Gilson Machado defende liberação
de jogo e participação das igrejas
na escolha de locais e lamenta fato
de país ter menos visitantes do que
o elevador da Torre Eiffel
“O Brasil recebe menos turistas por ano do que o elevador da Torre Eiffel [na França].” A triste constatação é do presidente da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), o médico-veterinário Gilson Machado Neto, 51.
Segundo ele, 6 milhões de estrangeiros vêm ao país anualmente, e o elevador da torre mais famosa de Paris recebe 7 milhões de visitantes.
Para Machado Neto, no entanto, ainda há muitos motivos para comemorar. Ele acredita, por exemplo, que o Brasil deveria liberar os cassinos.
Na quarta-feira (27), o presidente Jair Bolsonaro editou uma medida provisória que transformou a Embratur em uma agência federal e aumentou a sua capacidade orçamentária.
O que muda com a transformação da Embratur em agência? Vou ter mais autonomia para contratar e distratar. Vou poder fazer parcerias privadas e vou sair de um patamar de um orçamento de US$ 8 milhões (R$ 33,9 milhões no câmbio atual) para US$ 120 milhões (R$ 508,8 milhões) por ano. Existe um estudo que diz que cada dólar investido em promoção do turismo se transforma em US$ 20,72 em benefícios para a sociedade.
O turismo é uma das poucas atividades que não serão afetadas pela tecnologia, que vai causar desemprego em vários setores menos no turismo. Vai do piloto do avião ao piloto da van, da cozinheira do hotel até a fábrica de ar-condicionado.
O Brasil hoje tem US$ 8 milhões para investir em turismo internacional. A Argentina tem US$ 90 milhões, a Colômbia, US$ 120 milhões, e o México, US$ 400 milhões. O México é mais violento do que o Brasil e recebe 39 milhões de turistas por ano. Nós recebemos 6 milhões.
Quais os projetos do turismo para aquecer a economia? Hoje a gente vê o governo fazendo várias medidas que vão ficar na história. Fui coordenador nacional do grupo temático do turismo, e uma das ideias o presidente já está colocando em prática, que é liberação dos vistos.
Nosso objetivo é a geração de emprego e renda. O governo também está fazendo liberação de capital estrangeiro nas companhias aéreas.
Nosso objetivo é a geração de emprego e renda. O governo também está fazendo liberação de capital estrangeiro nas companhias aéreas.
Outra coisa muito importante é a redução expressiva dos índices de segurança. Diminuíram em 25% os crimes em cases turísticos do Brasil como Jericoacoara, Lençóis Maranhenses, Porto de Galinhas, Pantanal, Cataratas do Iguaçu e Brasília. O índice de violência ao turista na orla de Copacabana é o mesmo de cases internacionais como a França. Nos destinos turísticos, a redução da violência já passa dos 80%. Eu mesmo fui assaltado em Miami há dois anos.
Com relação aos vistos, já é possível mensurar algum impacto? O presidente liberou recentemente o visto para os chineses, e recebemos nesta semana [passada] a notícia de que o Brasil foi eleito o melhor destino potencial de 2019 e 2020 para a China. Além disso, ganhamos a Copa do Mundo do turismo na maior feira sobre o tema, em Londres, a WTM. Ganhamos o Oscar do turismo e fomos eleito o país com maior potencial de crescimento e para fazer bons negócios do mundo, e mesmo depois da crise [com as queimadas] da Amazônia.
Estamos adquirindo confiança do investidor. Eles descobrem que já temos uma estrutura pronta. Temos 40 mil hotéis e apenas 45% de ocupação. Os donos dos hotéis estão com a chave na mão esperando o hóspede.
Existe uma queixa sobre a falta de capacitação do brasileiro? Fazemos uma pesquisa, e 96% dos turistas querem voltar e saem encantados. Sim, precisamos melhorar a capacitação na língua inglesa. Mas estamos desenvolvendo isso em parceria com o Ministério do Turismo e com o Sebrae.
Qual a opinião do senhor sobre a liberação de jogos de azar? Estamos estudando com o Ministério do Turismo, com parlamentares da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Turismo, como os deputados Herculano Passos (MDB-SP), e Marx Beltrão (PSL-AL) e Newton Cardoso Jr (MDB-MG), que é o presidente da comissão de turismo da Câmara, um meio para que o Brasil se adeque a um modelos de desenvolvimento de clusters turísticos.
O que são clusters? São hotéis e resorts integrados com centros de convenções, lojas, arenas de shows e cassinos. O hotel The Venetian Las Vegas, por exemplo, tem 7.200 leitos, mas emprega 11.400 pessoas diretamente. Durante a semana em que eu estive lá, rodaram em uma feira mais de 120 mil pessoas. Outra coisa, um cluster tem arena de show e cerca de 200 lojas.
O projeto prevê um local específico para essa liberação, como é em Las Vegas? Quem tem que escolher é o empresário. Mas tem que ser um projeto feito em conjunto com Congresso, Polícia Federal, Receita Federal e as igrejas eclesiásticas e evangélicas. Sabia que existe cluster com igreja que faz até casamento?
Como evitar a lavagem de dinheiro com o jogo? Um cluster tem que se submeter a compliance [departamento de governança corporativa e combate à corrupção] rigidíssimos e acompanhamento do governo federal. Na verdade, é um meio de combater o jogo ilegal. Cassinos aumentam a arrecadação extra e geram emprego e renda. Com os cassinos, vamos triplicar o número de turistas estrangeiros.
Qual o modelo que o senhor defende? Gosto do que foi feito nos governos de Singapura e Macau. Lá, um hotel com 3.000 leitos, centro de convenções para 50 mil pessoas por semana e arena de shows pode ter um cassino. Não existe um local específico, pode ser no Brasil inteiro.
Grupos americanos já disseram que, se o Brasil liberar os cassinos, terão mais de US$ 15 bilhões [R$ 63 bilhões]para investir aqui. Isso foi dito numa reunião pelo presidente de uma das maiores redes do mundo. Existem poucos locais para cassino no mundo. O Brasil atrairá o turista que gasta.
Quais são os outros projetos para aquecer a economia? Estou lutando por uma zona franca de parques temáticos. Um local que não comporte apenas um. As exigências são que seja em um lugar que tem gente para trabalhar e aeroporto próximo. A ideia é conceder isenção de impostos sobre os produtos para construção e equipamentos, mas não sobre serviços.
E também quero uma política de céus abertos no Mercosul, como é na Europa.
Precisamos transformar o Brasil no paraíso dos cruzeiros. Não temos maremoto, terrorismo, terremoto. Mas precisamos ser um ambiente fértil para os negócios. Por exemplo, no mundo todo os cruzeiros respeitam as normativas mundiais para o trabalho, aqui precisa de CLT. Estamos deixando de ganhar renda.
Bruna Narcizo, Folha de São Paulo