O objetidio da esquerda brasileira hoje é roubar tudo o que puder ser roubado, dos velhinhos do INSS aos respiradores que não são entregues, das marmitas às obras públicas, e daí ao infinito
O consórcio Lula-STF parece ter instituído no Brasil um novo modo de 'governar', no qual decisões políticas e judiciais caminham de forma concentrada e sem freios - Foto: ShutterstockO Brasil está vivendo hoje uma situação que nunca experimentou — o regime da ditadura meia-boca. É algo inédito em 525 anos de uma história na qual os governos, de todos os tipos e de todas as naturezas, tiveram a obsessão única de governar contra o povo e a favor de si próprios. Não têm coragem para ser uma ditadura de primeira qualidade, como é o caso de uma boa Coreia do Norte ou de uma boa Cuba — ou talvez não consigam chegar lá. Mas, para grande parte dos efeitos práticos, funciona como aquela boa, velha e honesta ditadura que você conhece tão bem.
A única lei que realmente vale é a vontade de quem manda no exército e na polícia, e quem manda não aparece como o clássico Hitler, Fidel Castro ou Luís XV de escola de samba. É uma espécie de “coletivo” de magistrados que não foi eleito por ninguém, como um conselho de pajés de alguma tribo primitiva que morre de medo deles. Já faz seis anos que governam o Brasil.
Essa ditadura marca barbante, que só consegue amarrar o país porque tem diante de si a classe política mais covarde que já se viu por aqui desde o governador-geral Tomé de Sousa, faz cada vez mais questão de se exibir em público no papel do “aqui quem manda é o Supremo”. Não somos mais apenas um “departamento técnico” do Estado, diz o presidente Luís Roberto Barroso, mas, sim, um poder político que se viu forçado a governar o país pela evidente falta de capacidade dos brasileiros, e dos seus representantes eleitos, para governar a si próprios.
Quer dizer: isso é o que o STF acha, e se o STF acha você tem mais é de não amolar, “mané”, senão o Alexandre de Moraes te prende como “golpista”. Em seu último surto de narcisismo patológico e sempre mal-intencionado, o grupinho que manda no tribunal — os outros só fazem número na ponta-esquerda, como diziam os velhos locutores de futebol no tempo em que jogador machucado não podia ser substituído — tomou uma decisão realmente espetacular.
Segundo a Folha de S.Paulo, o STF negociou, e aparentemente acertou, um projeto de lei — sim, nada menos que um projeto de lei — para reduzir as penas selvagens que o ministro Moraes socou nos envolvidos no quebra-quebra do dia 8 de janeiro. Alô, alô? Como assim, cara pálida — quer dizer que agora o STF “negocia” a aprovação de leis com o Congresso Nacional? Isso aí não existe. Nem o STF nem o Congresso, se aquilo que está escrito na Constituição Federal valesse um Rolex paraguaio, têm de “negociar” absolutamente nada entre si.
Fazer e aprovar projetos de lei é tarefa exclusiva do Congresso; o STF tem tanto a ver com isso como tem a ver com as relações entre o seno e o cosseno. O tribunal tem unicamente de julgar as causas levadas até ele; não pode legislar, nem aprovar, nem reprovar, nem “negociar” o que os parlamentares decidem. Mas isto aqui não é mais, há muito tempo, uma democracia. Quem manda é o STF, e o Congresso fica de quatro, dizendo “bate mais em mim, sinhô, bate mais”.
Quer dizer que agora, abertamente, o STF tem de dar sua aprovação prévia às leis apresentadas no Congresso? E se os ministros Moraes e Flávio Dino, que segundo a Folha “concordaram” com o projeto de redução das penas, não tivessem concordado? A lei não sairia? É uma aberração a céu aberto, mais uma, nesse regime de concubinato que está aí. No período de Bolsonaro o STF não deixou o governo governar.
Agora, com Lula — que tirou da cadeia e pôs na Presidência da República —, faz o exato contrário. Governa em consórcio com o PT, Psol, PCdoB e coisas que os valham, num sistema de tchutchucas mútuos. Nos dias pares o STF é tchutchuca do governo Lula. Nos dias ímpares o governo Lula é tchutchuca do STF. No caso, Lula parece ter chegado à conclusão de que 14 anos de prisão para a cabeleireira do batom, e outros atos de demência aberta como esse, não vão lhe render um único e mísero voto. Não aceita a anistia, porque nem a sua religião nem o seu caráter permitem, mas ao mesmo tempo não quer mais ser sócio da ferida na testa que são as sentenças de Moraes.
Também, ao que parece, está se cansando de aplaudir o ministrochefe do STF em tudo e qualquer coisa. O governo veio então com essa história da redução das penas — que vai acabar soltando todo mundo sem a necessidade de votar anistia nenhuma, e perder a votação. O Supremo, no seu dia de tchutchuca, agasalha.
Como é que fica, então? O STF, logo de saída, não queria aceitar nem um minuto na redução da pena de ninguém. Ao contrário, todo mundo ali dentro continua babando na gravata por mais castigo, mais cadeia, mais multa, mais mata-esfola-e-pisa-em-cima para os “golpistas” de Alexandre de Moraes e seus devotos no plenário e na mídia em geral. Mudaram de ideia: o péssimo teve um upgrade para aceitável, pelo jeito e por razões que nem o STF nem Lula vão explicar com clareza. Mas como fica a pregação 100% pétrea e histérica de ambos até agora, jurando que houve, sim, senhor, uma tentativa de golpe armado, que tinham provas “robustas” da culpa de todos os que foram e poderão ser condenados e que dizer o contrário configurava crime de direitismo bolsonarista?
E os editoriais da mídia, afirmando que a anistia é inaceitável, inconcebível e inexplicável? Quer dizer que anistia não pode, mas liberou geral pode? Quer dizer que, no fim das contas, não houve golpe? Não faz nenhum nexo. Mas fazer nexo é a última preocupação do regime. O que vale aqui é a força, não a razão — o mandamento número 1 de todas as ditaduras.
O regime de exceção imposto ao país pelo consórcio que se formou entre o STF e o governo Lula não se baseia em ideologia nenhuma. Falam, é claro, que são guerreiros da distribuição de renda, das “políticas públicas” para acabar com a pobreza e do socialismo em geral. São claramente neuróticos na discurseira “pró-igualdade”, pró-impostos em cima dos “ricos” e pródoutrinas pelas quais homem pode tirar documento com nome de mulher e jogar no time de basquete feminino, ou entrar no banheiro das mulheres. São ferozmente contra a “mudança do clima”, o “racismo” e a classe média — para não falar no agronegócio, nos alimentos industrializados e nas cores verde e amarela, que consideram um símbolo do “fascismo. Têm, talvez mais do que tudo, um ódio sem limites ao proletário que quer melhorar de vida. Mas as “causas” são pura mentira. O que eles querem mesmo é outra coisa.
O objetivo, a estratégia e a raison d’être da esquerda brasileira de hoje não têm nada a ver com a “propriedade coletiva dos bens de produção”, a “mais valia” e os outros contos do vigário básicos do comunismo-raiz. Ninguém ali está interessado em “socialismo”, e muito menos no fim da propriedade privada. O que todos eles querem, de verdade, é roubar tudo o que puder ser roubado neste país, dos velhinhos do INSS aos respiradores que não são entregues, das marmitas às obras públicas que custam dez vezes mais do que o que valem, e daí ao infinito. Os sociólogos têm horror de ouvir essas coisas, mas são os fatos. A esquerda, via Lula, chegou ao governo no Brasil em 2003. Começou a roubar ali e não parou nunca mais, até hoje (Veja a matéria de Silvio Navarro nesta edição).
É para isso que foi montada a ditadura duplex STF-Lula — para meter a mão no Erário, mais do que qualquer outra coisa. A chave de tudo é uma noção de ordem estritamente prática: a corrupção é muito melhor quando tem apoio, parceria e proteção de um regime totalitário, a começar pelos tribunais que decidem quem vai preso e quem fica solto. Sempre se roubou no Brasil, mas o PT e seus parceiros descobriram por conta própria que pode haver dois tipos de corrupção.
Uma coisa é corrupção num sistema onde, de repente, aparece uma Operação Lava Jato e a casa cai, com a gataria gorda indo para o xadrez e a devolução de bilhões em dinheiro roubado. Outra coisa, que muda tudo, é roubar sem perigo de Lava Jatos, ou qualquer coisa que possa colocar em risco a impunidade dos ladrões.
Meter a mão no Tesouro Nacional, então, vira uma atividade mais segura do que ir à missa — e, se uma ditadura for a solução para isso, viva a ditadura. Que tal roubar R$ 6 bilhões metendo a mão do bolso dos aposentados do INSS sem correr risco nenhum — nem o de perder o emprego? É outra vida.
Hoje o grande lema do Estado brasileiro, como o “Ordem e Progresso” da bandeira nacional, é: “Roube que o Supremo Garante”. Há, na verdade, uma jurisprudência inteira e pacífica de proteção à roubalheira. O sujeito consegue provar perante o STF que roubou o Erário? Então está absolvido, e pode receber indenização em dinheiro. Se é ministro, como no caso do assalto do INSS, se segura no cargo. Se é a CBF, tem a proteção e os serviços de advocacia da própria “suprema corte”, como diz Lula. A grande teoria, em resumo, é que “o Estado” precisa cobrar cada vez mais imposto para distribuir o dinheiro arrecadado aos “pobres”. A prática é que privatizam o Estado em benefício próprio e transferem os impostos para o seu bolso, direto.
O modus operandi clássico, como diz a polícia, era passar bilhões de dólares para as empreiteiras de obra e, depois, receber de volta sua parte na forma de propinas. Podia ser, como se inventou no complexo Lula-Dilma, saquear a Petrobras até as portas da falência — ou fazer negócios ruinosos como a compra de refinarias-sucata e de sondas marítimas jamais entregues. Com o súbito terremoto da Lava Jato, que ninguém esperava, e o pega pra capar das delações, confissões e cadeia para os campeões nacionais da ladroagem, o sistema mudou. Antes de mais nada, em primeiríssimo lugar, foi obviamente necessário acabar com a Lava Jato — atingida essa meta, estão tentando dobrar os resultados com uma espécie de “Tesouro Direto”. Para simplificar: tiram R$ 4 milhões do Tesouro, via Correios, e colocam direto do bolso de Gilberto Gil, por exemplo.
Isso é só uma gota no oceano; pense um pouco no oceano inteiro, que vai do roubo dos 6 bi dos aposentados aos 20 bi devolvidos à Odebrecht e irmãos Batista, de leilão de arroz a furto de quentinhas, e daí ao fim do mundo. Estão roubando tanto, mas tanto, que às vezes nem conseguem roubar aquilo tudo que poderiam roubar. Os artistas chapa-branca e amigos de Lula, por exemplo, foram autorizados a meter a mão em quase R$ 17 bilhões, via “Lei Rouanet”, em 2023, mas pegaram só R$ 2,2 bi. Ou seja: não deu para roubar o tanto que o governo queria. O INSS, de novo ele, estava fazendo promoção de um grotesco “adiantamento” sobre os pagamentos dos aposentados — com juro. Só travou porque os próprios bancos reclamaram, já que o dinheiro tinha de ser adiantado por eles mesmos. Acaba sendo uma coisa cômica.
Dá bem para perceber por isso tudo — e por tudo que não foi escrito aqui para não encher a paciência do leitor — que existe uma relação absolutamente carnal entre o fim da Lava Jato, que foi liquidada a pau pelo STF para interromper o combate à corrupção, e a implantação da ditadura-gambiarra que está aí. Do jeito que estava, com os peixes graúdos do PT e magnatas da roubalheira sendo mandados a qualquer momento para o xadrez, não dava para continuar. Foi preciso, para salvar o couro e o bolso de todos, suprimir no Brasil o que diz a lei — e para fazer isso o STF, em parceria com Lula e a esquerda, deu a si próprio os poderes totalitários que mantém até hoje. Os ladrões não petistas, é claro, também se beneficiaram com o acerto, mas não houve objeções. Más companhias e purezas ideológicas não preocupam há muito tempo o “campo progressista”.
O fato, nu e cru, é que a esquerda abandonou o mundo dos trabalhadores e entrou de corpo e alma no mundo encantado dos bens materiais — algo tão curioso quanto seria ver a Igreja Católica abandonar o Credo, a hóstia consagrada e a reza do terço. Basta ver as realidades do dia a dia. Sua grande “causa” do momento é a semana com apenas quatro dias de trabalho — mas quem está gritando por isso não são os operários, e sim os estudantes que não trabalham. Neste Primeiro de Maio que acaba de passar, o governo Lula simplesmente não promoveu nenhum ato público. Não quis repetir o desastre que foi a sua tentativa de comemorar o Dia do Trabalhador no ano passado; em vez de mobilizar a classe operária, Lula e os seus socialistas consomem a vida em conversinhas com Alexandre de Moraes, com os Mottas e Alcolumbres, e com os escroques que roubam sem parar o Erário.
Houve um tempo — alguém ainda se lembra? — em que o grande mandamento da esquerda era: “Trabalhadores de todo o mundo — uni-vos!”. No Brasil da junta STF-Lula a coisa é outra. O que dizem hoje é: “Precisamos estancar a sangria.
J.R. Guzzo - Revista Oeste