foto: Reprodução/Redes Sociais

O presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi demitido. Cinco funcionários do alto escalão estão afastados. Mas os tentáculos do esquema ainda estão longe de ser decifrados. Segundo o jornal O Globo, o chefe de gabinete do ministro Carlos Lupi, chamado Marcelo Panella, exigia a contratação de uma consultoria para autorizar as entidades a cobrar dos aposentados. Aqui entra um agravante: Panella é o tesoureiro do PDT; Lupi é o dono do partido


Marcelo Panella (chefe de gabinete de Carlos Lupi), Carlos Lupi (ministro da Previdência), Julio Canelinha (prefeito de Paraíba do Sul) e Alessandro Stefanutto (presidente do INSS)  Foto: Reprodução/Instagram 

Seguindo o modus operandi de Lula, o ministro responsável permanece na cadeira como se nada tivesse acontecido. Lupi foi quem indicou o presidente do INSS e a maior parte da cúpula do órgão. 

O PDT é um partido pequeno, mas que ajuda o PT há décadas — tem 17 deputados, 3 senadores e 151 prefeitos. Lupi tem histórico nas páginas policiais: foi demitido em 2011, na gestão Dilma, porque usou um avião alugado por uma ONG que recebia dinheiro do Ministério do Trabalho, e a imprensa descobriu que ele era funcionário fantasma da Câmara dos Deputados. 

O ministro ainda não explicou por que ignorou uma série de relatórios sobre a roubalheira no INSS desde 2023. No mínimo, pode-se concluir que ele não agiu para estancar os desvios — crime de prevaricação, previsto no artigo 319 do Código Penal. Segundo a Polícia Federal, no ano passado foram seis alertas.

O problema se agravou quando o órgão editou, em março do ano passado, uma instrução normativa (nº 162) que instituiu a assinatura eletrônica e a biometria para autorizar os descontos. Dois meses depois, diante da demora da Dataprev (empresa de tecnologia da Previdência) para conseguir modernizar os cadastros, a Diretoria de Benefícios do INSS atendeu a um pedido para criar uma “solução transitória”. Quem pediu essa solução? O tal Sindicato Nacional dos Aposentados (Sindnapi), cujo vice-presidente é irmão de Lula. 

Esse departamento de benefícios solicitou que fosse autorizada a “assinatura eletrônica avançada e biometria facial, com validação em bases biométricas públicas“. O que isso significa? Que os sindicatos e associações passaram a buscar todos os tipos de fotos ou de assinaturas dos aposentados espalhadas na internet — inclusive em redes sociais. A CGU informou que isso representaria um risco grave de fraudes. Mas ninguém ligou. Lupi nunca negou que sabia. Disse, apenas, que se assustou com o volume de dinheiro (veja o vídeo abaixo).

“No governo, tudo é demorado. Eu sabia o que estava acontecendo, das denúncias. Eu sabia que estava havendo um aumento muito grande [dos descontos nas mensalidades], que precisava fazer uma instrução normativa para acabar com isso, e comecei a me irritar pela demora. Só que o tempo no governo não é o tempo de uma empresa privada.” (Carlos Lupi, em entrevista ao jornal O Globo)

O ministro da Previdência não está sozinho nessa encrenca. Outra notícia chacoalhou Brasília no meio da semana: o Cebap, uma das entidades investigadas pela Polícia Federal, contratou o escritório de Enrique Lewandowski, filho do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, quatro meses antes da operação. Motivo: defender a associação para manter o convênio com o INSS que permite o desconto dos aposentados. O Cebap recebeu R$ 140 milhões. 

Como é possível ter pai e filho na mesma cena de crime? Um como chefe da Polícia Federal e o outro como advogado de uma entidade suspeita? 


Enrique Lewandowski, filho do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski | Foto: Reprodução/LinkedIn 

Brasília é uma festa 

Durante sete anos, a Lava Jato mostrou ao país que o PT e os demais sócios do poder sangraram os cofres públicos onde puderam. O caixa petista virou um propinoduto de tal forma que dois tesoureiros foram presos: Delúbio Soares, do Mensalão, e João Vaccari Neto, do Petrolão. 

De volta ao poder em 2023, o PT tem, pela primeira vez, a imprensa tradicional do seu lado, e a simpatia da imensa maioria dos integrantes do Ministério Público, do Tribunal de Contas da União (TCU), a cúpula aparelhada da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal (STF). Não é exagero afirmar que as denúncias que surgiram no noticiário desde a virada do ano são exceção — mesmo com todas as barreiras, é impossível represar 100% dos trambiques em Brasília. O estouro no INSS é um desses exemplos: há uma enxurrada de denúncias protocoladas na Justiça por cidadãos lesados, alertas internos corriam havia dois anos, e a Polícia Federal não tinha mais como ignorá-los. 

Até agora, contudo, outros esquemas de corrupção — muitas vezes miúdos — seguem sem investigação. O maior deles é o que acontece em Itaipu, a usina binacional na fronteira com o Paraguai. Oeste apresentou um raio X da empresa em sua edição 261. A praga da corrupção também foi tema na edição 264.




A Hidrelétrica de Itaipu opera numa zona cinzenta de fiscalização. Os contratos não passam pelo crivo do TCU pela dupla paternidade. Oconselho de administração tem cinco ministros de Lula, além do diretor-presidente, o ex-deputado petista Enio Verri. O orçamento da empresa destina R$ 9 bilhões para a rubrica “Outros”, que ninguém sabe o que significa. A partir daí, surgem repasses para ONGs petistas, o MST, a construção de um hotel de luxo no Pará e até um programa que destinou mais bolas do que o número de crianças em favelas para recebê-las. 

Esses conselhos de estatais e bancos públicos são uma festa. O jornal O Estado de S. Paulo mostrou na segunda-feira, 28, que a gestão Lula usa os assentos para engordar os salários de aliados. São 323 cadeiras bem remuneradas. No caso de Itaipu, são R$ 34 mil para participar de uma reunião a cada dois meses. Há exemplos de jornalistas da Secretaria de Comunicação (Secom) que integram o conselho fiscal da Caixa Econômica Federal, ou da Empresa Gerencial de Projetos Navais (Emgepron), a companhia do Comando da Marinha para a indústria militar. 

Ou ainda: o que faz a ministra Anielle Franco (Igualdade Racial) na Tupy, uma empresa de metalurgia? Alexandre Padilha, da Saúde, no conselho fiscal do Serviço Social do Comércio (Sesc)? 


Lula (PT); Carlos Lupi, presidente do PDT; e Gleisi Hoffmann, presidente do PT - Foto: Divulgação

O fato é que a fraude no INSS já é o maior escândalo do governo Lula 3 em cifras. Por pouco, o Arrozão, em meio à tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul, não ocuparia esse pódio. A compra de toneladas do cereal, que seria distribuído com a logomarca do governo, contudo, foi abortada pela esculhambação: a empresa vencedora era uma loja de queijos no Amapá. A diferença entre os tantos propinodutos do passado é que a fraude na Previdência pegou na carne, no contracheque do aposentado — ele mesmo conferiu. E ninguém responde nem quando nem como esse dinheiro será devolvido. 

Trata-se de uma história sem desfecho, que bateu à porta do Palácio do Planalto a pouco mais de um ano das eleições — só rifar Carlos Lupi não vai resolver o estrago. Tampouco há como a esquerda culpar Jair Bolsonaro desta vez. É possível que uma CPI seja instalada na Câmara, o que ampliaria a sangria por meses. Mas uma constatação é inequívoca: a engrenagem da corrupção está lá — cedo ou tarde, ela aparece


Memes sobre o escândalo do INSS surgem nas redes sociais - Foto: Reprodução/Redes Sociais 

Sílvio Navarro - Revista Oeste