O presidente Arthur Lira e comitiva de deputados ao Fórum Jurídico de Lisboa - Foto: Reprodução/Facebook
Os deputados federais gastaram R$ 5,9 milhões com viagens em “missão oficial” ao exterior em 2023. Considerando os voos em jatinhos da Força Aérea Brasileira (FAB), do presidente Arthur Lira, o valor vai para R$ 6,6 milhões. A passagem de um deputado para Toronto, no Canadá, custou R$ 90 mil. Dezenas de deputados incharam as comitivas das viagens do presidente Lula. Em 2022, último ano do governo Bolsonaro, as missões oficiais dos deputados custaram R$ 1,3 milhão.
O preço das passagens para determinados destinos varia muito, por alguns motivos. Das 323 viagens, 28 foram na classe executiva, no valor médio de R$ 32 mil. As quatro mais caras custaram em média R$ 71 mil. A cúpula da Câmara, formada por integrantes da Mesa Diretora, líderes de bancadas e presidentes de comissões têm direito a viajar na classe executiva. Deputados do chamado “baixo clero” podem fazer o upgrade para a executiva e pagar a diferença com a verba para o exercício do mandato – o “Cotão”. Passagens compradas na última hora também têm o preço muito elevado.
Passagens para Nova Iorque, por exemplo, custaram de R$ 3,5 mil a R$ 15 mil. Para Dubai, de R$ 7,6 mil a R$ 76 mil. A viagem do deputado Rodrigo de Castro (União-MG) a Toronto para visita técnica à empresa Vale Metais Básicos, de 18 a 20 de dezembro, custou R$ 99 mil, sendo R$ 89,7 mil com passagem.
As 'missões' mais caras
A viagem mais cara foi para Dubai, nos Emirados Árabes, em dezembro, para participar da Conferência das Nações sobre Mudança do Clima – a COP 28.
Foram pagas 106 diárias no valor de R$ 217 mil e passagens no valor de R$ 419 mil, num gasto total de R$ 635 mil
Só as cinco passagens executivas, no valor médio de R$ 52 mil, somaram R$ 258 mil. A mais cara, do deputado Fábio Macedo (Podemos-MA), chegou a R$ 76,4 mil. Por outro lado, a passagem da deputada Renilce Nicodemos (MDB-PA) para o mesmo evento custou R$ 7,6 mil.
A comitiva de dez deputados, que acompanhou o presidente Arthur Lira a Nova Iorque, em maio, para a Conferência DATAGRO sobre Açúcar e Etanol, do Lide Brazil Investment Forum e do Jantar de Gala do Prêmio "Personalidade do Ano", promovido pela Câmara de Comércio brasileiro-americana, custou R$ 532 mil. Considerando ainda a despesa de R$ 220 mil com o jatinho da FAB, à disposição de Lira, mais os gastos com seguranças e assessores do presidente.
Em setembro, nove deputados participaram, em Nova Iorque, da cerimônia de abertura dos Debates-Gerais da 78ª sessão da Assembleia Geral da ONU. As despesas de viagem ficaram em R$ 110 mil porque apenas dois deputados viajaram em avião de carreira. Os demais faziam parte da comitiva do presidente Lula. Seis deles registraram participação na recepção oferecida à comitiva do Presidente da República na abertura do seminário Brazil on Focus, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
O presidente da Câmara também estava nessa “missão oficial”. Acompanhado por um assessor e um segurança, ele esteve em Nova Iorque de 17 a 21 de setembro. O voo de Lira em jatinho da FAB partiu de Maceió, local da sua residência, no dia 16 à noite. Retornou de Nova Iorque para Brasília no dia 20. Só o deslocamento da aeronave oficial custou R$ 213 mil. As diárias e seguro dos servidores somaram R$ 30 mil.
Lira participou em Nova Iorque de reunião do presidente Lula com empresários e investidores e de jantar oferecido pela Fiesp ao presidente Lula. Participou da sessão de abertura da 78ª sessão da Assembleia Geral da ONU e da recepção ao presidente Lula.
Viagem de R$ 800 mil para Lisboa
A comitiva do presidente Lula em visita oficial a Xangai e Pequim, na China, contou com 14 deputados. Eles viajaram em aeronave oficial, mas as despesas com diárias somaram R$ 108 mil. Nove deputados estiveram na comitiva do presidente Lula a Lisboa em abril. As diárias dos parlamentares custaram R$ 90 mil.
A comitiva de 13 deputados participou de reuniões na sede da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e no parlamento francês, em Paris, de 30 de abril a 6 de maio. A despesa da comitiva chegou a R$ 315 mil, sendo R$ 187 mil com passagens. Quatro deles viajaram na classe executiva, no valor médio de R$ 31 mil. A passagem de Saulo Vianna (União-AM) custou R$ 33 mil. A de Tábata Amaral (PSB-SP) ficou em R$ 8,8 mil.
O Fórum Jurídico de Lisboa, promovido pela Faculdade de Direito de Lisboa e pelo Instituto Brasileiro de Ensino (IDP), criado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, atraiu 21 deputados. As diárias e passagens custaram R$ 434 mil. Mas o jatinho de Lira custou mais de R$ 236 mil. Contando com as despesas dos seguranças e assessores do presidente, a conta para a Câmara, ou seja, para o contribuinte – chegou a R$ 796 mil. Como revelou o blog, a viagem de autoridades do Legislativo, Executivo e Judiciário ao Fórum de Lisboa custou R$ 2,5 milhões aos cofres públicos.
Lúcio Vaz é jornalista e cobre a política em Brasília há 30 anos, revelando mordomias, privilégios, supersalários, desvios de recursos públicos e negociatas nos três poderes. Com passagens por O Globo, Folha de S. Paulo e Correio Braziliense, ganhou os prêmios Embratel e Latinoamericano de Jornalismo Investigativo ao descobrir a Máfia dos Sanguessugas.
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