sábado, 9 de maio de 2020

Segunda cidade mais cara do mundo, Genebra tem fila por comida grátis em meio à pandemia de coronavírus

Voluntários entregam alimentos em Genebra Foto: DENIS BALIBOUSE / REUTERS
Voluntários entregam alimentos em Genebra Foto: DENIS BALIBOUSE / REUTERS


GENEBRA — Mais de mil pessoas fizeram fila neste sábado para receber sacolas de comida grátis em Genebra. O episódio mostrou como a pandemia provocada pelo vírus chinês impactou sobre trabalhadores pobres e imigrantes sem documentos, mesmo na rica Suíça.
Foram entregues cerca de 1.500 kits com itens como queijo e legumes embalados a vácuo, além de biscoitos e achocolatado. A fila para pegá-los começou a se formar por volta das 5h e se estendeu por mais de 1 km. A distribuição foi feita nas instalações de uma pista de patinação no gelo.
— No final do mês, meus bolsos estavam vazios. Temos que pagar as contas, o seguro, tudo — disse Ingrid Berala, uma moradora de Genebra natural da Nicarágua, que trabalha em meio período. — Isso é ótimo, porque há comida para uma semana, uma semana de alívio... Não sei como será a próxima.
No país de quase 8,6 milhões de habitantes, 660 mil pessoas eram consideradas pobres em 2018, segundo a instituição de caridade Caritas, particularmente as famílias monoparentais e aquelas com baixo nível de instrução, que enfrentam dificuldades para encontrar trabalho. Além disso, mais de 1,1 milhão de pessoas estavam em risco de pobreza, o que significa que recebiam menos de 60% da renda média do país, que era de 6.538 francos suíços (R$ 11.500) para um emprego de período integral em 2018.
Kits continham queijo e linguiça entre os alimentos Foto: FABRICE COFFRINI / AFP
Kits continham queijo e linguiça entre os alimentos Foto: FABRICE COFFRINI / AFP
A situação de Genebra se faz ainda mais peculiar pelo seu alto custo de vida. Segundo o banco suíço UBS, trata-se da segunda cidade mais cara do mundo para uma família de três pessoas morar, ficando atrás apenas de Zurique. Embora a renda média também seja alta, isso ajuda pouco para as pessoas que lutam para sobreviver.
— Acho que muita gente está ciente disso, mas é diferente ver isso com seus próprios olhos —  disse Silvana Matromatteo, chefe do grupo humanitário Geneva Solidarity Caravan. —  Tínhamos pessoas chorando, que disseram: 'Não é possível que isso esteja acontecendo no meu país'. Mas aconteceu, e talvez a Covid-19 tenha trazido tudo isso à tona, o que é bom, porque poderemos tomar medidas para apoiar todos esses trabalhadores. Afinal, eles são trabalhadores acima de tudo.
Detalhes das sacolas distribuídas em Genebra Foto: FABRICE COFFRINI / AFP
Detalhes das sacolas distribuídas em Genebra Foto: FABRICE COFFRINI / AFP
Patrick Wieland, chefe de missão do grupo Médicos Sem Fronteiras, disse que uma pesquisa na semana passada mostrou que pouco mais da metade dos receptores de alimentos entrevistados não tem documentos, enquanto outros tinham status legal, eram suíços ou estavam pedindo asilo.
Pouco mais de 3% testaram positivos para o Covid-19, três vezes a taxa geral em Genebra, o que Wieland atribuiu às moradias pobres e superlotadas.
Mais de mil pessoas entraram na fila por alimento em Genebra Foto: DENIS BALIBOUSE / REUTERS
Mais de mil pessoas entraram na fila por alimento em Genebra Foto: DENIS BALIBOUSE / REUTERS
— Em Genebra, uma das cidades mais ricas do mundo, sempre houve pessoas vivendo precariamente, especialmente todas aquelas que trabalham como empregadas domésticas, na agricultura, em canteiros de obras ou em hotéis. Agora, elas se viram sem emprego da noite para o dia por causa da pandemia — afirmou.
Um imigrante que se chama Fernando disse que perdeu o emprego em restaurante durante a crise e ficou sem salário.
— Estou muito grato por receber essa ajuda e, se a situação mudar para mim, estou me comprometendo a fazer o mesmo que eles estão fazendo —  comentou.
Reuters