Entre os futuros prefeitos das grandes metrópoles, ninguém gritou ‘golpe!’
Se a votação de 30 de outubro seguir o trilho indicado pelas pesquisas, o seleto grupo de prefeitos agora eleitos para administrar grandes capitais terá representantes em São Paulo (João Dória, PSDB, vencedor já no primeiro turno), Rio de Janeiro (Marcelo Crivella, PRB), Porto Alegre (Marchezan Jr., PSDB) e em outras duas praças onde a disputa está mais equilibrada, o que recomenda considerar os dois resultados possíveis. São elas Belo Horizonte (João Leite, PSDB, ou Alexandre Kalil, PHS) e Curitiba (Ney Leprevost, PSD, ou Rafael Greca, PMN).
É difícil encontrar traços compartilhados por personagens tão díspares quanto um bispo evangélico licenciado e um empresário-lobista, para ficar na ponte aérea Rio-SP. Mas o exercício reverso — identificar o que eles não são nem fizeram — permite dizer algo sobre o novo Clube dos Cinco.
Nenhum deles gritou “golpe!” ou simplesmente se posicionou contra o impeachment. O segundo turno deverá não apenas confirmar o cenário de terra arrasada para o PT e as esquerdas em geral, como dar impulso a Michel Temer e sua agenda de reformas pró-mercado. Ao presidente restará agir depressa, porque o tabuleiro será remexido à medida que a Lava Jato avançar e 2018 se aproximar.
Não há também quem tenha se autoproclamado representante dos pobres, na contramão dos antecessores. Fernando Haddad (PT, São Paulo), Eduardo Paes (PMDB, Rio), Márcio Lacerda (PSB, BH), José Fortunati (PDT, Porto Alegre) e Gustavo Fruet (PDT, Curitiba): em 2012, para eleição ou reeleição, todos se apresentaram como candidatos do campo vermelho.
Sinal dos tempos: à exceção de Fortunati, que conclui o segundo mandato e ao menos emplacou o vice na etapa final da disputa, os demais colheram derrotas humilhantes.
Tampouco algum integrante do novo clube esteve nas manifestações de 2013 ou personifica aquele espírito contestatório. Leprevost, o caçula, tem 42 anos. É político profissional há 20.
Mas uma queixa das ruas foi acolhida e trabalhada por todos: a reprovação dos serviços públicos. Daí a repetição exaustiva, nas campanhas municipais, de mantras como gestão, eficiência e produtividade. Segundo o prefeito eleito de São Paulo, ao eleitor não interessa se o político é de esquerda, centro ou direita, mas se consegue fazer "o governo funcionar".
O foco na melhoria do atendimento, e não mais na criação ou extensão de políticas sociais, pretende ser a marca de Dória & Co.
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Memória da urna: o Clube dos Cinco não terá mulheres (única a triunfar em capitais, a peemedebista Teresa Surita cumprirá o quinto mandato em Boa Vista). Nem pardos nem pretos (53% da população brasileira, 29% dos prefeitos eleitos neste ano, tudo indica que nenhum em capital)