Ibovespa registrou alta pelo 4º ano
seguido, o melhor resultado desde
2016; com aprovação da reforma
da Previdência, expectativa de
melhora da economia e
recuperação das bolsas globais,
analistas projetam valorização de
até 20% em 2020
Com a aprovação da reforma da Previdência e a expectativa de que a economia brasileira passará a ter resultados mais sólidos, a Bolsa engrenou uma alta pelo quarto ano consecutivo e registrou, em 2019, a maior valorização desde 2016. As ações das empresas que integram o Ibovespa (o principal índice da B3) avançaram 31,58% no ano, sem descontar a inflação, e estimativas do mercado apontam que elas devem voltar a subir em 2020, desta vez entre 12% e 21%.
Apesar do bom desempenho no ano, o Ibovespa recuou 0,76% nesta segunda, 30, influenciado pelo mercado internacional, e encerrou o dia em 115,6 mil pontos. Casas como XP Investimentos e Modalmais, porém, projetam que o índice possa chegar a 140 mil pontos em 2020, o que representaria uma alta de 21%. O BTG Pactual e a Genial Investimentos falam, respectivamente, em 134 mil e 135 mil pontos.
“Esperamos que as ações brasileiras continuem em alta em 2020, depois de um desempenho forte por quatro anos consecutivos. Prevemos que a próxima etapa do rali esteja apenas começando e seja apoiada por uma recuperação econômica acelerada”, escreveram, neste mês, os analistas Carlos Sequeira e Osni Carfi, do BTG.
Bancos internacionais também reforçaram suas apostas no mercado acionário brasileiro recentemente. No início de dezembro, o Bank of America, que estima um Ibovespa a 130 mil pontos em 2020, publicou um relatório em que o Brasil aparecia como único país da região com recomendação “overweight” (peso acima do mercado). Algumas semanas antes, o UBS havia elevado a recomendação para investimentos em ações brasileiras de “overweight” para “strong overweight”.
Perspectiva
O descasamento entre o resultado do Ibovespa e a atividade econômica nos últimos três anos ocorre porque os investidores trabalham com perspectivas futuras, lembra Alvaro Bandeira, sócio e economista-chefe do banco Modalmais. “O mercado está operando na expectativa e o quadro é mais positivo daqui para frente”, diz. Segundo Bandeira, as projeções para inflação e juros ainda baixos em 2020, além de um Produto Interno Bruto (PIB) dobrando em relação ao patamar de 2019, favorecem esse cenário positivo na Bolsa.
Com a recuperação econômica prevista para 2020 – o mercado estima alta de 2,3% no PIB, segundo o boletim Focus –, a XP, por exemplo, projeta que o lucro das empresas cresça em média 13% em 2020. O BTG estima alta de 18%.
Para o administrador de investimentos Fábio Colombo, a saída da recessão – ainda que lenta – e a aprovação da reforma da Previdência trouxeram um ânimo novo para os investidores. A subida das bolsas ao redor do mundo, principalmente nos Estados Unidos, também influenciou o avanço do Ibovespa, destaca o analista. Novas altas na Bolsa, diz ele, dependerão da manutenção da agenda de reformas, e algum recuo na bolsa dos Estados Unidos pode ser um risco para o mercado brasileiro.
Empresas
Colombo atribui a maior valorização neste ano na Bolsa brasileira dos papéis de empresas do setor de varejo e do agronegócio ao aumento do consumo e à guerra comercial entre Estados Unidos e China, que elevou a exportação de produtos agrícolas. Entre as empresas cujas ações mais subiram aparecem as varejistas Via Varejo (154,4%) e Magazine Luiza (112,46%). A campeã foi a Qualicorp, do setor de saúde, com um avanço de 243%. Beneficiada pela elevação do preço da proteína e se recuperando dos escândalos de corrupção, a JBS teve alta de 122,6%.
A petroquímica Braskem, que convive com os problemas da recuperação judicial da Odebrecht (uma de suas acionistas, ao lado da Petrobrás), foi a empresa do Ibovespa com o pior desempenho neste ano: as ações caíram 35,22%.
O desempenho da Braskem no mercado acionário foi prejudicado pela notícia de que a holandesa LyondellBasell desistiu, em junho, de comprar a empresa brasileira e pela crise em Alagoas. A Braskem decidiu encerrar a extração de sal-gema (matéria-prima para produzir plástico) em Maceió após ser alvo de ações judiciais que somam quase R$ 40 bilhões.
As atividades da empresa na capital alagoana estariam provocando rachaduras em construções e três bairros estariam afundado. Em nota, a Braskem afirmou estar “mostrando resiliência diante de um cenário internacional desafiador e do ciclo de baixa do mercado petroquímico”